PREFÁCIO

 
Uma Rosa Branca - Para os Sacerdotes
Caros Ministros do Altíssimo, vocês são meus companheiros sacerdotes que pregam a verdade de Deus e ensinam o Evangelho a todas as nações. Deixem-me oferecer-lhes este pequeno livro como uma rosa branca, que eu gostaria que conservassem. As verdades nele contidas são apresentadas de maneira simples e direta, como vocês poderão observar. Por favor, mantenham-nas em seus corações, a fim de que se habituem ao uso do Rosário e promovam seus frutos; e, por favor, tenham-nas sempre em seus lábios também, para que possam pregar o Rosário e assim converter outros por meio do ensino das excelências desta santa devoção.
Peço que estejam atentos, a fim de que não pensem que o Rosário é de pouca importância, como afirmam os ignorantes e alguns grandes intelectuais orgulhosos. Longe de ser insignificante, o Rosário é um tesouro de valor incalculável e inspirado por Deus.
Deus Todo-Poderoso o deu porque quer que vocês o rezem como meio de converter os pecadores mais endurecidos e os hereges mais obstinados. Com a devoção do Rosário, obtêm-se graças para esta vida e glória para a eterna. São os santos que o dizem, e os papas o confirmam.
Quando o Espírito Santo revela esse segredo a um sacerdote e diretor de almas, quão bem-aventurado ele se torna! Isso porque a grande maioria das pessoas falha em conhecer esse segredo ou apenas o conhece superficialmente. Se tal sacerdote realmente compreende esse segredo, ele rezará o Rosário todos os dias e aconselhará outros a fazerem o mesmo.
Deus, por sua Santíssima Mãe, derramará abundantes graças em sua alma, a fim de que ele se torne um instrumento para sua glória; e sua palavra, apesar de simples, fará mais bem em um mês do que a de outros pregadores em vários anos.
Portanto, meus queridos irmãos e companheiros sacerdotes, não nos bastará apenas pregar essa devoção aos outros; devemos praticá-la nós mesmos. Mesmo que acreditemos firmemente na importância do Santo Rosário, se nós mesmos não o rezarmos, dificilmente se poderá esperar que as pessoas sigam o nosso conselho, pois ninguém pode dar aquilo que não tem: “Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar” (At 1,1). Devemos, nós mesmos, empenhar-nos em imitar nosso Senhor Jesus Cristo, que praticava o que ensinava. Devemos imitar São Paulo, que conhecia e pregava nada mais que Jesus Crucificado. Isso é o que você real e verdadeiramente estará fazendo ao pregar o Santo Rosário. Não se trata apenas de uma sucessão de Pai-Nossos e Ave-Marias, mas, ao contrário, é um sumário divino dos mistérios da vida, paixão, morte e glória de Jesus e Maria.
Eu poderia contar-lhes mais longamente sobre as graças que Deus me concedeu ao conhecer, pela experiência, a eficácia da pregação do Santo Rosário e de como tenho visto, com meus próprios olhos, as maravilhosas conversões que ele suscitou. De bom grado eu lhes contaria todas essas histórias, se achasse que elas os motivariam a pregar essa bela devoção, mesmo considerando que muitos sacerdotes hoje em dia não têm o hábito de rezá-lo. Mas, além de tudo isso, penso que este pequeno sumário será suficiente se lhes contar algumas histórias antiquíssimas, porém autênticas, sobre o Santíssimo Rosário.
 
Uma Rosa Vermelha - Para os Pecadores
Pobres homens e mulheres que são pecadores! Eu, mais pecador do que vocês, desejo oferecer-lhes esta rosa vermelha, porque o Preciosíssimo Sangue de nosso Senhor caiu sobre ela. Agrademos a Deus, a fim de que Ele traga verdadeira fragrância às suas vidas e, acima de tudo, para salvá-los dos perigos que enfrentam todos os dias, especialmente os que não creem, não se arrependem e não choram: “Deixemo-nos coroar com rosas” (Sb 2,8). Mas nossa lamentação deveria ser: “Deixemo-nos coroar com as rosas do Santíssimo Rosário”.
Quão diferentes são as suas rosas das nossas! As suas rosas são os prazeres da carne, as honras mundanas e as riquezas passageiras, que mancham e corrompem em pouco tempo; mas as nossas, que são o Pai-Nosso e a Ave-Maria, rezados com devoção e assiduidade, aos quais acrescentamos bons atos de penitência, nunca murcharão nem desaparecerão, e serão tão belas daqui a milhares de anos como o são hoje.
Ao contrário, as rosas dos pecadores apenas se parecem com rosas, pois, na verdade, são espinhos cruéis que os ferem durante a vida, causando-lhes dores agudas de consciência. Na hora da morte, esses espinhos os transpassam com amargo arrependimento e, pior ainda, na eternidade tornam-se flechas que ardem de raiva e desespero. Mas, se nossas rosas têm espinhos, são os cravos de Jesus Cristo que as transformam em verdadeiras rosas. Se nossas rosas nos ferem, é apenas por um breve tempo e com o propósito de nos curar do pecado e, assim, permitir que Jesus salve nossas almas.
Então, por todos os meios, devemos ansiosamente coroar-nos com essas rosas do Paraíso e rezar o Rosário inteiro a cada dia, ou seja, rezar os três terços, cujas cinco dezenas são como três pequenos diademas ou coroas de flores. Há duas razões para isso: primeiramente, honrar as três coroas de Jesus e Maria — a coroa da graça de Jesus na hora de sua Encarnação, sua coroa de espinhos durante a Paixão e sua coroa de glória nos Céus — e, é claro, a tríplice coroa que a Santíssima Trindade deu a Maria nos Céus.
Em segundo lugar, devemos rezá-lo a fim de que possamos, nós mesmos, receber três coroas de Jesus e Maria: a primeira é uma coroa de méritos durante nossa vida; a segunda, uma coroa de paz na hora da morte; e a terceira, uma coroa de glória no céu.
Se você rezar o Rosário fielmente até a morte, eu lhe asseguro que, apesar da gravidade de seus pecados, “alcançará a incorruptível coroa da glória” (1Pd 5,4). Mesmo que esteja à beira da condenação eterna, mesmo que já tenha um pé no inferno, mesmo que tenha vendido sua alma ao diabo, como fazem os feiticeiros ao praticar a magia negra, e mesmo que seja um herege obstinado, como um demônio, inevitavelmente você se converterá, corrigirá sua vida e Jesus salvará sua alma. Guarde bem o que vou lhe dizer: se você rezar devotamente o Santo Rosário todos os dias até a morte, com o propósito de conhecer a verdade, obterá a graça do arrependimento e o perdão de seus pecados.
Neste livro, há vários relatos de grandes pecadores que se converteram por meio do poder do Santo Rosário. Por favor, leia-os e medite sobre eles.
 
Uma Roseira Mística - Para as Almas Devotas
Boas e devotas almas, que andam na luz do Espírito Santo, creio que vocês não se importarão se eu lhes oferecer esta pequena roseira mística, que vem diretamente dos Céus e deve ser plantada no jardim de suas almas. Ela não prejudicará a fragrância das flores de suas contemplações, pois é uma roseira celestial, e sua fragrância é deliciosa. Quase não perturbará a ordem de seu jardim tão bem cuidado, porque, sendo em si mesma toda pura e bem ordenada, conduz todos à ordem e à pureza. Se for cuidadosamente regada e cultivada todos os dias, crescerá até uma altura maravilhosa, e seus galhos se estenderão tanto que não apenas não perturbará as demais devoções, como também as conservará e as aperfeiçoará.
É claro que você entende o que estou dizendo, pois sois almas espirituais. Esta roseira mística é constituída por Jesus e Maria, com sua vida, morte e eternidade. Suas folhas verdes são os Mistérios Gozosos, os espinhos representam os Mistérios Dolorosos, e as rosas simbolizam os Mistérios Gloriosos de Jesus e Maria. Os botões correspondem à infância de Jesus e Maria; as rosas entreabertas mostram-nos, ambos, em seu sofrimento; e as totalmente abertas revelam Jesus e Maria em sua glória e triunfo. Uma rosa nos alegra por causa de sua formosura: aí estão Jesus e Maria nos Mistérios Gozosos. Seus espinhos são pontiagudos e ferem, o que nos faz lembrar os Mistérios Dolorosos. Por fim, seu perfume é tão suave que todos a amam, e sua fragrância simboliza os Mistérios Gloriosos.
Por favor, não desprezem, portanto, esta roseira maravilhosa e celestial, mas plantem-na com suas próprias mãos no jardim de suas almas, tomando a resolução de rezar o Rosário todos os dias. Cultivem-na e reguem-na, rezando-o diariamente e realizando boas ações, como quem afofa a terra ao seu redor. Com o tempo, vocês contemplarão esta pequena semente que lhes dei, e que agora parece ser insignificante, mas que crescerá e se tornará tão grande quanto uma árvore — tão grande que as aves do Céu, ou seja, as almas predestinadas e contemplativas, nela farão morada e nela edificarão seus ninhos. E o melhor de tudo: alimentar-se-ão dos frutos dessa árvore, que não é outro senão o adorável Jesus, a quem seja dada toda honra e glória para sempre. Amém. Assim seja.
 
Só Deus - Um Botão de Rosa - Para as Crianças
Queridos amiguinhos, ofereço-lhes este belo botão de rosa: uma das contas de seu Rosário, que talvez lhes pareça tão insignificante. Mas, se vocês soubessem quão preciosa é essa conta! Este maravilhoso botão se abrirá em uma espetacular rosa, caso vocês rezem suas Ave-Marias com devoção.
Seria muito esperar que vocês rezassem os quinze mistérios todos os dias, mas que ao menos rezem cinco mistérios, e os façam com o devido amor e devoção. Este Rosário será seu pequeno diadema de rosas, sua coroa para Jesus e Maria. Mas, por favor, prestem atenção em cada palavra que eu disse e ouçam cuidadosamente uma história verídica que vou lhes contar, na esperança de que sempre se lembrem dela.
Duas meninas (duas irmãzinhas) rezavam muito belamente o Rosário, com devoção, em frente de sua casa. De repente, uma linda Senhora apareceu e se dirigiu à mais nova, que tinha apenas seis ou sete anos, pegou-a pela mão e a levou embora. Sua irmã mais velha ficou pasmada e começou a procurar a pequena por toda parte. Por fim, não a encontrando, voltou para casa e, comovida, contou aos pais que sua irmã havia sido raptada. Durante três dias inteiros, os pobres pais procuraram a criança, mas não conseguiram encontrá-la
Ao fim do terceiro dia, eles a encontraram na porta da frente, extremamente alegre e feliz. Naturalmente, perguntaram-lhe onde havia estado, e ela lhes disse que a Senhora a quem rezava o Rosário a havia levado a um lugar maravilhoso, onde comeu coisas deliciosas. Disse que a Senhora também lhe deu um bebezinho para segurar, que Ele era belíssimo e que ela o havia beijado várias e várias vezes.
Os pais, que haviam se convertido à fé católica há pouco tempo, pediram para ver o padre jesuíta que os havia instruído em sua entrada na Igreja e lhes havia ensinado a devoção ao Santíssimo Rosário. Contaram-lhe tudo o que havia acontecido, e foi esse próprio sacerdote quem me relatou esta história, ocorrida no Paraguai.
Então, queridas crianças, imitem essas duas meninas e rezem seu Rosário todos os dias, como elas sempre o fizeram. Se o fizerem, vocês adquirirão o direito de ir ao Céu para ver Jesus e Maria. Se não for da vontade d'Ele que vocês os vejam nesta vida, de qualquer forma, depois que morrerem, vocês os verão na eternidade. Amém. Assim seja.
Então, queridas crianças, imitem essas duas meninas e rezem seu Rosário todos os dias, como elas sempre o fizeram. Se o fizerem, vocês adquirirão o direito de ir ao Céu para ver Jesus e Maria. Se não for da vontade d'Ele que vocês os vejam nesta vida, de qualquer forma, depois que morrerem, vocês os verão na eternidade. Amém. Assim seja.
Que todos os homens — os estudiosos e os simples, os justos e os pecadores, os poderosos e os humildes — louvem e honrem a Jesus e Maria, dia e noite, por meio da oração do Santíssimo Rosário. “Saudai a Maria, que muito trabalhou entre vós.” (Rm 16,6).
PARTE I - O que é o Rosário

 
Primeira Rosa - As orações do Rosário
O Rosário constitui-se de duas realidades: a oração mental e a oração vocal. No Rosário, a oração mental nada mais é do que a meditação sobre os principais mistérios da vida, morte e glória de Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe. A oração vocal consiste em rezar quinze dezenas de Ave-Marias, cada dezena precedida por um Pai-Nosso, enquanto se medita e contempla as quinze virtudes principais que Jesus e Maria praticaram nos quinze mistérios do Santo Rosário.
Nas cinco primeiras dezenas, devemos honrar Jesus e Maria nos cinco Mistérios Gozosos e meditá-los; nas cinco dezenas seguintes, os Mistérios Dolorosos; e, no terceiro grupo de cinco, os Mistérios Gloriosos. Assim, o Rosário torna-se uma bendita combinação de oração mental e vocal, por meio da qual honramos e aprendemos a imitar os mistérios e as virtudes da vida, paixão, morte e glória de Jesus e Maria.
 
Segunda Rosa - Origem
Desde que o Rosário foi composto, em princípio e em substância, pela Oração de Cristo (Pai-Nosso) e pela Saudação Angélica (Ave-Maria), sem dúvida constitui a primeira devoção dos fiéis e tem sido praticado ao longo dos séculos, desde o tempo dos apóstolos e discípulos até os dias de hoje.
Mas foi somente no ano de 1214 que a Santa Madre Igreja recebeu o Rosário em sua forma atual e segundo o método que usamos hoje. Ele foi dado à Igreja por São Domingos, que o recebeu da Bem-Aventurada Virgem como um meio poderoso de converter os albigenses e outros pecadores.
Vou contar-lhes a história de como ele o recebeu, a qual se encontra no conhecidíssimo livro De Dignitate Psalterii, do Bem-Aventurado Alano de La Roche. (A Importância e Beleza do Santo Rosário, pelo Bem-Aventurado Alano de La Roche, O.P., padre dominicano francês e apóstolo do Santo Rosário)
Vendo São Domingos que a gravidade dos pecados dos homens estava obstruindo a conversão dos albigenses, retirou-se para uma floresta próxima a Tolosa, onde orou incessantemente por três dias e três noites. Durante esse tempo, nada fez além de chorar e praticar duras penitências, a fim de apaziguar a ira do Deus Todo-Poderoso. Submeteu-se a uma disciplina tão drástica que seu corpo ficou dilacerado, e ele acabou caindo em coma.
Nesse momento, Nossa Senhora apareceu-lhe, acompanhada de três anjos, e lhe disse: “Querido Domingos, você sabe de que arma a Santíssima Trindade deseja se servir para mudar o mundo?”
São Domingos respondeu: “Oh, minha Senhora, vós sabeis bem melhor do que eu, pois, depois de vosso Filho Jesus Cristo, vós tendes sido sempre o principal instrumento de nossa salvação.”
Nossa Senhora respondeu-lhe: “Quero que saibas que a principal arma de combate sempre foi o Saltério Angélico, que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Por isso, desejo que alcances essas almas endurecidas e as conquistes para Deus com a oração do meu Saltério.”
Então ele se levantou, muito consolado e inflamado de zelo pela conversão dos homens daquele distrito, e dirigiu-se diretamente à catedral. Imediatamente, anjos invisíveis tocaram os sinos para reunir o povo, e São Domingos começou a pregar. Assim que iniciou seu sermão, desencadeou-se uma terrível tempestade: a terra tremeu, o sol escureceu, e houve tantos trovões e relâmpagos que todos ficaram tomados de grande temor.
O medo aumentou ainda mais quando olharam para a imagem de Nossa Senhora, exposta em lugar de destaque, e a viram levantar os braços em direção aos céus, por três vezes, como se intercedesse para conter a vingança de Deus contra eles, caso não se convertessem, não corrigissem suas vidas e não buscassem a proteção da Santa Mãe de Deus.
Deus quis, por meio desses fenômenos sobrenaturais, espalhar a nova devoção do Santo Rosário e fazer com que ela fosse mais amplamente divulgada.
Por fim, graças à oração de São Domingos, a tempestade cessou, e ele pôde continuar a pregação. Foi tão grande o fervor e o entusiasmo com que explicou a importância e o valor do Santo Rosário, que quase todas as pessoas de Tolosa o abraçaram, renunciando às falsas crenças. Em pouco tempo, uma grande transformação foi percebida na vila, e as pessoas começaram a converter-se e a viver uma vida cristã.
 
Terceira Rosa - São Domingos
Esse modo milagroso pelo qual a devoção do Santo Rosário foi estabelecida guarda certa semelhança com a forma como Deus se serviu ao promulgar sua Lei ao mundo, no Monte Sinai, e certamente comprova seu valor e importância.
São Domingos, iluminado pelo Espírito Santo e instruído pela Santíssima Virgem, bem como por suas próprias experiências, pregou o Santo Rosário até o fim de sua vida. Ele o pregava por meio de seu exemplo e também em seus sermões, tanto nas cidades quanto nos lugarejos, diante de grandes e pequenos, sábios e ignorantes, católicos e hereges.
O Santo Rosário, que ele rezava diariamente, era sua preparação para cada sermão e sua ação de graças a Nossa Senhora imediatamente após as pregações.
Certa vez, ele deveria pregar na Catedral de Notre-Dame de Paris, no dia da festa de São João Evangelista. Encontrava-se em uma pequena capela, atrás do altar-mor, preparando-se em oração para o sermão, como de costume, quando Nossa Senhora lhe apareceu e disse: “Domingos, mesmo que aquilo que preparaste para pregar seja muito bom, estou te dando um sermão muito melhor.”
São Domingos pegou em suas mãos o livro que Nossa Senhora lhe entregara, leu o sermão cuidadosamente e, quando o compreendeu e meditou sobre ele, deu graças à Santíssima Mãe.
Quando chegou a hora, ele subiu ao púlpito e, apesar de ser um dia de festa, não fez menção a São João, exceto ao dizer que ele fora digno de ser guardião da Rainha dos Céus. A assembleia era composta por teólogos e outras pessoas eminentes, acostumadas a ouvir discursos sábios e elegantes. Mas São Domingos lhes disse que não desejava dirigir-lhes palavras cultas, sábias aos olhos humanos, mas que falaria na simplicidade do Espírito Santo e em sua virtude.
Então, ele começou a pregar sobre o Santo Rosário e explicou a Ave Maria, palavra por palavra, como se estivesse falando a um grupo de crianças, utilizando-se das ilustrações simples contidas no livro que Nossa Senhora lhe dera.
Cartagena, o grande estudioso, citando o Bem-Aventurado Alano de La Roche em De Dignitate Psalterii, descreve o seguinte:
O Bem-Aventurado Alano escreve que, um dia, São Domingos lhe apareceu em uma visão e lhe disse: “Meu filho, é bom pregar, mas há sempre o perigo de se buscar mais a eloquência do que a salvação das almas.”
Alano, ouça cuidadosamente o que me aconteceu em Paris, a fim de que você fique prevenido contra esse tipo de engano: Eu pregava na grande igreja dedicada à Virgem Maria e estava ansioso por fazer um grande sermão — não por orgulho, mas por causa da alta intelectualidade da assistência. Uma hora antes da minha pregação, encontrava-me em recolhimento, rezando meu Rosário, como sempre fazia antes de pregar. Então, caí em êxtase. Vi minha amada amiga, a Mãe de Deus, dirigindo-se a mim com um livro na mão. Ela me disse: “Domingos, o sermão que você preparou para hoje está realmente muito bom; entretanto, o que trago para você é bem melhor.”
Certamente, fiquei maravilhado. Peguei o livro e li cada palavra. Como Nossa Senhora dissera, encontrei exatamente o que deveria dizer em meu sermão. Assim, agradeci a ela de todo o meu coração.
Na hora de começar, vi que a Universidade de Paris comparecera em peso, e também havia um grande número de cavalheiros que vieram ver e ouvir as grandes coisas que o bom Senhor tinha feito por meu intermédio. Então, subi ao púlpito.
Era festa de São João, o apóstolo, mas tudo o que disse sobre ele foi que havia sido considerado digno de ser o guardião da Rainha do Céu. Então, dirigi-me à congregação: “Meus caríssimos e ilustres doutores da Universidade, vocês estão acostumados a ouvir sermões de acordo com seus gostos apurados. Agora, não mais lhes falarei na linguagem da escola da sabedoria humana, mas, ao contrário, falarei na linguagem do Espírito de Deus e de Sua grandiosidade.”
Terminam aqui as narrações do Bem-Aventurado Alano, e Cartagena continua, agora com suas próprias palavras: “São Domingos explicava a Saudação Angélica a eles, usando comparações e exemplos extraídos da simplicidade do dia a dia.”
O Bem-Aventurado Alano, de acordo com Cartagena, menciona outras ocasiões em que Nosso Senhor e Nossa Senhora apareciam a São Domingos, ordenando-lhe e inspirando-o a pregar cada vez mais o Santo Rosário, a fim de salvar os pecadores e converter os hereges.
Em outra passagem, Cartagena diz: O Bem-Aventurado Alano afirmou que Nossa Senhora lhe revelara que, após aparecer a São Domingos, seu divino Filho Jesus também lhe apareceu e disse: “Domingos, eu me comprazo em ver que você não confia em sua própria sabedoria e que, em vez de buscar a vaidade humana, está trabalhando com grande humildade pela salvação das almas.”
Muitos pregadores querem, desde o princípio, pregar de forma ameaçadora contra os piores tipos de pecados, sem perceber que, antes de se administrar um medicamento doloroso, é necessário preparar o doente, colocando-o em uma disposição receptiva, a fim de que possa beneficiar-se por esse meio.
Eis por que, antes de qualquer outra coisa, os sacerdotes devem procurar estimular o amor à oração nos corações das pessoas, especialmente o amor pelo Saltério Angélico (o Rosário). Se ao menos todos eles começassem a rezá-lo e perseverassem nessa oração, Deus, em sua misericórdia, dificilmente deixaria de conceder-lhes sua graça. Por essa razão, quero que você pregue o meu Rosário.”
Em outro lugar, o Bem-Aventurado Alano diz: Todos os sacerdotes rezam uma Ave-Maria com os fiéis antes de pregar o sermão, pedindo pela graça de Deus. Eles assim o fazem por causa da revelação que São Domingos teve de Nossa Senhora. Ela lhe disse, um dia: “Meu filho, não se surpreenda ao ver seus sermões falharem em alcançar o resultado desejado. Você está tentando cultivar uma terra que ainda não foi regada pela chuva. Lembre-se de que, quando Deus quis renovar a face da Terra, Ele enviou primeiro a chuva dos céus — e essa foi uma Saudação Angélica. Dessa forma, Deus recriou o mundo. Exorta, pois, as pessoas, quando pregares um sermão, a rezarem o Rosário, pois, assim fazendo, suas palavras darão fruto às suas almas.”
São Domingos não hesitou em obedecer e, a partir de então, exerceu grande influência por meio de seus sermões.
Essa última referência é do Livro dos Milagres do Santo Rosário (escrito em italiano) e também é encontrada nas obras de Justino (143.º sermão).
Fico feliz por poder citar esses bem conhecidos escritores palavra por palavra em seu original, em latim, para o benefício de algum sacerdote ou outra pessoa instruída que possa ter dúvidas quanto aos poderes maravilhosos do Santo Rosário. (N.T. – Omitimos as citações em latim a fim de não dificultarmos a leitura do texto. As mesmas referências encontram-se acima, em português.)
Enquanto os sacerdotes seguiam o exemplo de São Domingos e pregavam a devoção ao Santo Rosário, a piedade e o fervor transbordavam por todo o mundo cristão, inclusive nas ordens religiosas devotadas ao Rosário. No entanto, desde que os fiéis começaram a negligenciar essa dádiva do Céu, toda espécie de pecados e desordem tem se espalhado amplamente.
 
Quarta Rosa - Bem-Aventurado Alano de la Roche
Todas as coisas, até mesmo as mais santas, estão sujeitas a mudanças, especialmente quando dependem do livre-arbítrio do homem. Não há, portanto, por que estranhar que a Confraria do Santo Rosário tenha mantido seu fervor inicial por um século desde sua instituição por São Domingos. Após esse período, parecia ter sido enterrada e esquecida.
Sem dúvida, a maldade e a inveja do diabo também foram amplamente responsáveis por levar as pessoas a negligenciarem o Santo Rosário, bloqueando assim as fontes das graças de Deus que essa devoção atrai ao mundo.
Assim, em 1349, Deus puniu toda a Europa, enviando-lhe a mais terrível peste que jamais se conhecera em qualquer de suas terras. Iniciada no leste, espalhou-se pela Itália, Alemanha, França, Polônia e Hungria, trazendo desolação por onde passou, pois, entre cem homens, dificilmente um sobrevivia para contar o que havia acontecido. Cidades, vilas, arraiais e mosteiros ficaram quase completamente desolados durante os três anos em que a epidemia perdurou.
Esse castigo de Deus foi rapidamente seguido por outros dois: a heresia dos flagelantes e um trágico cisma no ano de 1376.
Mais tarde, quando essas calamidades cessaram, pela misericórdia de Deus, Nossa Senhora pediu ao Bem-Aventurado Alano que reavivasse a antiga Confraria do Santíssimo Rosário. O Bem-Aventurado Alano era um padre dominicano do mosteiro de Dinan, na Bretanha. Era um célebre teólogo, conhecido por seus sermões. Nossa Senhora o escolheu porque, como a Confraria havia sido originalmente fundada nessa província, era apropriado que um dominicano da mesma região tivesse a honra de restabelecê-la.
O Bem-Aventurado Alano iniciou seu nobre trabalho em 1460, após ter recebido os conselhos especiais de Nossa Senhora. Mais tarde, recebeu uma mensagem urgente de Nosso Senhor, conforme ele mesmo relata. Um dia, enquanto celebrava a Missa, Nosso Senhor, desejando motivá-lo a pregar o Santo Rosário, disse-lhe, por meio da Sagrada Hóstia: “Como podes Me crucificar novamente tão depressa?”
Como assim, SENHOR? – Perguntou o Bem-aventurado, horrorizado.
Jesus respondeu: “Tu já Me crucificaste uma vez por teus pecados, e Eu, por minha vontade, seria crucificado novamente a fim de não ver Meu Pai ofendido pelos pecados que cometeste. Estás a Me crucificar de novo agora, porque tens todo o conhecimento e compreensão de que precisas para pregar o Rosário de Minha Mãe, mas não o estás fazendo. Se o tivesses feito, terias ensinado a muitas almas o caminho certo e as terias tirado do pecado. Mas, como não o fazes, tu mesmo és culpado dos pecados que elas cometem.”
Essa terrível reprovação levou o Bem-Aventurado Alano a dedicar-se intensamente à pregação do Rosário.
A Santíssima Virgem disse-lhe também, certa vez, a fim de inspirá-lo a pregar cada vez mais o Santo Rosário: “Tu foste um grande pecador na juventude, mas eu obtive de meu Filho a graça da tua conversão. Se fosse possível, eu mesma teria desejado passar por todos os tipos de sofrimentos para salvar-te, pois a conversão dos pecadores é uma glória para mim. E pedi, também, que fosses digno de pregar o Rosário por toda parte.”
São Domingos também apareceu ao Bem-Aventurado Alano e lhe falou dos grandes resultados de seu apostolado: ele havia pregado o Santo Rosário incessantemente, seus sermões haviam produzido grande fruto, e muitas pessoas se converteram durante suas missões. Ele disse ao Bem-Aventurado Alano: “Vê os maravilhosos resultados que obtive ao pregar o Santo Rosário! Tu e todos os que amam Nossa Senhora devem fazer o mesmo. Por meio do santo exercício do Rosário, atraireis todos à verdadeira ciência das virtudes.”
Isto é, em resumo, o que a história nos ensina acerca do estabelecimento do Santo Rosário por São Domingos e de sua restauração pelo Bem-Aventurado Alano de la Roche.
 
Quinta Rosa - Confraria
Estritamente falando, há apenas uma Confraria do Rosário: aquela cujos membros se comprometem a rezar o Rosário completo — composto de cento e cinquenta Ave-Marias — todos os dias. Porém, ao considerar o fervor dos que o rezam, devemos distinguir três tipos:
– Membros ordinários: aqueles que rezam (e meditam) o Rosário completo uma vez por semana;
– Membros perpétuos: aqueles que se propõem a rezar (e meditar) o Rosário completo uma vez por ano;
– Membros cotidianos: aqueles que prometem rezar o Rosário completo uma vez por dia, ou seja, quinze dezenas, somando cento e cinquenta Ave-Marias e dezesseis Pai-Nossos, meditando nos mistérios. Nenhum dos membros da Confraria do Rosário está vinculado sob pena de pecado. Não se trata, nem mesmo, de pecado venial deixar de cumprir as obrigações, pois seu compromisso é totalmente voluntário e não obrigatório. Contudo, não devem alistar-se na Confraria pessoas que não estejam dispostas a cumprir fielmente o dever de rezar o Rosário quantas vezes forem necessárias, sem, entretanto, negligenciar as obrigações do seu estado de vida.
Sempre que a oração do Rosário coincidir com uma obrigação do estado de vida, deve-se dar preferência ao cumprimento da obrigação, por mais santo que seja o Rosário. Da mesma forma, pessoas enfermas não estão obrigadas a rezar o Rosário, seja por completo ou em parte, se esse esforço as cansar ou agravar seu estado de saúde.
Caso você não possa rezar o Rosário por causa de uma obrigação devida à obediência, por esquecimento involuntário ou por alguma necessidade urgente, não comete pecado, nem mesmo venial. Você continuará a receber os benefícios da Confraria da mesma forma, compartilhando das graças e méritos de seus irmãos e irmãs no Santo Rosário, que o rezam por todo o mundo.
Meus queridos católicos, mesmo que você deixe de rezar o Rosário por pura negligência ou preguiça, desde que não haja desprezo formal por ele, você não comete pecado — ao menos, estritamente falando. No entanto, perde sua participação nas orações, boas obras e méritos da Confraria. Se você não for fiel nas coisas pequenas e voluntárias, quase sem perceber poderá cair no hábito de negligenciar coisas maiores e obrigatórias, o que pode levá-lo ao pecado. Porque — “Aquele que despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá.” (Ecl 19,1)
 
Sexta Rosa - Saltério de Maria
Desde que São Domingos estabeleceu a devoção do Santo Rosário até o tempo em que o Bem-Aventurado Alano de la Roche a restabeleceu, em 1460, ela era chamada de “Saltério de Jesus e Maria”. Isso se deve ao fato de conter o mesmo número de saudações angélicas (Ave-Marias) que os 150 Salmos de Davi. Como as pessoas simples, sem educação formal, não conseguem rezar os Salmos de Davi, o Rosário é considerado tão proveitoso para elas quanto o Saltério de Davi é para os outros.
Contudo, o Rosário pode ser considerado ainda mais valioso que os Salmos por três razões:
1 - Primeiramente, porque o Saltério Angélico possui um fruto mais nobre: o Verbo Encarnado, enquanto o Saltério Davídico apenas O profetiza.
2 - Em segundo lugar, assim como a realidade é mais importante do que a prefiguração, e o corpo mais importante do que a sombra, da mesma forma o Saltério de Nossa Senhora é mais grandioso que o Saltério de Davi, que nada mais fez do que prefigurá-lo;
3 - Em terceiro lugar, porque o Saltério de Nossa Senhora (ou o Rosário, composto de Pai-Nossos e Ave-Marias) é uma obra direta da Santíssima Trindade, e não foi instituído por meio de instrumento humano.
O Saltério de Nossa Senhora, ou Rosário, é dividido em três partes de cinco dezenas cada, por três razões especiais:
1- Honrar as três Pessoas da Santíssima Trindade;
2- Honrar a vida, morte e glória de Jesus Cristo (e de Maria);
3- Imitar a Igreja Triunfante, ajudar os membros da Igreja Militante e aliviar os sofrimentos da Igreja Padecente.
4- Imitar os três grupos nos quais os Salmos são tradicionalmente divididos:
a) O primeiro sendo para a vida purgativa;
b) O segundo para a vida iluminativa
c) O terceiro para a vida unificativa
5- E, finalmente, conceder-nos graças em abundância durante a vida, paz na hora da morte e glória na eternidade.
 
Setima Rosa - Coroa de Rosas
Desde que o Bem-Aventurado Alano de la Roche restabeleceu essa devoção, a voz do povo — que é a voz de Deus — passou a chamá-la de "Rosário". A palavra "rosário" significa “coroa de rosas”, ou seja, toda vez que o povo reza devotamente o Rosário, coloca uma coroa de cento e cinquenta e três rosas vermelhas (cor-de-rosa) e dezesseis rosas brancas sobre as cabeças de Jesus e Maria. Por se tratarem de rosas celestiais, essas rosas nunca murcham, nem perdem sua fragrância e delicada beleza.
Nossa Senhora demonstrou sua total aprovação do nome "Rosário". Ela revelou a várias pessoas que, a cada vez que rezam uma Ave-Maria, oferecem-lhe uma linda rosa, e que, ao rezarem um Rosário completo, presenteiam-na com uma coroa de rosas.
O conhecido jesuíta, Irmão Alfonso Rodríguez, tinha por costume rezar seu Rosário com tanto fervor que, a cada Pai-Nosso, via sair de sua boca uma rosa branca, e, a cada Ave-Maria, uma rosa vermelha. As rosas vermelhas e brancas são igualmente belas e perfumadas, diferindo apenas na cor.
As crônicas de São Francisco relatam que um jovem frade tinha o louvável costume de rezar diariamente o Rosário de Nossa Senhora antes do jantar. Certo dia, por algum motivo desconhecido, deixou de rezá-lo. O sino do refeitório já havia tocado quando ele pediu ao superior permissão para rezar antes de ir à mesa. Obtendo a permissão, recolheu-se à sua cela para fazê-lo.
Após muito tempo de recolhimento, o superior enviou outro frade para chamá-lo. Este o encontrou em seu quarto, banhado por uma luz celestial, contemplando Nossa Senhora, que estava acompanhada de dois anjos. Lindas rosas saíam de sua boca a cada Ave-Maria; os anjos as recolhiam uma a uma e as colocavam na cabeça de Nossa Senhora, que, sorridente, as aceitava.
Finalmente, dois outros frades, enviados para saber o que acontecia com os dois primeiros, também puderam ver a mesma cena bela e admirável. Nossa Senhora não se retirou até que o Rosário fosse rezado por completo.
O Rosário completo é, portanto, uma grande coroa de rosas, e o Terço de cinco dezenas é uma pequena coroa de flores — ou uma pequena coroa de rosas celestiais — que colocamos nas cabeças de Jesus e Maria. A rosa é a rainha das flores, e o Rosário, depois da Santa Missa, é a mais excelente das devoções.
 
Oitava Rosa - As Maravilhas do Rosário
Não me é possível expressar em palavras o quanto Nossa Senhora valoriza o Santo Rosário e o quanto o prefere, imensamente, em relação a todas as outras devoções. Também não consigo descrever adequadamente o quanto ela recompensa aqueles que se empenham em propagar essa devoção, estabelecê-la e divulgá-la, nem, por outro lado, o quanto pune aqueles que trabalham contra ela.
Durante sua vida, São Domingos não tinha em seu coração outro desejo senão louvar Nossa Senhora, pregar sua grandeza e inspirar a todos a honrá-la com a reza do Rosário. Como recompensa, recebeu dela inumeráveis graças. Exercendo seu grande poder como Rainha dos Céus, ela coroou o trabalho de São Domingos com muitos milagres e prodígios. Deus Todo-Poderoso sempre lhe concedeu o que ele pedia por intercessão de Nossa Senhora. A maior de todas as honras foi tê-lo ajudado a vencer a heresia albigense e feito dele o fundador e patriarca de uma grande ordem religiosa.
Quanto ao Bem-Aventurado Alano de la Roche, que restaurou a devoção do Rosário, ele recebeu muitos privilégios de Nossa Senhora. Ela, graciosamente, lhe apareceu muitas vezes para ensiná-lo a trabalhar por sua salvação, tornar-se um bom sacerdote, um perfeito religioso e seguir o exemplo de Nosso Senhor. Ele era terrivelmente tentado e perseguido pelos demônios e, em seguida, costumava cair em profunda tristeza, às vezes chegando perto do desespero. No entanto, Nossa Senhora sempre o consolava com sua presença dócil, que dissipava as nuvens de escuridão de sua alma.
Ela lhe ensinou a rezar o Rosário, explicando seu valor e os frutos que dele se podem obter, e concedeu-lhe um grande e glorioso privilégio: a honra de ser chamado seu novo esposo. Como símbolo de seu amor casto por ele, colocou um anel em seu dedo, um laço feito de seus próprios cabelos em volta de seu pescoço e lhe deu um Rosário.
O abade Tritêmio, assim como os sábios Cartagena e Martinho de Navarra — ambos muito letrados — e outros também, falam dele com grande respeito. O Bem-Aventurado Alano morreu em Zunolle, na Flandres, no dia 8 de setembro de 1475, após ter conseguido que mais de cem mil pessoas ingressassem na Confraria.
O Bem-Aventurado Tomás de São João era famoso por seus sermões sobre o Santíssimo Rosário, e o diabo, invejoso do sucesso que ele obtinha com as almas, o torturou tanto que adoeceu por um longo período, a ponto de os médicos desistirem de curá-lo. Certa noite, acreditando realmente que iria morrer, o diabo lhe apareceu na forma mais terrível imaginável. Havia uma estampa de Nossa Senhora próxima à sua cama; ele olhou para ela e chorou com todo o seu coração, alma e força: “Ajude-me, salve-me, minha doce, doce Mãe!”. Tão logo pronunciou essas palavras, a estampa pareceu ganhar vida, e Nossa Senhora estendeu a mão, segurou-o pelo braço e disse: “Não tenha medo, Tomás, meu filho. Estou aqui para salvá-lo. Levante-se e vá pregar o meu Rosário como costumava fazer antes. Prometo protegê-lo contra seus inimigos.”
Quando Nossa Senhora disse isso, o diabo fugiu, e o Bem-Aventurado Tomás levantou-se, percebendo que estava em perfeita saúde. Então, agradeceu à Santíssima Mãe com lágrimas de alegria e retornou ao apostolado do Rosário. Seus sermões foram, novamente, maravilhosamente bem-sucedidos.
Nossa Senhora abençoa não apenas aqueles que propagam seu Rosário, mas também recompensa copiosamente os que, com seu exemplo, atraem outros a essa devoção.
Alfonso, rei de Leão e da Galícia, desejando que todos os seus servos honrassem a Santíssima Virgem por meio da recitação do Rosário, passou a usar um grande Rosário preso ao cinto. Apesar de usá-lo constantemente, infelizmente nunca o rezava. Contudo, o simples fato de portá-lo motivava toda a corte a rezá-lo com devoção.
Um dia, o rei adoeceu gravemente e, quando todos acreditavam que estava prestes a morrer, caiu em êxtase e viu-se diante do trono de julgamento de Nosso Senhor. Muitos demônios estavam ali para acusá-lo de todos os pecados que havia cometido, e Nosso Senhor, como Juiz Soberano, já se preparava para condená-lo ao Inferno, quando Nossa Senhora apareceu para interceder por ele. Ela pediu uma balança e colocou seus pecados em um dos pratos. No outro prato, Nossa Senhora colocou o Rosário que ele sempre carregava à cintura, juntamente com todos os Rosários que haviam sido rezados por causa de seu exemplo. Viu-se, então, que os Rosários pesavam mais do que seus pecados.
Ao olhá-lo com grande benignidade, Nossa Senhora disse: “Como recompensa por esta pequena honra que você me prestou ao usar o meu Rosário, obtive de meu Filho uma grande graça. Sua vida será prolongada por mais alguns anos. Viva-os sabiamente e faça penitência.”
Quando o rei recobrou a consciência, exclamou: “Bendito seja o Rosário da Santíssima Virgem Maria, pelo qual fui liberto da condenação eterna!”
Após recuperar a saúde, ele dedicou o restante de sua vida à propagação da devoção ao Santo Rosário e passou a rezá-lo fielmente todos os dias.
Os devotos da Santíssima Virgem Maria devem seguir o exemplo do rei Alfonso e dos santos que mencionei, a fim de atrair outras almas para a Confraria do Santo Rosário. Eles receberão grandes graças nesta vida terrena e na vida eterna... “Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.” (Eclo 24,31)
 
Nona Rosa - Inimigos
É algo muito grave — e de fato injusto para com outras almas — impedir o progresso da Confraria do Santo Rosário. Deus Todo-Poderoso tem punido
severamente muitos daqueles que desprezam ou tentam destruir a Confraria.
Mesmo tendo Deus colocado Seu selo de aprovação sobre o Santo Rosário, por meio de muitos milagres — e apesar das várias bulas papais escritas para aprovarem essa devoção — há, ainda hoje, inúmeras pessoas que se opõem ao Santo Rosário. Esses libertinos e difamadores da religião ora
condenam o Rosário, ora tentam afastar seus fiéis da Confraria.
É fácil perceber que essas pessoas absorvem o veneno do inferno e são inspiradas pelo diabo, pois ninguém pode condenar a devoção do Santo Rosário sem, com isso, condenar tudo o que há de mais sagrado na Fé Católica — como a Oração do Senhor (Pai-Nosso), a Saudação Angélica (Ave-Maria) e os mistérios da vida, morte e glória de Jesus Cristo e de Sua Santíssima Mãe.
Esses libertinos, que não suportam ver outros rezando o Rosário, geralmente caem num estado de heresia tão profundo que nem o percebem e passam a odiar o Rosário e seus santos mistérios. Combater as Confrarias é afastar-se de Deus e da verdadeira piedade, pois o próprio Senhor nos prometeu que está sempre no meio daqueles que se reúnem em Seu nome. Nenhum bom católico deveria esquecer-se das grandíssimas indulgências que a Santa Madre Igreja concede às Confrarias. Por fim, dissuadir outros de ingressarem na Confraria do Rosário é tornar-se inimigo das almas, pois o Rosário é um meio seguro de se curar do pecado e abraçar uma vida cristã.
São Boaventura, em seu Saltério, afirmou que aquele que despreza Nossa Senhora perecerá em seus pecados e será condenado: “Aquele que a nega, morrerá em seus pecados.” Se tal é a pena por desprezá-la, quão grande não deverá ser o castigo para aqueles que, de fato, afastam os fiéis de suas devoções?
 
Décima Rosa - Milagres
Enquanto São Domingos pregava o Rosário em Carcassona, um herege ridicularizava os milagres e os quinze mistérios do Santo Rosário, o que fez com que outros hereges deixassem de se converter. Como punição, Deus permitiu que quinze mil demônios entrassem no corpo desse homem.
Seus pais o levaram ao padre Domingos, a fim de livrá-lo dos espíritos malignos. Ele se pôs em oração e pediu que todos os presentes rezassem o Rosário em voz alta. A cada Ave-Maria rezada, Nossa Senhora retirava cem demônios do corpo do herege, os quais saíam em forma de brasas ardentes.
Após ser liberto, ele abjurou seus erros, converteu-se e ingressou na Confraria do Rosário. Muitos daqueles que se relacionavam com ele fizeram o mesmo, profundamente impressionados tanto pelo castigo quanto pelo poder do Rosário.
O sábio Franciscano Cartagena, assim como muitos outros escritores, relata um extraordinário acontecimento ocorrido em 1482: o Venerável Tiago Sprenger e outros religiosos de sua ordem trabalhavam zelosamente para restabelecer a devoção do Santo Rosário e também para erguer uma Confraria na cidade de Colônia.
Por infelicidade, dois sacerdotes, famosos por suas pregações, invejaram a grande influência que aqueles religiosos passaram a exercer por meio da pregação do Rosário. Esses dois padres, então, começaram a falar mal da devoção sempre que podiam. Com sua eloquência e reputação,
conseguiram persuadir muitas pessoas a não ingressarem na Confraria.
Um deles, determinado a alcançar esse fim maligno, escreveu um sermão especial contra o Rosário e planejou pregá-lo no domingo seguinte. Porém, quando chegou a hora do sermão, ele não apareceu. Após alguns minutos de espera, alguém foi procurá-lo e o encontrou morto. Evidentemente, havia morrido sozinho, sem que houvesse alguém para auxiliá-lo e sem a assistência de um padre.
Convencido de que a morte do companheiro fora causada por motivos naturais, o outro sacerdote decidiu levar adiante o plano do amigo e preparou um sermão semelhante para o dia seguinte. Dessa forma, esperava acabar com a Confraria do Rosário. Porém, quando chegou o momento de pregar, Deus o castigou com uma paralisia que o impediu de se mover e de falar. Reconhecendo seu erro, ele admitiu o próprio pecado e o do amigo e, no mais profundo do seu coração, recorreu em silêncio a Nossa Senhora, pedindo-lhe auxílio. Prometeu que, se fosse curado, passaria a pregar o Santo Rosário com o mesmo zelo com que antes o combatia. Implorou à Virgem Santíssima que lhe restituísse a saúde e a fala — e ela o atendeu. Sentindo-se instantaneamente curado, levantou-se como outrora Saulo, o perseguidor que se tornou Paulo, defensor da fé. Publicamente reconheceu seus erros e, a partir de então, passou a pregar com grande zelo e eloquência as maravilhas do Santíssimo Rosário.
Tenho plena certeza de que os libertinos e os indivíduos extremamente críticos de nossos dias questionam a veracidade das histórias relatadas neste pequeno livro, assim como costumam duvidar da maioria das coisas. Entretanto, tudo o que fiz aqui foi buscar tais relatos em escritores contemporâneos de reputação reconhecida, bem como, em parte, em um livro escrito há pouco tempo: A Roseira Mística, do reverendo padre Antonino Thomas, O.P.
Todos sabem que existem três tipos distintos de fé, pelos quais acreditamos em três categorias diferentes de histórias:
Às histórias das Escrituras Sagradas damos fé divina;
Às histórias relacionadas a assuntos não religiosos, que não contrariam o bom senso e que são escritas por autores dignos de crédito, damos fé humana; enquanto...
Às histórias que tratam de assuntos sagrados, contadas por bons escritores e que não contenham nada contrário à razão, à fé ou à moral — mesmo que, por vezes, relatem acontecimentos sobrenaturais — atribuímos o tributo da fé pia.
Concordo que não devemos ser nem ingênuos nem excessivamente críticos, e que devemos lembrar que “a virtude segue o caminho do meio”. Ao mantermos o bom equilíbrio, encontraremos a verdade e a virtude. Por outro lado, sei igualmente que a caridade nos inclina facilmente a crer em tudo aquilo que não é contrário à fé ou à moral: “a caridade... tudo crê” (1Cor 13,7). Da mesma forma, o orgulho nos induz a duvidar até mesmo das histórias mais autênticas, sob a alegação de que não se encontram expressamente na Sagrada Escritura.
Eis uma das armadilhas do diabo: os hereges que, no passado, negavam a Tradição caíram na heresia; e pessoas excessivamente críticas, nos dias de hoje, estão também a cair nela sem sequer perceberem.
Pessoas assim não querem crer naquilo que não conseguem compreender ou que não lhes agrada, simplesmente por causa de seu espírito de orgulho e independência.
 
Décima Primeira Rosa - O Credo
O Credo, ou Símbolo dos Apóstolos, que é rezado no crucifixo do Rosário, é um santo sumário de todas as verdades cristãs. Trata-se de uma oração de grande mérito, pois a fé é a raiz, a base e o princípio de todas as virtudes cristãs, de todas as virtudes eternas e também de todas as orações que são agradáveis a Deus Todo-Poderoso. “Aquele que se aproxima de Deus deve crer...” (Hb 11,6). Qualquer pessoa que deseje ir a Deus deve, antes de tudo, crer; e quanto maior for a fé, maior será o mérito de sua oração — e, quanto mais poderosa ela for, mais glorificará a Deus.
Não irei aqui explicar o Credo palavra por palavra, mas não posso deixar de dizer que as primeiras palavras — “Creio em Deus” — são um meio maravilhosamente eficaz de santificação de nossas almas e de expulsão dos demônios, pois essas palavras contêm os atos das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade.
Foi através destas palavras — “Creio em Deus Pai” — que os santos venceram as tentações, especialmente aquelas contra a fé, a esperança e a caridade, quer as tenham pronunciado durante a vida, quer na hora da morte. Estas também foram as palavras de São Pedro, o Mártir. Um herege, após um golpe cruel de espada, separou a cabeça de São Pedro em duas partes; mesmo assim, o santo, em seu último suspiro, conseguiu escrever na areia: “Creio em Deus Pai”.
O Santo Rosário contém muitos mistérios de Jesus e Maria, e, sendo a fé o único instrumento capaz de nos revelar esses mistérios, devemos iniciar o Rosário rezando o Credo de maneira devota. Quanto mais forte for nossa fé, maior será o mérito de nosso Rosário.
É preciso que essa fé seja viva e animada pela caridade; em outras palavras, para rezar corretamente o Rosário, é necessário estar em estado de graça com Deus, ou, ao menos, em sua busca. Essa fé deve ser forte e constante. Ou seja, não se deve esperar encontrar na oração do Rosário uma devoção sensível ou consolo espiritual, nem se deve deixar de rezá-lo quando a mente estiver cheia de distrações involuntárias, ou quando houver uma sensação estranha e contínua na alma, acompanhada de uma fadiga opressiva no corpo. Nem gosto, nem consolo, nem suspiros, nem arroubos, nem lágrimas, nem mesmo a atenção contínua da imaginação são necessários; a fé e a boa intenção são suficientes. “Basta somente a fé.” (De Pange Lingua)
(São Pedro de Verona, O.P. [1206–1253], foi um sacerdote dominicano que combateu zelosamente e com coragem a heresia. Teve a honra de receber o hábito das mãos do próprio São Domingos. Foi nomeado inquisidor na Lombardia e, ao cumprir suas obrigações, deu sua vida pela fé.)
 
Décima Segunda Rosa - O Pai Nosso
O Pai-Nosso, ou Oração do Senhor, possui um valor imensurável, sobretudo por causa de sua autoria, que não é humana nem angélica, mas do Rei dos anjos e dos homens, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. São Cipriano afirmou que era justo que nosso Senhor, por meio de quem nascemos para a vida da graça, viesse ser nosso Mestre celestial e nos ensinasse a orar.
A bela ordem, a força e a clareza desta oração divina manifestam a sabedoria de nosso Mestre divino. Trata-se de uma oração breve, mas capaz de nos ensinar profundamente, sendo adequada até mesmo para as pessoas analfabetas. Já os estudiosos a veem como uma fonte contínua de meditação sobre os mistérios de nossa fé.
O Pai-Nosso contém os deveres que temos para com Deus, os atos de todas as virtudes e as petições por todas as nossas necessidades espirituais e corporais. Tertuliano afirmou que o Pai-Nosso é o sumário do Novo Testamento. Tomás de Kempis declara que ele supera os desejos de todos os santos; que se trata de uma condensação de todos os belos dizeres dos Salmos e Cânticos; que nele pedimos a Deus tudo de que necessitamos; que, por meio dele, O louvamos da melhor maneira; que, por ele, elevamos nossas almas da Terra aos Céus e nos unimos a Deus.
São João Crisóstomo diz que não podemos ser discípulos de nosso Mestre a não ser que oremos como Ele o fez e da mesma forma que Ele nos ensinou. Ainda mais, Deus Pai ouve com mais disposição a oração que aprendemos de Seu Filho do que aquelas que fazemos por meio de todas as nossas limitações humanas.
Deveríamos dizer o Pai-Nosso com a certeza de que o Pai Eterno nos ouvirá, porque é a oração de Seu Filho, a quem Ele sempre ouve, e nós somos Seus membros. Deus certamente atenderá às nossas petições feitas por meio da Oração do Senhor, porque é impossível imaginar que um Pai tão bondoso recusaria um pedido fundamentado na linguagem de um Filho tão digno, reforçado por Seus méritos e feito por Seu intermédio.
Santo Agostinho diz que, sempre que rezamos o Pai-Nosso devotamente, nossos pecados veniais são perdoados. O justo cai sete vezes por dia, mas, na Oração do Senhor, ele encontrará sete petições que o ajudarão a evitar a queda e o protegerão de seus inimigos espirituais. Nosso Senhor, sabendo o quanto somos fracos e miseráveis, e em quantas dificuldades nos encontramos, fez Sua oração curta e fácil de se rezar, para que a recitemos devotamente e com frequência. Podemos ter certeza de que Deus Todo-Poderoso virá rapidamente em nosso auxílio.
Tenho uma palavra para vocês, almas devotas que prestam pouca atenção à oração que o próprio Filho de Deus nos deu e pediu que todos nós a rezássemos: está na hora de mudar seu jeito de pensar. Você só gosta de orações que os homens escreveram, como se alguém — mesmo o mais inspirado homem de todo o mundo — pudesse, possivelmente, saber mais sobre como devemos orar do que o próprio Jesus Cristo! Você procura orações em livros escritos por outros homens, como se tivesse vergonha de rezar a oração que nosso Senhor nos ensinou.
Você se convenceu de que as orações contidas nesses livros são para estudiosos e para os ricos das classes altas, e que o Rosário é apenas para mulheres, crianças e para as classes baixas — como se as orações e louvores que você tem lido fossem mais bonitos e mais agradáveis a Deus do que aqueles que são encontrados na Oração do Senhor! Trata-se de uma tentação muito perigosa perder o interesse pela oração que nosso Senhor nos deu e, em vez disso, rezar as orações que os homens escreveram.
Não que eu desaprove as orações que os santos escreveram a fim de encorajar os fiéis a louvar a Deus, mas não se deve dar preferência a estas e menosprezar a oração que foi pronunciada pela Sabedoria Encarnada. Se ignoram essa oração, é como se passassem por uma fonte de água cristalina e fossem tomar dela rio abaixo; tendo recusado a água pura, beberam, pelo contrário, da água já contaminada. Porque o Rosário é composto da Oração do Senhor e da Saudação Angélica, trata-se de água pura e que nunca cessa de jorrar, originada da Fonte da Graça, enquanto as orações que procuram nos livros são nada mais que pequenos regos de água criados a partir dessa fonte.
As pessoas que rezam a Oração de Nosso Senhor cuidadosamente, pensando em cada palavra e meditando nela, podem ser chamadas de bem-aventuradas, porque, nessa oração, encontraram tudo o que precisam ou podem vir a desejar.
Quando rezamos esta maravilhosa oração, tocamos o Coração de Deus em seu mais íntimo, pois O chamamos pelo doce nome de Pai, Pai Nosso. Ele é o mais querido dos pais: todo-poderoso em Sua criação, maravilhoso na forma como mantém o mundo, completamente amável em Sua divina providência, sempre bom e infinitamente mais na redenção. Temos Deus como Pai, logo, somos todos irmãos, e o Céu é o nosso lar e nossa herança. Isso deveria ser mais do que suficiente para nos ensinar a amar a Deus e ao nosso próximo, e a nos desapegar das coisas deste mundo.
Assim devemos amar nosso PAI Celeste e dizer-Lhe repetidamente:
PAI Nosso que estais nos céus, que preencheis os Céus e a Terra com a imensidão do vosso Ser, que estais presente em todo lugar, Vós que estais nos santos por vossa glória, no condenado por vossa justiça, no bom por vossa graça, e mesmo nos pecadores por vossa paciência, com a qual vós os tolerais. Faça com que Vos procuremos que possamos nos lembrar que nós viemos de Vós; Faça com que vivamos como vossos verdadeiros filhos devem viver. Dá-nos a graça de que caminhemos para Vós, e nunca desviemos. Faça com que usemos nossa total força, nossos corações, almas e ardor em vossa direção. E para VÓS SOMENTE.
Santificado seja o Vosso Nome: O profeta e rei Davi disse que o nome do Senhor é santo e inspira temor reverencial. Isaías disse que os céus estão sempre a ecoar com os louvores dos serafins, que incessantemente louvam a santidade do Senhor Deus dos Exércitos.
Pedimos aqui que o mundo todo aprenda a conhecer e adorar os atributos de nosso Deus, que é tão grande e santo. Pedimos que Ele seja conhecido, amado e adorado pelos pagãos, turcos, judeus, bárbaros e por todos os infiéis. Que todos os homens possam servi-Lo e glorificá-Lo por meio de uma fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente, através da renúncia a todas as crenças errôneas. Em poucas palavras, que todos os homens sejam santos, como Ele mesmo o É.
Venha o Vosso Reino: Reinai Vós em nossas almas,, por vossa graça, para que após a morte possamos nos encontrar, Para reinar convosco em Vosso Reino, em perfeita e infinda felicidade, Oh SENHOR, nós firmemente cremos, nesta felicidade por vir; Nós cremos e o esperamos, porque DEUS PAI o prometeu em Sua grande bondade para nós foi adquirido pelos méritos de DEUS FILHO e no amor de DEUS ESPÍRITO SANTO que é a Luz, que fez isto ser conhecido por nós.
"Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu": Como Tertuliano diz, esta sentença não expressa, em momento algum, o medo de que as pessoas não estejam cumprindo os desígnios de Deus, pois nada acontece sem que a Divina Providência tenha previsto e disposto previamente, tudo conforme os seus planos. Nenhum obstáculo, em todo o mundo, pode impedir que a vontade de Deus se realize.
Ao contrário, quando dizemos "Seja feita a vossa vontade", estamos pedindo a Deus que nos torne humildes e obedientes a tudo o que Ele nos ordenou nesta vida. Também Lhe pedimos que nos auxilie em todas as coisas e em todo o tempo. Sua santa vontade, que nos foi ensinada pelos mandamentos, deve ser cumprida com a mesma prontidão, amor e constância dos santos e anjos nos céus.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje": Nosso Senhor nos ensinou a pedir a Deus tudo de que precisamos, tanto na ordem espiritual quanto na temporal. Ao pedir pelo pão nosso, reconhecemos humildemente nossa pobreza e insuficiência, e rendemos homenagem ao nosso Deus, sabendo que todos os bens temporais nos vêm de Sua providência divina.
Ao dizermos "pão", estamos pedindo somente aquilo que nos é necessário para viver; e, é claro, isso não inclui o supérfluo.
Pedimos que o pão nosso de cada dia nos seja dado hoje, o que significa que estamos preocupados com o presente, deixando o futuro nas mãos da Providência.
E, ao pedirmos pelo pão nosso de cada dia, reconhecemos que precisamos da ajuda de Deus diariamente e que, por necessidade, dependemos inteiramente d’Ele, de Sua ajuda e proteção.
"Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores": Cada pecado, dizem Santo Agostinho e Tertuliano, é uma dívida que temos para com Deus Todo-Poderoso, e Sua justiça exige o pagamento de tudo até a última parte. Infelizmente, temos essas tristes dívidas. Não importa quantas sejam, devemos ir a Deus em confissão e com verdadeiro pesar por nossos pecados, dizendo: "Pai nosso que estais nos céus, perdoai os nossos pecados de pensamento, e fala, de atos e de omissões, que nos tornam infinitamente culpados aos olhos de vossa divina justiça."
Nós ousamos pedir-Vos isso porque sois nosso amável e misericordioso Pai, e porque esquecemos de perdoar aqueles que nos têm ofendido, desobedecendo-Vos e faltando com a caridade.
"Não nos deixeis cair em tentação": Não permitais que nós, apesar de nossas infidelidades às vossas graças, caiamos nas tentações do mundo, do diabo e da carne.
"Mas livrai-nos do mal": O mal do pecado é também uma punição, tanto temporal quanto eterna, que sabemos, com certeza, merecer.
Amém (Assim seja): Esta palavra, encontrada no fim do Pai-Nosso, é consoladora. São Jerônimo diz que é um tipo de selo de aprovação, uma assinatura que Deus coloca ao fim de nossos pedidos, a fim de assegurar-nos que Ele os atenderá, como se Ele mesmo estivesse respondendo: "Amém! Que seja como você pede, pois você verdadeiramente obterá o que pede." Isso é o que significa a palavra amém.
 
Décima Terceira Rosa - O Pai Noss (continuação)
Cada palavra da Oração do Senhor é uma honra devida às perfeições de Deus. Honramos Sua fecundidade ao chamá-Lo de Pai:
Pai, que por toda a eternidade tiveste um Filho que é Deus como Vós: eterno, consubstancial a Vós, possuindo a mesma essência que Vós, e com o mesmo poder, bondade e sabedoria que Vós tendes... Pai e Filho, de cujo amor mútuo originou-se o Espírito Santo, que é Deus como Vós — três Pessoas, mas um só Deus.
Pai nosso — isso quer dizer que Ele é o Pai da humanidade porque nos criou e continua a nos sustentar, e porque nos redimiu. Ele também é o misericordioso Pai dos pecadores, o Pai que é amigo dos justos e o glorioso Pai dos bem-aventurados nos céus.
Quando dizemos "que estais nos céus", com essas palavras admiramos a infinitude, a imensidão e a plenitude da essência de Deus. Deus é, certamente, chamado de "Eu sou", o que significa que Ele existe por necessidade, essencialmente e eternamente, porque é o Ser dos seres e a causa de todos os seres. Ele possui em Si, de forma supereminente, as perfeições de todos os seres, e está em todos, por Sua essência, Sua presença e Seu poder — mas sem as limitações das criaturas. Honramos Sua sublimidade, glória e majestade com as palavras "que estais nos céus", ou seja, "que estais entronizado, com poder para exercer justiça sobre todos os homens".
Quando dizemos "santificado seja o vosso nome", adoramos a santidade de Deus; e prestamos obediência ao Seu reinado e nos curvamos diante da justiça de Suas leis pelas palavras "venha o vosso Reino", orando para que os homens O obedeçam na terra como os anjos O fazem nos céus.
Ao rogarmos que não nos deixeis cair em tentação, contemplamos Seu grande poder e demonstramos nossa fé em Sua bondade, por meio da esperança de que Ele nos livrará do mal.
O Filho de Deus sempre glorificou Seu Pai por meio de Suas obras, vindo ao mundo para ensinar aos homens a dar-Lhe glória. Mostrou-lhes como louvá-Lo, utilizando esta oração que Ele ensinou com Seus próprios lábios. É nosso dever rezá-la sempre, reverentemente, com atenção e no espírito que nosso Senhor tinha ao ensiná-la.
 
Décima Quarta Rosa - O Pai Nosso (continuação)
Praticamos muitos atos das mais nobres virtudes cristãs ao pronunciarmos estas palavras, ao rezarmos devotamente esta divina oração.
Ao dizer "Pai nosso que estais nos céus", fazemos atos de fé, adoração e humildade. Quando pedimos que Seu nome seja santificado e glorificado, demonstramos um zelo ardente por Sua glória; e, ao pedirmos que Seu Reino se espalhe, praticamos um ato de esperança. Mas, ao desejar que Sua vontade seja feita na terra como no céu, revelamos um espírito de perfeita obediência.
Ao pedir por nosso pão de cada dia, praticamos a pobreza de espírito e o desapego dos bens da terra. Ao rogar a Ele que perdoe nossos pecados, realizamos um ato de arrependimento. E, ao perdoarmos aqueles que nos têm ofendido, damos prova da virtude da misericórdia no mais alto grau.
Por meio da ajuda de Deus em nossas tentações, praticamos atos de humildade, prudência e constância. Ao esperarmos que Ele nos livre do mal, exercitamos a virtude da paciência.
Finalmente, ao pedirmos todas essas coisas, não apenas por nós mesmos, mas também pelo nosso próximo e por todos os membros da Igreja, cumprimos nosso dever como verdadeiros filhos de Deus. E, ao imitá-Lo em Seu amor que abrange todas as pessoas, guardamos o mandamento do amor ao próximo.
Se realmente sentimos no coração o que dizemos com os lábios, e se nossas intenções não estão em desacordo com aquelas expressas na Oração do Senhor, então, ao rezarmos essa oração, odiamos todo pecado e observamos todas as leis de Deus. Pois, sempre que pensamos que Deus está nos céus, infinitamente distante de nós pela grandeza de Sua majestade, e nos colocamos em Sua presença, devemos estar cheios de reverência diante da grandiosidade da majestade divina. Assim, o temor do Senhor nos livrará de todo orgulho, e nos curvaremos diante de Deus em nosso profundo vazio.
Ao dizermos o nome "Pai" e lembrarmos que devemos nossa existência a Deus por meio de nossos pais — e mesmo pelo conhecimento de nossos mestres, que possuem e são imagem viva de Deus —, basta-nos dar-lhes a honra e o respeito devidos, ou, para sermos mais exatos, prestar honra a Deus por intermédio deles. Nada mais deve passar por nossas mentes, pois isso seria uma falta de respeito para com eles, ou até mesmo os feriria.
Nunca estamos tão próximos da blasfêmia quanto no momento em que dizemos "santificado seja o vosso nome", se o fizermos sem sinceridade ou com o coração distante de Deus. Se realmente desejamos o Reino de Deus como prioridade em nossas vidas, devemos nos empenhar em viver de modo que Seu nome seja verdadeiramente santificado por nossas palavras, atitudes e intenções. Se o Reino de Deus é nossa herança, não podemos, de maneira alguma, estar ligados às coisas deste mundo.
Se sinceramente pedimos a Deus que nosso próximo compartilhe da mesma bênção que estamos a pedir para nós, é necessário que deixemos todo ódio, discussões e inveja. E, é claro, se pedimos a Deus diariamente pelo pão nosso, devemos aprender a odiar a gula e a lascívia, que imperam fartamente nos ambientes suntuosos.
Ao pedirmos com sinceridade que Deus nos perdoe assim como temos perdoado aqueles que nos têm ofendido, deixamos de nos deixar levar pela raiva e pelos pensamentos de vingança, pois devolvemos o bem pelo mal e amamos verdadeiramente nossos inimigos. Pedir a Deus que não nos deixe cometer pecado ao sermos tentados é uma prova de que estamos combatendo a preguiça, procurando verdadeiramente extirpar os vícios e batalhando por nossa salvação.
Pedir a Deus que nos livre do mal é demonstrar temor à Sua justiça, e assim obteremos a verdadeira felicidade. Pois o temor de Deus é o princípio da sabedoria, e é por meio dessa virtude que os homens evitam o pecado.
 
Décima Quinta Rosa - A Ave Maria
A Saudação Angélica é tão celestial, tão mística e tão incompreensível em sua profundidade de significado, que o Bem-aventurado Alano de La Roche acreditava que nenhuma criatura humana comum pudesse compreendê-la. Somente Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que nasceu da Santíssima Virgem Maria, pode realmente explicá-la.
Deve-se a sua excelência, em primeiro lugar, a Nossa Senhora, a quem foi dirigida; à finalidade da Encarnação do Verbo, por meio da qual essa oração foi trazida do céu; e também ao Arcanjo Gabriel, que foi o primeiro a pronunciá-la.
A Saudação Angélica é o mais conciso sumário de tudo o que a teologia católica nos ensina a respeito da Virgem Santíssima. Ela se divide em duas partes: uma de louvor e outra de petição. A primeira expressa tudo o que constitui a verdadeira grandeza de Maria; a segunda reúne tudo o que necessitamos pedir a ela e tudo o que podemos esperar receber de sua bondade.
A Santíssima Trindade nos revelou a primeira parte, e a segunda, acrescentada por Santa Isabel, foi inspirada pelo Espírito Santo. A Santa Madre Igreja nos deu a conclusão no ano 430, quando condenou a heresia nestoriana no Concílio de Éfeso e definiu que a Santíssima Virgem é, verdadeiramente, Mãe de Deus. A partir de então, ela nos ordenou que rezássemos a Nossa Senhora por meio de seu glorioso título, dizendo: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.”
O maior evento de toda a história da humanidade foi a Encarnação do Verbo Eterno, por meio da qual o mundo foi redimido e a paz foi restaurada entre Deus e o homem. Nossa Senhora foi escolhida como instrumento para esse extraordinário acontecimento, que se deu quando ela foi saudada com a Saudação Angélica. O Arcanjo Gabriel, um dos príncipes líderes da corte celeste, foi escolhido como embaixador dessa boa nova.
Observa-se, na Saudação Angélica, a fé e a esperança dos patriarcas, dos profetas e dos apóstolos. Além disso, ela dá constância e fortaleza aos mártires; é a sabedoria dos doutores da Igreja, a perseverança dos santos confessores e a vida de todos os religiosos (Bem-aventurado Alano de La Roche). É também um novo hino da Lei da Graça, a alegria dos anjos e dos homens, o hino que amedronta os demônios e os confunde em sua vergonha.
Por meio da Saudação Angélica, Deus se fez homem, uma virgem se tornou Mãe de Deus, e as almas dos justos foram libertadas do Limbo, enchendo, no céu, os tronos que estavam vazios. Além disso, o pecado foi perdoado, a graça nos foi concedida, os doentes foram curados, os mortos ressuscitaram, os exilados foram trazidos de volta ao lar, a ira da Santíssima Trindade foi apaziguada, e os homens obtiveram a vida eterna.
Finalmente, a Saudação Angélica é um arco-íris nos céus, um sinal de misericórdia e graça que Deus concede ao mundo. (Bem-aventurado Alano de La Roche)
 
Décima Sexta Rosa - A Ave Maria e Sua Beleza
Mesmo não havendo nada tão excelso quanto a majestade de Deus, e nada tão desprezível quanto o homem enquanto pecador, Deus Todo-Poderoso não despreza as nossas pobres orações. Ao contrário, Ele Se agrada quando cantamos os Seus louvores.
A saudação de São Gabriel a Nossa Senhora é um dos cânticos mais belos que podemos entoar à glória do Altíssimo. “Eu te cantarei um cântico novo” (Sl 143,9). Este novo cântico, que Davi previu e que deveria ser cantado na vinda do Messias, é precisamente a Saudação Angélica.
Há um cântico antigo e um novo cântico: o antigo é aquele que os judeus cantaram em gratidão a Deus por tê-los criado, sustentado sua existência e livrado do cativeiro, guiando-os em segurança pelo Mar Vermelho, dando-lhes o maná para comer e por todas as outras bênçãos.
O novo cântico é aquele que os cristãos cantam em ação de graças por todas as graças da Encarnação e da Redenção. Como essas maravilhas foram trazidas pela Saudação Angélica, nós a repetimos para agradecer à Santíssima Trindade por sua bondade imensurável para conosco.
Louvamos a Deus Pai porque Ele amou o mundo de tal maneira que nos deu Seu Filho Unigênito como Salvador. Bendizemos o Filho porque Ele se dignou a deixar o céu e vir à terra, pois Ele se fez homem. Glorificamos o Espírito Santo porque Ele formou o corpo puro de nosso Senhor no ventre de Nossa Senhora, este corpo que se tornou vítima por nossos pecados. Neste espírito de profunda gratidão, devemos sempre rezar as Ave-Marias, proclamando atos de fé, esperança, caridade e ações de graças por este dom inestimável da salvação.
Apesar de este novo cântico ser em honra à Mãe de Deus e ser cantado diretamente a ela, indubitavelmente é muito glorioso à Santíssima Trindade, pois os louvores com que honramos Nossa Senhora inevitavelmente se dirigem a Deus, que é a causa de todas as suas virtudes e perfeições. Quando honramos Nossa Senhora, Deus Pai é glorificado, pois estamos honrando a mais perfeita de suas criaturas; Deus Filho é glorificado, pois estamos louvando Sua puríssima Mãe; e Deus Espírito Santo é glorificado, pois ficamos profundamente admirados ao meditar nas graças com que Ele cobriu Sua Esposa.
Quando louvamos e bendizemos Nossa Senhora ao rezarmos a Saudação Angélica (Ave Maria), ela sempre transmite esses louvores a Deus Todo-Poderoso, assim como fez quando foi exaltada por Santa Isabel. Santa Isabel a bendisse por sua elevadíssima dignidade como Mãe de Deus, e Nossa Senhora imediatamente deu louvores a Deus por meio do seu lindo Magnificat.
Assim como a Saudação Angélica glorifica a Santíssima Trindade, é também augustíssimo o louvor que damos a Nossa Senhora.
Um dia, quando Santa Mechtilde estava orando e desejava saber qual era o melhor meio para testemunhar sua terna devoção à Mãe de Deus, ela foi arrebatada em êxtase. Nossa Senhora lhe apareceu com a Saudação Angélica em letras de ouro reluzente sobre o peito e lhe disse: “Minha filha, quero que saibas que não há para mim nada mais agradável do que a saudação que a Santíssima Trindade me enviou e pela qual Ela me elevou à dignidade de Mãe de Deus.”
Pela palavra "Ave", aprendi que, em Seu poder infinito, Deus me preservou de todo o pecado e das consequentes misérias às quais a primeira mulher se viu sujeita. O nome Maria, que quer dizer “Senhora da Luz”, mostra que Deus me preencheu com sabedoria e luz, como uma estrela brilhante, para iluminar os céus e a terra. As palavras "cheia de graça" me lembram que o Espírito Santo me encheu de graças e me capacitou a distribuí-las em abundância àqueles que as pedem por meio de mim, como Mediadora.
“Quando os fiéis rezam O SENHOR é convosco, eles renovam a alegria indescritível que tive quando O VERBO ETERNO se tornou carne em meu ventre”.
“Quando você reza bendita sois vós entre as mulheres, louvo a misericórdia divina de DEUS Todo-Poderoso que me elevou a este excelso plano de felicidade. E nas palavras bendito é o fruto do vosso ventre, JESUS, todo o Céu se alegra comigo ao ver meu FILHO JESUS CRISTO adorado e glorificado por ter salvo a humanidade.”
 
Décima Sétima Rosa - Ave Maria e Seus Frutos
O Bem-aventurado Alano de La Roche, devotíssimo da Virgem Maria, teve várias revelações dela, e sabemos que confirmou a veracidade dessas revelações por meio de um solene juramento. Três delas possuem ênfase especial: a primeira é que, quando as pessoas não rezam a Ave Maria (a Saudação Angélica que salvou o mundo) com cuidado, seja por estarem entediadas ou por terem aversão a ela, é sinal de que provavelmente serão condenadas à punição eterna.
A segunda verdade é que aqueles que amam esta saudação divina possuem um sinal especial de predestinação.
A terceira verdade é que aqueles a quem Deus tem dado este sinal de amor a Nossa Senhora e de servi-la até a hora em que ela os colocar nos céus, por meio de seu Filho divino, alcançarão o grau de glória que merecem. (Bem-aventurado Alano, capítulo XI, parágrafo 2)
Os hereges, todos os que são filhos do mal e claramente possuem o selo de reprovação de Deus, têm horror à Ave Maria. Eles ainda rezam o Pai Nosso, mas nunca a Ave Maria; prefeririam colocar uma cobra venenosa em volta do pescoço a usar um escapulário ou carregar um rosário.
Entre os católicos, há aqueles que carregam a marca da reprovação de Deus, menosprezando o Rosário de quinze dezenas (mesmo o terço de cinco dezenas). Esses ora não o rezam, ora rezam-no rapidamente, sem devoção.
Mesmo que não se acreditasse no que foi revelado ao Bem-aventurado Alano de La Roche, minha experiência ainda bastaria para me convencer desta terrível verdade. Não sei, nem compreendo totalmente, como pode uma devoção que pareça tão pequena ser o sinal infalível da salvação eterna e como sua ausência possa ser o sinal do desagrado eterno de Deus; não obstante, nada há de mais certo.
Em nossos dias, vemos que aquelas pessoas que professam doutrinas novas, condenadas pela Santa Madre Igreja, podem até ser piedosas superficialmente, mas desdenham o Rosário e geralmente persuadem seus conhecidos a não o rezarem, destruindo assim seu amor por ele e sua fé nele. Ao fazer isso, elaboram desculpas que parecem plausíveis aos olhos do mundo. São cautelosas para não condenar o Rosário e o escapulário como os calvinistas fazem, mas a maneira como se propõem a atacá-los é mais mortífera porque é dissimulada. Trataremos disso a seguir.
Minha Ave Maria, meu Rosário ou meu terço é a minha oração e a pedra de toque seguríssima pela qual posso distinguir aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus daqueles que são enganados pelo demônio. Conheci almas que pareciam voar como águias por sobre as nuvens em uma contemplação sublime e que, contudo, eram miseravelmente enganadas pelo diabo. Só percebi o quanto estavam erradas quando descobri que desdenhavam a Ave Maria e o Rosário, que consideravam muito inferiores a elas.
A Ave Maria é um abençoado orvalho que cai dos céus sobre as almas dos predestinados, dando-lhes uma maravilhosa fertilidade espiritual para que possam crescer em todas as virtudes. Quanto mais o jardim da alma é regado por esta oração, mais iluminado se torna o intelecto dessa pessoa, mais zeloso se torna seu coração e mais forte se torna contra seus inimigos.
A Ave Maria é uma flecha pontiaguda e ardente que, unida à Palavra de Deus, dá ao pregador a força para penetrar, mover e converter os corações mais duros, mesmo que ele tenha pouco ou nenhum dom natural para a pregação.
Como disse antes, este foi o grande segredo que Nossa Senhora ensinou a São Domingos e ao Bem-aventurado Alano, a fim de que eles convertessem os hereges e os pecadores.
Santo Antonino nos conta que esse era o motivo pelo qual muitos pregadores se habituaram a rezar a Ave Maria no início de seus sermões.
 
Décima Oitava Rosa - A Ave Maria e Suas Bênçãos
Esta saudação celestial atrai sobre nós copiosas bênçãos de Jesus e Maria, pois é uma verdade infalível que Jesus e Maria recompensam de maneira maravilhosa aqueles que os glorificam. Eles nos recompensam cem vezes mais pelos louvores que lhes rendemos. “Eu amo os que me amam... para enriquecer os que me amam, e para encher os seus tesouros.” (Provérbios 8,17-21) “Aquele que semeia em abundância, também colherá em abundância.” (2 Coríntios 9,6)
E se rezarmos a Ave Maria devotamente, não estaremos, assim, amando, bendizendo e glorificando Jesus e Maria?
A cada Ave Maria bendizemos tanto Jesus quanto Maria: “Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.”
Através de cada Ave Maria damos a Nossa Senhora a mesma honra que Deus lhe deu quando enviou o Arcanjo Gabriel a saudá-la em Seu nome. Como alguém poderia pensar que Jesus e Maria, que tão comumente fazem o bem àqueles que os amaldiçoam, pudessem amaldiçoar aqueles que os bendizem e honram pela Ave Maria?
Ambos, São Bernardo e São Boaventura, dizem que a Rainha dos Céus não é, com certeza, menos agradecida e cortês do que aquelas pessoas deste mundo que são graciosas e de bons modos. Ela se excede em todas as perfeições e supera-nos a todos nas virtudes — principalmente na virtude da gratidão; por isso, ela nunca deixaria de honrá-la sem nos retribuir multiplicado por cem. São Boaventura diz que Maria nos cumprimentará com graça se a cumprimentarmos com a Ave Maria.
Quem poderá possivelmente compreender as graças e bênçãos que esta saudação terna e suave à Nossa Senhora produzirá em nós? Desde o primeiro instante em que Santa Isabel ouviu a saudação que a Mãe de Deus lhe dirigiu, ela se sentiu cheia do Espírito Santo, e a criança em seu ventre pulou de alegria. Se nos fizermos dignos da saudação e bênção de Nossa Senhora, certamente estaremos cheios de graças, e transbordantes consolações espirituais virão à nossa alma.
 
Décima Nona Rosa - A Ave Maria – Uma Feliz Troca
Está escrito: “Dai, e dar-se-vos-á” (Lc 6,38). Recordemos a comparação do Bem-aventurado Alano: “Suponhamos que todo dia eu lhe dê cento e cinquenta diamantes; não me perdoaria, mesmo que fosse seu inimigo? Não me trataria como se fosse seu amigo e me daria as graças que você fosse capaz de dar? Se você quer receber as riquezas da graça e da glória, corteje a Santíssima Virgem, honre a sua boa Mãe.” “Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe.” (Ecl 3,5) Então, diariamente, dê-lhe ao menos cento e cinquenta Ave Marias, pois cada uma vale quinze pedras preciosas e elas são mais agradáveis a Nossa Senhora do que todas as riquezas deste mundo juntas.
E você pode esperar tais grandes coisas de sua generosidade! Ela é nossa Mãe e amiga. É a imperatriz do universo e nos ama mais do que todas as mães e rainhas do mundo. Jamais outra amou o ser humano como ela. Assim é realmente, pois a caridade da Virgem Maria ultrapassa o amor natural de toda a humanidade e mesmo de todos os anjos, como disse Santo Agostinho.
Um dia, Santa Gertrudes teve uma visão de Nosso Senhor contando moedas de ouro. Tomou coragem e perguntou-Lhe o que estava fazendo. Ele respondeu: “Estou contando as Ave Marias que você rezou; são as moedas com as quais você pode pagar a sua passagem para o céu.”
O letrado e piedoso jesuíta Padre Suárez estimava tanto a Saudação Angélica que dizia que daria com gosto todo o seu aprendizado pelo valor de uma Ave Maria bem rezada.
O Bem-aventurado Alano de La Roche disse: “Quem te ama, ó excelsa Maria, leia isto e extasie-se:
Quando eu rezo a Ave Maria, a corte celestial se regozija, a Terra se perde em admiração, eu esqueço o Mundo e meu coração transborda do amor de DEUS. Quando eu rezo a Ave Maria; todos os temores se dissipam e minhas paixões se apaziguam. Se eu rezo a Ave Maria; a devoção cresce dentro de mim e desperta a contrição pelo pecado. Quando eu rezo a Ave Maria, a esperança fica forte em meu peito, e o frescor da consolação inunda minha alma mais e mais, porque eu rezo a Ave Maria. Meu espírito se regozija, a tristeza vai embora quando eu rezo a Ave Maria.
Porque a doçura desta suavíssima saudação é tão grande que não há termos adequados para explicá-la devidamente e, depois de ter dito maravilhas sobre ela, ainda assim a achamos tão cheia de mistério e tão imensa que sua profundidade é impossível de ser compreendida. É curta em palavras, mas grande em mistérios. É mais doce que o mel e mais preciosa que o ouro. Devemos tê-la frequentemente no coração para meditá-la e na boca para rezá-la devotamente.
O Bem-aventurado Alano disse que uma freira, que fora muito devota do Santo Rosário, apareceu depois de morta a uma de suas irmãs religiosas e lhe disse: “Se eu tivesse permissão para retornar ao meu corpo para rezar somente uma Ave Maria, mesmo que a rezasse rapidamente e sem muito fervor, voltaria a sofrer com bom gosto todas as dores que padeci antes de morrer, a fim de alcançar o mérito desta oração.” (Bem-aventurado Alano de La Roche, De Dignitate Psalterii, Capítulo LXIX). Isso nos comove ainda mais ao sabermos que ela esteve de cama e sofreu agonizantes dores por vários anos antes de morrer.
Miguel de Lisle, bispo de Salubre, discípulo e colaborador do Bem-aventurado Alano no restabelecimento do Santo Rosário, disse que a Saudação Angélica é o remédio para todas as doenças que sofremos, desde que a rezemos devotamente em honra a Nossa Senhora.
 
Vigésima Rosa - A Ave Maria – Breve Explicação
Você está num estado miserável de pecado? Pois então chame Maria e diga-lhe: Ave! Que quer dizer “Eu vos saúdo com o mais profundo respeito, pois vós sois sem pecado”, e ela livrar-vos-á do mal de seus pecados.
"...a palavra 'divino' pode ser usada sem atribuir a ela a natureza da divindade da pessoa ou coisa assim classificada. Falamos de nossas próprias orações, ora dirigidas a Deus ou aos Seus santos, como um serviço divino. O Salmista fala de todos nós como deuses e filhos do Altíssimo; e ninguém fica ofendido por tal expressão, porque o sentido dado às palavras pronunciadas é compreensível. Maria pode ser chamada divina por ter sido divinamente escolhida para o ofício de Mãe de uma Pessoa divina, Jesus Cristo." — Cardeal Vaughan, prefácio às Verdadeiras Devoções à Santíssima Virgem Maria, escrito por São Luiz de Montfort.
Você está envolto na escuridão da ignorância e do erro? Vá a Maria e diga-lhe: “Ave Maria”, que quer dizer “Iluminada com os raios do sol da justiça” — e ela lhe dará um pouco de sua luz.
Caminha extraviado, fora do caminho que leva aos céus? Pois então, chame Maria, porque seu nome significa “Estrela do Mar, Estrela Polar que guia os navios de nossas almas durante a jornada desta vida”, e ela lhe guiará ao porto da salvação eterna.
Você está triste? Recorra a Maria, pois seu nome também significa “Mar de amarguras, que a encheu com cortante dor neste mundo, mas com a qual ela se tornou mar da mais pura alegria no céu”, e ela transformará sua tristeza em alegria e sua aflição em paz.
Você perdeu o estado de graça? Louve e honre as inumeráveis graças com que Deus encheu a Virgem Maria, e diga-lhe: “Sois cheia de graça e cheia dos dons do Espírito Santo”, e ela lhe dará algumas dessas graças.
Sente-se só, tendo perdido a proteção de Deus? Reze a Maria e diga-lhe: “O Senhor é convosco,” que esta relação é mais nobilíssima e íntima do que aquela que Ele tem com os santos e os justos, pois vós sois uma com Ele. Sendo Ele vosso Filho e carne da Sua carne, estais unida ao Senhor por causa da perfeita semelhança com Ele e pelo vosso amor mútuo, por serdes Sua Mãe. Depois, diga a ela: “A Santíssima Trindade é convosco porque vós sois o Seu templo,” e ela lhe colocará mais uma vez sob a proteção e o cuidado do Deus Todo-Poderoso.
Você se tornou um foragido e tem sentido a justiça de Deus pesar sobre você? Então diga a Nossa Senhora: “Bendita sois vós entre todas as mulheres e sobre todas as nações, por vossa pureza e fertilidade; tornastes as maldições divinas em bênçãos para nós,” e ela o abençoará.
Sente fome do pão da graça e do pão da vida? Ajoelhe-se próximo àquela que deu vida ao Pão Vivo que desceu do céu, e diga a ela: “Bendito é o fruto do vosso ventre, que concebestes sem a mínima perda de vossa virgindade, que carregastes sem desconforto Aquele a quem destes à luz sem dor. Bendito seja Jesus, que redimiu nosso mundo sofredor enquanto estávamos presos às cadeias do pecado, que curou o mundo de sua doença, que tem ressuscitado os mortos para a vida, que trouxe para casa o que lhe fora banido, salvou os homens da condenação.” Sem dúvida, sua alma estará cheia do pão da graça nesta vida e da glória eterna na próxima. Amém.
Então, ao fim de sua oração, reze assim como a Santa Madre Igreja:
“Santa Maria, Santa de corpo e alma, Santa por causa de vossa incomparável abnegação no serviço de DEUS. Santa em vossa nobreza exuberante de Mãe de Deus, que O contemplastes com perfeita santidade, da mais alta dignidade. Mãe de Deus e nossa Mãe, Transbordante das graças de DEUS, de Quem sois a tesoureira, e que as dispensais para nós. Obtende para nós, sem demora, o perdão de nossos pecados, e dai-nos a graça de sermos reconciliados, com a infinita Majestade de DEUS. Rogai por nós pecadores, Vós que sempre sois cheia de compaixão pelos necessitados. Que nunca desprezais os pecadores, volvei a eles, pois sem eles nunca seríeis a Mãe do REDENTOR Rogai por nós agora, durante esta vida curta, tão cheia de tristeza, de sofrimento e incertezas. Rogai por nós agora, Agora, porque não temos certeza de nada, a não ser o momento presente. Rogai por nós agora, porque estamos sendo atacados dia e noite por poderosos e cruéis inimigos... Rogai por nós agora e na hora da nossa morte, tão terrível e cheia de perigos, quando nossas forças se esgotam e nossos espíritos desfalecem-se e nossos corpos estão exaustos com medo e pena. Rogai por nós então, na hora da nossa morte, quando satanás esta trabalhando, com forças redobradas, para nos seduzir e nos lançar à perdição. Rogai por nós na hora da decisão, quando a morte lançará de uma vez por todas o nosso destino eterno, será o Céu, (o Purgatório) ou o Inferno. Venha em auxílio de vossos pobre filhos, Terna Mãe de piedade. Advogada e Refúgio dos pecadores, proteja-nos na hora da nossa morte. Expulsa para longe de nós Nossos terríveis inimigos, os demônios acusadores, que com suas horrorosas presenças enche-nos de pavor. Ilumina nossos passos no vale das sombras da morte. Oh Mãe, leva-nos ao trono de julgamento de vosso FILHO e não nos abandone lá. Interceda por nós e peça ao vosso FILHO que me perdoe. Aceitai-nos no número dos abençoados escolhidos no Reino da Eterna glória. Amém – Assim seja”
Ninguém poderia deixar de admirar a beleza do Rosário, que é composto por duas orações celestiais: o Pai Nosso e a Ave Maria. Qual outra oração poderia ser mais agradável a Deus Todo-Poderoso e a Nossa Senhora, ou ser mais fácil, mais preciosa ou mais eficaz do que essas duas orações? Devemos sempre tê-las em nossos corações e em nossos lábios para honrar a Santíssima Trindade, Jesus Cristo, nosso Salvador, e sua Santíssima Mãe.
Além disso, ao fim de cada dezena, é conveniente acrescentar um “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, é agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.”
 
Vigésima Primeira Rosa - Os Quinze Mistérios
Um mistério é uma realidade sagrada que é difícil de compreender. As obras de Nosso Senhor Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque Ele é Deus e homem ao mesmo tempo. As obras da Santíssima Virgem são santas porque ela é a mais perfeita e a mais pura das criaturas de Deus. As obras de Nosso Senhor e de sua Santíssima Mãe podem certamente ser chamadas mistérios porque estão cheias de maravilhas e de todos os tipos de perfeições, verdades profundas e sublimes que o Espírito Santo revela aos humildes e simples que honram esses mistérios.
As obras de Jesus e Maria podem ser chamadas de flores admiráveis; mas seu perfume e beleza só podem ser apreciados por aqueles que as estudam cuidadosamente e que as abrem, inebriando-se de seu perfume através de meditações diligentes e sinceras.
São Domingos dividiu a vida de Nosso Senhor e Nossa Senhora em quinze mistérios que lembram suas virtudes e ações mais importantes. São quinze quadros cujas cenas devem servir-nos de normas e exemplos, como fogo que guia nossos passos nesta vida terrena.
Quinze espelhos luminosos que nos permitem conhecer Jesus e Maria, e conhecer bem a nós mesmos.
Eles também nos auxiliarão a acender o fogo de seu amor em nossos corações.
Eles serão quinze fogueiras flamejantes que podem nos consumir completamente com suas chamas celestiais.
Nossa Senhora ensinou a São Domingos este excelente método de rezar e ordenou-lhe que pregasse amplamente, a fim de que despertasse
novamente o fervor dos cristãos e crescesse em seus corações o amor por Nosso Senhor.
Ela também ensinou ao Bem-aventurado Alano de La Roche e disse-lhe, em uma visão: “Quando os fiéis rezam as cento e cinquenta Ave Marias e os quinze Pai Nossos, muito me agradam, e esta devoção é eficaz para obter graças. Mas a eficácia aumenta muito mais, e me agradarão ainda mais se, enquanto rezam, meditarem na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, pois a meditação é a alma desta devoção.”
Pois, de fato, o Rosário rezado sem meditação nos sagrados mistérios de nossa salvação seria como um corpo sem alma: uma excelente matéria sem sua forma, que é a meditação, a qual distingue o Rosário das demais devoções.
A primeira parte do Rosário contém cinco mistérios:
1º A Anunciação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora;
2º A Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel;
3º O Nascimento de Jesus Cristo;
4º A Apresentação do Menino JESUS no Templo e a Purificação de Nossa Senhora.
5º O Encontro de JESUS no templo entre dos doutores.
Estes são chamados Mistérios Gozosos por causa da alegria que proporcionam a todo o universo. Nossa Senhora e os anjos ficaram transbordantes de gozo no momento em que o Filho de Deus foi encarnado. Santa Isabel e São João Batista se encheram de gozo com a visita de Jesus e Maria. Os céus e a terra se alegraram com o nascimento de Nosso Salvador. Santo Simeão sentiu grande consolação e se alegrou quando pegou nos braços a Santa Criança. Os doutores abismaram-se em admiração e encantamento com as respostas que Jesus deu, e quem poderá descrever a alegria de Maria e José ao encontrar o Menino Jesus que estava perdido por três dias?
A segunda parte do Rosário é também composta por cinco mistérios chamados Mistérios Dolorosos, porque mostram Jesus Cristo oprimido pela tristeza, coberto de chagas, carregado de insultos, sofrimentos e tormentos.
1º A Oração e Agonia de JESUS no Jardim das Oliveiras;
2º Sua Flagelação;
3º Sua Coroação com Espinhos;
4º JESUS carregando Sua Cruz;
5º Sua Crucifixão e Morte no Monte Calvário.
A terceira parte do Rosário contém outros cinco mistérios chamados Mistérios Gloriosos, porque, quando rezados, meditamos o triunfo e a glória de Jesus e Maria.
1º A Ressureição de JESUS CRISTO;
2º Sua Ascenção aos Céus;
3º A Descida do ESPÍRITO SANTO sobre os Apóstolos.
4º A Assunção gloriosa de Nossa Senhora ao Céu;
5º Sua Coroação no Céu.
Estas são as quinze flores perfumadas da Roseira Mística; as almas devotas voam para elas, como sábias abelhas a coletar seu néctar e a fazer mel de uma excelente devoção.
A terceira parte do Rosário contém outros cinco mistérios chamados Mistérios Gloriosos, porque, quando rezados, meditamos o triunfo e a glória de Jesus e Maria.
 
Vigésima Segunda Rosa - Assemelhando-se a CRISTO
A tarefa principal da alma cristã é caminhar em busca da perfeição. São Paulo nos diz: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados” (Ef 5,1). Essa obrigação está incluída no eterno decreto de nossa predestinação, como o único meio prescrito por Deus para se obter a glória eterna.
São Gregório de Nissa faz uma comparação inspiradora ao dizer que somos todos artistas e que nossas almas são telas em branco nas quais devemos aplicar o pincel. As cores que devemos usar são as virtudes cristãs, e nosso modelo é Jesus Cristo, a perfeita Imagem Viva de Deus Pai. Assim como um pintor experiente, que deseja fazer um bom trabalho, coloca-se diante do modelo e o observa antes de cada pincelada, os cristãos devem ter seus olhos sempre fitos em Jesus Cristo, a fim de conhecer Sua vida, imitar Suas virtudes e jamais dizer, pensar ou fazer algo que não esteja de acordo com esse perfeito modelo.
Foi porque Nossa Senhora quis nos ajudar na grande tarefa de trabalharmos por nossa salvação que ela ordenou a São Domingos que ensinasse aos fiéis a meditar nos mistérios sagrados da vida de Jesus Cristo. Ela assim o fez, não só para que eles adorem e glorifiquem o Senhor, mas principalmente para que imitem, em suas vidas e ações, as virtudes de Jesus.
Assim como as crianças imitam seus pais, observando-os e falando com eles, aprendem sua língua ao ouvi-los falar. Um aprendiz aprende sua arte por meio da observação de seu mestre ao trabalhar; da mesma maneira, os fiéis, membros da Confraria do Santo Rosário, podem tornar-se como seu Mestre divino se, reverentemente, estudarem e imitarem as virtudes de Jesus Cristo, que são mostradas nos quinze mistérios de Sua vida. Eles podem alcançá-las com o auxílio de Sua graça e com a intercessão de Sua Mãe Santíssima.
Há muito tempo, Moisés foi inspirado por Deus a ordenar ao povo judeu que nunca se esquecesse das graças que lhes haviam sido concedidas. O Filho de Deus, com ainda maior razão, pode ordenar-nos que gravemos em nosso coração os mistérios de Sua vida, paixão e morte, e que os tenhamos sempre diante de nossos olhos, pois cada mistério nos recorda, de maneira especial, Sua bondade para conosco. Foi por meio desses mistérios que Ele nos mostrou Seu amor e Seu imenso desejo de nossa salvação. Nosso Senhor nos diz: “Todos vocês que passam pelo caminho, olhem e vejam se há dor semelhante àquela que tive de suportar por vosso amor. Contemplem a Minha pobreza e as Minhas humilhações; pensem no vinagre e no fel que bebi por vocês durante a Minha amarga paixão.”
Estas palavras, e muitas outras que poderiam ser ditas aqui, devem ser mais do que suficientes para nos convencer de que não só devemos rezar o Rosário com os lábios, em honra de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, mas também meditar nos sagrados mistérios enquanto o rezamos.
 
Vigésima-Terceira Rosa - Memorial
Jesus Cristo, divino Esposo de nossas almas e nosso amável amigo, deseja que recordemos Seus benefícios e dádivas, e que os apreciemos mais do que todas as coisas. Sempre que meditamos devota e amorosamente sobre os sagrados mistérios do Rosário, Nosso Senhor recebe uma glória acidental, assim como Nossa Senhora e todos os santos no Céu.
Estes mistérios são os maiores sinais que revelam Seu amor por nós e as maiores dádivas que Ele pode nos conceder, pois é pela virtude dessas dádivas que a própria Virgem Santíssima e todos os santos estão no Céu.
Um dia, a Bem-aventurada Ângela de Foligno implorou a Nosso Senhor que lhe mostrasse qual exercício religioso O honraria mais. Ele se mostrou a ela cravado em Sua cruz e disse: “Minha filha, olhai as minhas chagas.” Então, ela percebeu que nada agrada mais a Nosso querido Senhor do que a meditação em Seus sofrimentos. Depois, Ele lhe mostrou os ferimentos de Sua cabeça, revelou-lhe ainda outro sofrimento e disse: “Tudo isto sofri por sua salvação. O que você pode fazer para agradecer ao Meu amor por você?”
O Santo Sacrifício da Missa honra infinitamente a Santíssima Trindade, porque renova a Paixão de Jesus Cristo e, por meio da Missa, oferecemos a Deus os méritos da obediência, dos sofrimentos e do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor. Toda a corte celeste recebe, com a Santa Missa, uma glória acidental. Vários doutores, entre eles São Tomás de Aquino, nos ensinam que, pela mesma razão, todos os bem-aventurados no Céu se regozijam com a Comunhão dos fiéis, porque o Santíssimo Sacramento é uma renovação da Paixão e morte de Jesus Cristo, e é por esse meio que os homens compartilham de seus frutos e cooperam para sua salvação.
Agora, o Santo Rosário, rezado juntamente com a meditação sobre os sagrados mistérios, é um sacrifício de louvor a Deus, em agradecimento pela grande graça da nossa redenção. Também é uma santa recordação dos sofrimentos, morte e glória de Jesus Cristo. É verdade, portanto, que o Rosário confere uma glória acidental a Nosso Senhor, a Nossa Senhora e a todos os bem-aventurados, porque, depois da Santa Missa, não há nada que eles desejem mais — ou que seja mais importante para nos auxiliar — do que ver-nos engajados nessa prática tão gloriosa a Nosso Senhor e tão salutar para nós mesmos.
O Evangelho nos ensina que um pecador que se converte e faz penitência traz alegria a todos os Anjos. Se o arrependimento e a conversão de um pecador são suficientes para fazer com que os Anjos se regozijem, quão grande deve ser a felicidade e o júbilo de toda a corte celeste — e que glória para o próprio Santíssimo Senhor Jesus — ao ver-nos aqui na Terra meditando, devota e amorosamente, sobre Suas humilhações, tormentos e sobre Sua morte cruel e ignominiosa! Haverá algo mais eficaz para comover-nos e levar-nos à sincera penitência?
O cristão que não medita sobre os mistérios do Rosário é muito ingrato a Nosso Senhor e demonstra o quanto se importa pouco com tudo o que o Salvador divino sofreu para salvar o mundo. Essa atitude parece indicar que conhece pouco — ou nada — da vida de Jesus Cristo, e que nunca se preocupa em saber mais sobre Ele, o que Ele fez e o que sofreu para nos salvar.
Esse tipo de cristão deve temer, pois, enquanto nesta vida tem a oportunidade de conhecer e amar Jesus Cristo, prefere desprezar Suas graças e O excluir da mente e do coração. Por isso, Ele o repudiará no Dia do Julgamento e dirá, acusativamente: “Em verdade vos digo: não vos conheço.” (Mt 25,12)
Meditemos, pois, na vida e nos sofrimentos de Nosso Senhor por meio do Santo Rosário; aprendamos a conhecê-Lo bem e a agradecer por Suas bênçãos, para que, no Dia do Julgamento, Ele nos reconheça entre Seus discípulos e amigos.
 
Vigésima-Quarta Rosa - Meios da Perfeição
Os santos sempre fizeram da vida de Nosso Senhor o principal objetivo de seu aprendizado; meditaram em Suas virtudes e sofrimentos, e, assim, alcançaram a perfeição cristã.
São Bernardo começou por esse exercício e sempre perseverou nele. Disse ele: “No início de minha conversão, fiz um ramalhete de mirra formado pelas dores do meu Salvador e o coloquei sobre o meu coração, pensando nas chicotadas, nos espinhos e nos pregos de Sua Paixão. Empreguei toda a minha força mental para meditar nesses mistérios a cada dia.”
Essa também era uma prática dos santos mártires; sabemos quão admiravelmente eles triunfaram sobre os mais cruéis tormentos. São Bernardo afirma que a maravilhosa perseverança dos mártires vinha de uma única fonte: a constante meditação nos sofrimentos de Jesus Cristo. Os mártires foram atletas de Cristo, Seus campeões; enquanto seu sangue jorrava e seus corpos eram triturados por cruéis tormentos, suas generosas almas estavam escondidas nas feridas de Nosso Senhor. Essas chagas os tornaram invencíveis.
Durante toda a sua vida, a principal preocupação da Virgem Santíssima foi a meditação nas virtudes e nos sofrimentos de seu Filho. Quando ouviu os anjos cantarem seus hinos de alegria no Seu nascimento e quando viu os pastores adorá-Lo no estábulo, seu coração e sua mente encheram-se de admiração, e ela meditava sobre essas maravilhas. Comparava a grandeza do Verbo Encarnado com sua profunda humildade e com a forma como Ele se fez pequeno; meditava n'Ele em Sua manjedoura coberta de feno e, depois, em Seu trono no Céu, à direita de Seu Pai Eterno. Comparava o poder de Deus com a fragilidade do Menino Jesus e Sua sabedoria com Sua simplicidade.
Um dia, Nossa Senhora disse a Santa Brígida: “Sempre que meditava na beleza, simplicidade e sabedoria de meu Filho, meu coração se enchia de alegria; e sempre que pensava que Suas mãos e pés seriam perfurados por cruéis pregos, pranteava amargamente, e meu coração se partia de dor e tristeza.”
Após a Ascensão de Nosso Senhor, a Santíssima Virgem passou o restante de sua vida visitando os lugares que haviam sido santificados por Sua presença e tormentos. Quando estava nesses lugares, costumava meditar sobre o excesso de Sua caridade e os rigores de Sua cruel Paixão. Santa Maria Madalena não fez outra coisa senão exercícios religiosos desse tipo durante os últimos trinta anos de sua vida, enquanto vivia em oração e isolamento em Sainte-Baume.
(N.T. – Segundo a tradição, Santa Maria Madalena passou os últimos trinta anos de sua vida na Provença, no local que passou a ser chamado de Sainte-Baume (“Santo Bálsamo”). Peregrinos visitam a igreja dominicana de Sainte-Baume para venerar a relíquia de sua cabeça, que é preservada no local (Encyclopaedia Catholica).
São Jerônimo nos relata que os Lugares Santos eram amplamente visitados pelos fiéis nos primeiros séculos da Igreja. Eles vinham à Terra Santa de todos os cantos da cristandade com o propósito de gravar em seus corações o grande amor e a lembrança de seu Salvador, por meio da visita aos lugares que Ele santificou com o Seu nascimento, Sua obra, Seu sofrimento e Sua morte.
Todos os cristãos têm uma só fé e adoram a um único Deus; todos almejam a mesma felicidade no Céu. Possuem um só Mediador, que é Jesus Cristo, e, por isso, todos devem imitar seu modelo divino e, para consegui-lo, devem meditar nos mistérios de Sua vida, de Sua glória e em Suas virtudes.
É um grande erro pensar que apenas os sacerdotes, religiosos e aqueles que se afastam da agitação do mundo devam meditar sobre as verdades da nossa fé e os mistérios da vida de Jesus Cristo. Se os sacerdotes e religiosos têm a obrigação de meditar sobre as grandes verdades da nossa santa religião para viverem dignamente sua vocação, a mesma obrigação cabe também aos leigos, pois estes se deparam diariamente com perigos espirituais que podem levá-los a perder a alma. Por isso, devem armar-se com a meditação frequente sobre a vida, as virtudes e os sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, tão belamente contidos nos quinze mistérios do Santo Rosário.
 
Vigésima-Quinta Rosa - Tesouros de Santificação
Nunca alguém poderá, de fato, compreender plenamente os ricos tesouros de santificação contidos nas orações e nos mistérios do Santo Rosário. A meditação nesses mistérios da vida e morte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é fonte dos mais maravilhosos frutos espirituais para aqueles que os meditam e rezam com devoção.
Hoje em dia, as pessoas buscam coisas que causem impacto, que comovam e deixem profundas impressões na alma. Nunca houve, em toda a história do mundo, algo mais comovente do que a história maravilhosa da vida, morte e glória de Nosso Senhor, contida no Santo Rosário. As quinze cenas principais, ou mistérios, de Sua vida se abrem diante de nossos olhos. Não há oração mais maravilhosa e sublime do que a Oração do Senhor (Pai-Nosso) e a Saudação Angélica (Ave-Maria)! Todos os nossos desejos e todas as nossas necessidades estão profundamente contidos nessas orações.
A meditação sobre os mistérios e as orações do Rosário é a mais fácil de todas as orações, porque a diversidade das virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo e os diferentes estágios de Sua vida, que estudamos, revigoram e fortalecem maravilhosamente nossa mente, ajudando-nos a evitar distrações.
Para as pessoas cultas, esses mistérios são fonte de doutrina profunda; já as pessoas simples encontram neles um meio de instrução plenamente acessível.
Antes de progredirmos ao mais alto estado de contemplação, devemos aprender este método simples de meditação. Esta é a opinião de São Tomás de Aquino, que nos aconselha a lutar, como em um campo de batalha, pela aquisição de todas as virtudes que o Santo Rosário nos incita a imitar. O sábio Caetano afirma que esta é a maneira pela qual alcançamos uma verdadeira união íntima com DEUS, pois, sem essa união, o que teremos será uma perigosa ilusão capaz de levar as almas à perdição.
Se apenas os iluministas ou os quietistas(1) de hoje seguissem este pequeno conselho, não cairiam tão vergonhosamente, nem teriam causado tantos escândalos, nem perturbado a devoção de tantas pessoas de boa fé. Pensar que é possível rezar orações mais eficazes e belas do que o Pai-Nosso e a Ave-Maria é cair nas armadilhas de uma estranha ilusão do demônio.
(1) (N.T. – O Quietismo e o Iluminismo eram considerados heresias nos tempos de São Luís Maria Grignion de Montfort. Seus adeptos, tanto de uma quanto da outra escola de pensamento, tinham uma visão exagerada da inspiração divina e negavam a necessidade do esforço pessoal na vida espiritual. Madame Guyon foi a principal representante do Quietismo francês.)
Estas orações celestiais são o fundamento, a força e a salvaguarda de nossas almas. Contudo, devo admitir que não é sempre necessário rezá-las vocalmente. É verdade que a oração mental é mais perfeita do que a vocal, mas, acredite, é perigoso — para não dizer fatal — deixar de rezar o Rosário voluntariamente, sob o pretexto de buscar uma união mais íntima com Deus.
Às vezes, a alma muito orgulhosa faz tudo o que pode para crescer interiormente até alcançar o mais alto grau de contemplação que os santos já atingiram. No entanto, ela pode ser enganada pelo astuto demônio e acabar desistindo desta antiga devoção, pensando ter encontrado um bem maior. Assim, passa a considerar essa prática como algo inferior, destinado apenas a almas inferiores e medíocres.
Mas esse tipo de alma deliberadamente se fez surda às orações e saudações que nos foram ensinadas por um Arcanjo e até mesmo à oração que o próprio DEUS compôs e ensinou: “Vós, pois, orai assim: Pai Nosso...” (Mt 6,9). Assim, essa alma chega a tal ponto que, levada pelo seu primeiro engano, acaba caindo em erros ainda maiores, precipitando-se de um abismo a outro.
Creiam-me, queridos irmãos da Confraria do Rosário: se vocês genuinamente desejam alcançar um grau mais elevado de oração, com toda honestidade e sem cair nas armadilhas que o demônio coloca para os que oram, rezem todo o Rosário diariamente, ou ao menos o Terço. Se, pela graça de DEUS, vocês já atingiram um alto nível de oração, mantenham a prática de rezar o Santo Rosário para permanecer nesse estado e, por meio dele, crescer em humildade. Pois jamais alguém que reza o Rosário diariamente se tornou um herege formal ou foi enganado pelo demônio. Esta é uma declaração que eu alegremente assinaria com meu próprio sangue.
Por outro lado, se DEUS Todo-Poderoso, em Sua infinita misericórdia, o atrair a Si — como faz, por vezes, com alguns santos durante a recitação do Rosário —, abandone-se em Suas mãos e aproxime-se dEle. Deixe DEUS agir e orar em você; permita que Ele reze o Rosário à Sua maneira, e isso será suficiente para aquele dia.
Mas, se você ainda pertence àqueles que estão em um estado de contemplação ativa, ou na oração habitual de quietude, ou se permanece na presença de DEUS amando-O, mais ainda, você tem todos os motivos do mundo para rezar o Rosário. Em vez de afastá-lo da oração mental ou impedir seu progresso espiritual, o Rosário será de imenso auxílio. Ele será como uma verdadeira escada de Jacó, com quinze degraus, nos quais você subirá de virtude em virtude e de luz em luz. Assim, sem o perigo de se desviar, você alcançará facilmente a plenitude da estatura de JESUS CRISTO.
 
Vigésima-Sexta Rosa - Oração Sublime
Evite cuidadosamente fazer o que certa senhora piedosa, mas voluntariosa, de Roma fez. Era uma pessoa tão devota e fervorosa que, com sua vida santa, chegou a confundir os religiosos austeros da Igreja de DEUS.
Ao pedir a São Domingos que a aconselhasse sobre sua vida espiritual, ela lhe pediu que a ouvisse em confissão. Por penitência, ele mandou que rezasse um Rosário completo e aconselhou-a a rezá-lo diariamente. Ela disse que não tinha tempo para isso, desculpando-se ao afirmar que fazia as Estações de Roma¹ todos os dias, vestia roupas de saco, camisas de cilício, aplicava a disciplina sobre si várias vezes por semana, fazia muitas outras penitências e jejuava com frequência. São Domingos aconselhou-a novamente, e várias outras vezes, a seguir seu conselho e rezar o Rosário, mas ela continuava a recusar. Saiu do confessionário horrorizada com a insistência de seu novo diretor espiritual, que arduamente tentava persuadi-la a seguir uma devoção que não lhe agradava.
Mais tarde, enquanto orava, caiu em êxtase e viu sua alma se apresentar diante do Trono do Julgamento de NOSSO SENHOR. São Miguel colocou todas as suas penitências e demais orações em um dos pratos da balança, e todos os seus pecados e imperfeições no outro. O prato das boas obras permaneceu elevado, sem conseguir equilibrar o peso do outro, que continha os pecados e as imperfeições.
Cheia de espanto, ela clamou por misericórdia, implorando o auxílio da Santíssima Virgem, sua graciosa advogada, que pegou o único Rosário que ela havia rezado como penitência e o colocou no prato das boas obras. Esse único Rosário era tão valioso que pesava mais do que todos os seus pecados e até mesmo todas as suas boas obras. Nossa Senhora, então, repreendeu-a por não ter seguido o conselho de seu servo Domingos e por não ter rezado o Rosário diariamente.
Logo que voltou a si, correu e se lançou aos pés de São Domingos, contou-lhe o que havia acontecido, implorou seu perdão por não ter acreditado e prometeu rezar o Rosário fielmente todos os dias. Por esse meio, ela se elevou à perfeição cristã e, por fim, à glória da vida eterna.
Vocês, que são pessoas de oração, aprendam com isso quão grandioso é o poder, o valor e a importância desta devoção do Santíssimo Rosário, quando rezado e unido à meditação sobre os Mistérios.
Poucos santos alcançaram as mesmas alturas em oração que Santa Maria Madalena, que era transportada diariamente aos Céus pelos Anjos e teve o privilégio de aprender aos pés do próprio JESUS CRISTO e de Sua Santíssima Mãe. Contudo, um dia, ao perguntar a DEUS que lhe mostrasse uma maneira segura de progredir em Seu amor e alcançar a mais alta perfeição, Ele enviou São Miguel Arcanjo para dizer-lhe, em Seu nome, que não havia outro caminho para alcançar a perfeição senão pela meditação na Paixão de Nosso SENHOR. São Miguel, então, colocou uma cruz na entrada de sua caverna e disse-lhe que rezasse diante dela, contemplando os Mistérios Dolorosos que presenciara com seus próprios olhos.
Que o exemplo de São Francisco de Sales, grande diretor espiritual de seu tempo, o estimule a unir-se à santa Confraria do Rosário. Sendo um grande santo, ele fez o voto de rezar o Rosário completo todos os dias de sua vida.
São Carlos Borromeu também rezava todos os dias e, com insistência, recomendava essa devoção aos pregadores, aos eclesiásticos, nas conferências e a todo o povo.
São Pio V, um dos papas mais eminentes da Igreja, rezava diariamente o Rosário. São Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência, Santo Inácio, São Francisco Xavier, São Francisco de Borja, Santa Teresa e São Filipe Néri, assim como muitos outros grandes homens que não pude mencionar aqui, foram grandes devotos do Santo Rosário.
Sigam seus exemplos! Seus diretores espirituais ficarão satisfeitos e, ao tomarem conhecimento dos frutos que se colhem dessa devoção, serão os primeiros a incentivá-los a adotá-la.
(1) – (N.T. – Trata-se de uma devoção da Igreja Primitiva. Consiste em visitar certas igrejas estacionárias em Roma e rezar orações prescritas em cada uma delas. Esta prática tinha um cunho penitencial. Encyclopaedia Catholica.)
 
Vigésima-Sétima Rosa - Benefícios
Para animá-lo a abraçar esta devoção, que tantas almas têm praticado, apresento-lhe mais razões. O Rosário, quando rezado e meditado nos seus mistérios, traz os seguintes resultados maravilhosos:
- gradualmente nos eleva ao perfeito conhecimento de JESUS CRISTO;
- purifica nossas almas, lavando-as do pecado;
- dá-nos vitória sobre nossos inimigos;
- facilita nos praticar as virtudes;
- queima-nos com o fogo do amor por Nosso SENHOR;
- enriquece-nos de graças e méritos;
- supre-nos com o que é preciso para pagar nossas dívidas para com DEUS e para com nossos companheiros e, finalmente, obtém todas as espécies de graças de DEUS para nós.
O conhecimento de JESUS CRISTO é a ciência dos cristãos e a ciência da salvação. São Paulo afirma que ele supera todas as ciências humanas em valor e perfeição (Fl 3,8). E isso é verdade:
1 - Porque a dignidade de sua finalidade é DEUS-Homem, diante de Quem o universo inteiro não passa de uma gota de orvalho ou de um grão de areia;
2 - Por sua utilidade para nós, visto que as ciências humanas, ao contrário, apenas nos enchem de ilusões e do vazio do orgulho;
3 - E, finalmente, por causa de sua utilidade intrínseca: pois ninguém jamais poderá se salvar sem o conhecimento de JESUS CRISTO. E mesmo que um homem não saiba absolutamente nada das outras ciências, ele será salvo, desde que seja iluminado pela ciência de JESUS CRISTO.
Bendito seja o Rosário, que nos concede a ciência e o conhecimento de Nosso SENHOR, por meio de nossas meditações sobre Sua vida, paixão, morte e glória.
A Rainha de Sabá, admirada diante da sabedoria de Salomão, exclamou: “Bem-aventurados os teus homens e bem-aventurados os teus servos, que estão sempre em tua presença e ouvem a tua sabedoria” (1Rs 10,8). Mas muito mais felizes são os fiéis que, com diligência, meditam sobre a vida, as virtudes, os sofrimentos e a glória de Nosso SALVADOR, pois, por esse meio, podem alcançar o perfeito conhecimento d’Aquele que é a vida eterna. “Ora, a vida eterna é esta” (Jo 17,3).
Nossa Senhora revelou ao Bem-aventurado Alano que, tão logo São Domingos começou a pregar o Rosário, até mesmo os pecadores mais empedernidos foram tocados e choraram amargamente seus crimes. Até as crianças realizaram incríveis penitências e, em todos os lugares onde ele pregou o Santo Rosário, surgiu tal fervor que os pecadores mudaram suas vidas, edificaram a todos com suas penitências e transformaram seus corações.
Se você sente sua consciência carregada de pecados, tome o Rosário e reze ao menos uma parte dele, honrando alguns mistérios da vida, paixão ou glória de Nosso Senhor JESUS CRISTO. Esteja certo de que, enquanto você meditar sobre esses mistérios e os honrar, Ele mostrará Suas Santíssimas Chagas a Seu PAI nos Céus. Ele intercederá por você e obterá para você a contrição e o perdão de seus pecados.
Um dia, nosso Senhor disse ao bem-aventurado Alano: “Se ao menos esses miseráveis pecadores rezassem frequentemente o meu Rosário, participariam dos mistérios da minha Paixão e eu, como advogado deles, aplacaria a justiça de meu Pai!”
Esta vida não é nada mais que uma série de tentações, e nós não temos que lutar contra inimigos de carne e sangue, mas contra poderes infernais. Que melhores armas podemos usar para combatê-los do que a oração ensinada por nosso próprio Chefe e a Saudação Angélica, que tem afugentado os demônios, destruído o pecado e renovado o mundo? Que melhores armas poderíamos usar do que a meditação sobre a vida e a Paixão de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? Pois, como disse São Pedro, é com essa arma que devemos nos armar a fim de nos defendermos contra nossos muitos inimigos — aqueles que Ele venceu e que ainda nos molestam diariamente. (1Pd 4,1)
“Desde que o demônio foi esmagado pela humildade e pela Paixão de Jesus Cristo, ele apenas se atreve a atacar uma pessoa armada com a meditação desses mistérios da vida de nosso Senhor. E, se realmente a ataca, é certo que será derrotado vergonhosamente.” (Cardeal Hugo)
“Revesti-vos da armadura de Deus” (Ef 6,11). Então, arme-se com a armadura de Deus, que é o Santo Rosário, e você esmagará a cabeça do diabo, podendo assim resistir a todas as suas tentações. Eis por que um só rosário material, em si, é algo terrível contra o diabo, e por que os santos se servem dele para acorrentar os demônios e expulsá-los dos corpos das pessoas que estavam possessas. Tais acontecimentos são relatados em mais de um atestado autêntico.
O bem-aventurado Alano disse que um homem que ele conhecia havia tentado todos os tipos de devoções a fim de se ver livre de um espírito maligno que o possuía, mas sem sucesso. Finalmente, pensou em usar o Rosário em volta do pescoço, o que veio a aliviá-lo consideravelmente. Descobriu que, sempre que se despia do Rosário, o demônio o atormentava cruelmente, então decidiu usá-lo dia e noite. Isso fez com que o espírito maligno se afastasse para sempre, pois ele não podia suportar tão terrível corrente. O bem-aventurado Alano também testemunhou que havia libertado grande número de pessoas que estavam possessas, simplesmente colocando o Rosário em volta de seus pescoços.
O padre João Amat, da Ordem de São Domingos, pregava, certo ano, uma série de sermões sobre a Quaresma no Reino de Aragão, quando lhe foi trazida uma garota possuída pelo demônio. Depois de exorcizá-la várias vezes sem sucesso, colocou o seu Rosário em volta do pescoço dela. Tão logo começou a colocá-lo, a garota começou a gritar e berrar espantosamente, dizendo: “Tirem-no de mim! Tirem-no de mim! Estas contas estão me torturando!” Por fim, o padre, cheio de compaixão pela menina, tirou dela o seu Rosário.
Na noite seguinte, quando o padre Amat já estava deitado, os mesmos demônios que haviam possuído a garota vieram até ele, espumando de raiva, e tentaram apossar-se dele. Mas ele tinha o seu Rosário nas mãos, e nenhum dos esforços que fizeram pôde tirar o Rosário dele. Então começou a golpeá-los com o Rosário e os expulsou, dizendo: “Ave Maria, Nossa Senhora do Rosário, vinde em meu auxílio”.
No dia seguinte, quando foi à igreja, ele encontrou a pobre menina ainda possessa, e um dos demônios dentro dela começou a rir e disse, com voz de zombaria: “Bem, irmão, se você estivesse sem seu Rosário, teríamos acabado com você!” Então o bom padre pôs seu Rosário em volta do pescoço da menina sem perder tempo e disse: “Pelo santo nome de Jesus e pelo nome de Maria, sua santa Mãe, e pelo poder do Santíssimo Rosário, eu vos ordeno, espíritos malignos, que deixem o corpo desta menina.” E eles foram imediatamente forçados a obedecer, e ela foi liberta deles.
Esses feitos mostram o poder do Santo Rosário em vencer todas as tentações possíveis que os espíritos malignos possam trazer, bem como todos os tipos de pecado, pois essas benditas contas põem os demônios em fuga.
 
Vigésima-Oitava Rosa - Efeitos Salutares
Santo Agostinho afirmou enfaticamente que não há exercício espiritual mais frutífero ou mais útil à nossa salvação do que pensar com frequência nos sofrimentos de nosso Senhor.
O bem-aventurado Alberto Magno, mestre de São Tomás de Aquino, aprendeu, como seu discípulo, numa revelação, que simplesmente pensar ou meditar sobre a Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo concede a um cristão mais mérito do que jejuar a pão e água todas as sextas-feiras durante um ano inteiro, ou disciplinar-se uma vez por semana até fazer o corpo sangrar, ou ainda rezar o Livro dos Salmos por completo todos os dias. Se assim é, então quão grande deve ser o mérito que podemos obter com o Santo Rosário, que recorda não só a Paixão, mas toda a vida de nosso Salvador!
Um dia, Nossa Senhora revelou ao bem-aventurado Alano que, depois do Santo Sacrifício da Missa — que é o mais importante e o memorial vivo da Paixão de nosso santíssimo Senhor —, não pode haver devoção mais pura nem mérito maior do que o do Santo Rosário, que é como um segundo memorial e a representação da vida e Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. O padre Dorland diz que, em 1481, Nossa Senhora apareceu ao venerável Domingos, o cartuxo que viveu em Tréveris, e disse-lhe: “Sempre que o fiel, estando em estado de graça, reza o Rosário enquanto medita nos mistérios da vida e Paixão de Jesus Cristo, obtém a remissão completa e plena de todos os seus pecados veniais.”
Nossa Senhora também disse ao bem-aventurado Alano: “Quero que saibas que, apesar de já haver várias indulgências concedidas ao meu Rosário, acrescentarei muitas mais para cada cinquenta Ave-Marias (cada Terço), àqueles que as rezarem devotamente, de joelhos, estando, é claro, livres do pecado mortal. E todo aquele que perseverar na devoção do Santo Rosário, rezando estas orações e meditações, será recompensado por isso; eu lhe obtarei a remissão completa da pena e da culpa de todos os seus pecados no fim de sua vida. Não sejais incrédulos, pensando que isto seja impossível. É fácil para mim, pois sou a Mãe do Rei dos Céus, e Ele me chama ‘cheia de graças’. E, sendo cheia de graças, posso distribuí-las aos meus filhos.”
São Domingos ficou tão convencido da eficácia do Santo Rosário e de seu grande valor que, quando ouvia confissões, dificilmente recomendava outra penitência. Você já viu um desses fatos quando lhe contei sobre a senhora de Roma, a quem ele pediu apenas um Rosário como penitência. São Domingos foi um grande santo, e outros confessores deveriam seguir seu exemplo, pedindo que seus penitentes rezem o Rosário e, ao mesmo tempo, meditem nos mistérios sagrados, em vez de lhes dar penitências menos meritórias, menos agradáveis a Deus, de pouco proveito em virtude e com menor eficácia, pois o Rosário os ajudará a evitar a recaída no pecado. Além disso, enquanto se reza o Rosário, as pessoas ganham inúmeras indulgências que não estão ligadas a outras devoções.
O abade Blósio afirmou: “O Rosário recitado, unido à meditação sobre a vida e a Paixão de Jesus Cristo, é certamente sumamente agradável a nosso Senhor e à sua santíssima Mãe, além de constituir um meio eficaz de alcançar graças por nós mesmos, pelos outros por quem desejamos interceder e por toda a Igreja. Voltemo-nos, pois, ao Rosário em todas as nossas necessidades, e infalivelmente obteremos as graças que pedirmos a Deus para a salvação de nossas almas.”
 
Vigésima-Nona Rosa - Meios de Salvação
São Dionísio afirmou que não há nada mais nobre e agradável a Deus do que cooperar em sua obra de salvar almas e, assim, frustrar os planos do diabo para levá-las à ruína. O Filho de Deus veio à Terra por uma única razão: salvar as almas.
Assim, Ele derrotou o império de Satanás ao fundar a Igreja. No entanto, este reuniu suas forças e dividiu cruelmente as almas por meio da heresia albigense, do ódio, das discórdias e dos vícios abomináveis que se espalharam pelo mundo nos séculos XI, XII e XIII.
Só com medidas rigorosas se podiam curar desordens tão terríveis e repelir as forças de Satanás. A Santíssima Virgem, Protetora da Igreja, nos deu um poderosíssimo meio de apaziguar a ira de seu Filho, extirpar a heresia e reformar a moral cristã por meio da Confraria do Santo Rosário. Os fatos o comprovaram: reavivou-se a caridade, restaurou-se a frequência aos Sacramentos, como nos primeiros séculos de ouro da Igreja, e reformaram-se os costumes morais dos cristãos.
O papa Leão X afirmou, em sua bula, que a Confraria foi fundada em honra a Deus e à Santíssima Virgem, como uma muralha, a fim de combater os demônios que ameaçavam destruir a Igreja.
Gregório XIII afirmou que o Rosário nos foi dado do Céu como meio de aplacar a ira de Deus e implorar a intercessão de Nossa Senhora.
Júlio III afirma que o Rosário foi inspirado por Deus a fim de que o Céu fosse mais facilmente aberto a nós pelos favores de Nossa Senhora.
Paulo III e São Pio V declararam que o Rosário foi dado aos fiéis a fim de que pudessem alcançar mais facilmente a paz espiritual e a consolação. Certamente, todos desejarão inscrever-se em uma confraria fundada por propósitos tão nobres.
O padre Domingos, o cartuxo, grande devoto do Santo Rosário, teve esta visão: os Céus se abriram para ele, e toda a corte celeste estava reunida em maravilhosa ordem. Ele os ouviu cantar o Rosário em uma melodia encantadora, e cada dezena era em honra a um mistério da vida, Paixão e glória de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe. O padre Domingos percebeu que, sempre que diziam o santo nome de Maria, curvavam suas cabeças; e, ao nome de Jesus, ajoelhavam-se e davam graças a Deus pelo grande bem que Ele concedera ao Céu e à Terra por meio do Santo Rosário, que os membros da Confraria rezam aqui na Terra. Percebeu também que oravam por todos aqueles que praticavam essa devoção. Ele ainda viu inúmeras coroas feitas de flores lindas e perfumadas, preparadas para os que rezam devotamente o Rosário, e que, a cada vez que o rezam, uma nova coroa lhes é acrescentada, com a qual serão adornados nos Céus.
Essa santa visão do cartuxo se assemelha à que teve São João, o discípulo bem-amado. Ele viu uma multidão de anjos e santos que continuamente louvavam e bendiziam nosso Salvador Jesus Cristo por tudo o que Ele fez e sofreu na Terra para a nossa salvação. Eis precisamente o que fazem os devotos membros da Confraria do Rosário.
Não se deve pensar que o Rosário é apenas para mulheres ou para os simples e ignorantes; ele é também para os homens, inclusive os mais importantes. Assim que São Domingos comunicou ao papa Inocêncio III a ordem que havia recebido do Céu para estabelecer a Confraria do Santíssimo Rosário, o Santo Padre aprovou, exortou São Domingos a pregá-la e declarou que ele mesmo desejava ser membro da Confraria. Muitos cardeais também abraçaram essa devoção com grande fervor, de modo que López não hesitou em escrever: “Nem o sexo, nem a idade, nem qualquer outra condição têm afastado alguém da devoção ao Santo Rosário.”
Efetivamente, a Confraria se vê composta por todas as classes de pessoas: duques, príncipes, reis, prelados, cardeais e sumos pontífices. Seria demasiadamente longo citar seus nomes neste livreto, que é apenas um sumário. Se você se inscrever na Confraria, caro leitor, compartilhará da devoção de seus companheiros e das graças que eles obtêm na Terra, bem como da glória nos Céus. “Desde que esteja unido a eles nesta devoção, compartilhará de sua dignidade.”
 
Trigésima Rosa - Privilégio da Confraria
Se os privilégios de uma confraria e a conveniência de a ela se unir devem ser julgados de acordo com as indulgências que dela se obtêm, então pode-se dizer que a Confraria do Santíssimo Rosário é a mais valiosa, e que os fiéis devem nela ingressar com urgência. Eis por que ela tem sido recompensada com mais indulgências do que qualquer outra confraria da Igreja. Desde sua fundação, quase não houve um papa que não tenha aberto os Tesouros da Igreja para enriquecê-la com ainda mais privilégios.
Sabendo que o bom exemplo persuade mais do que palavras eruditas ou favores, o Sumo Pontífice percebeu que não havia maneira melhor de demonstrar sua profunda admiração pela Confraria do que ingressando ele mesmo nela.
A seguir, apresenta-se um resumo das indulgências que, de todo o coração, foram concedidas à Confraria do Santíssimo Rosário e que foram confirmadas novamente por nosso Santo Padre, o papa Inocêncio XI, em 31 de julho de 1679, tendo sido recebidas e tornadas públicas em 25 de setembro do mesmo ano por sua excelência, o arcebispo de Paris. (1)
(1) N.T. Leão XIII modificou esta lista de indulgências. Nós a pusemos aqui, porque assim é que se encontram nos manuscritos de São Luiz. Atualmente vigoram somente as que estão relacionadas no manual das indulgências.
1- Os membros podem ganhar uma indulgência no dia em que se ingressarem à Confraria;
2- Um indulgência plenária na hora da morte;
3- Para cada três grupos de Cinco Mistérios (Terço) rezados; dez anos e dez quarentenas.
4- Cada vez que os membros dizem os santos nomes de JESUS e Maria devotamente; sete dias de indulgências;
5- Sete anos e sete quarentenas podem ser ganhos por aqueles que devotamente participam ou assistem à Procissão do Santo Rosário;
6 – Os membros que fizerem uma boa confissão e estiverem genuinamente arrependidos de seus pecados podem obter uma indulgência plenária em determinadas datas, ao visitarem a Capela do Santo Rosário na igreja onde a Confraria está estabelecida. Essa indulgência plenária pode ser obtida nos primeiros domingos de cada mês e nas festas de nosso Senhor e de Nossa Senhora.
7 – Por participar da procissão Salve Rainha, cantada pelos dominicanos, concede-se cem dias de indulgência.
8 – Aqueles que usam o Rosário visivelmente sobre o corpo (no pescoço ou na cintura), em público, por devoção e como bom exemplo, podem obter cem dias de indulgência.
9 – Os membros enfermos, que não podem ir à igreja, podem obter uma indulgência plenária se, no mesmo dia, fizerem uma boa confissão, comungarem e rezarem o Rosário completo, se possível, ou ao menos um Terço.
10 – Nossos sumos pontífices têm demonstrado grande generosidade para com os confrades do Rosário, permitindo-lhes obter as indulgências ligadas às Estações de Roma, ao visitarem cinco altares na igreja onde a Confraria do Rosário está estabelecida, rezando o Pai-Nosso e a Ave-Maria cinco vezes diante de cada altar, pela santificação da Igreja. Se houver apenas um ou dois altares, deve-se recitar o Pai-Nosso e a Ave-Maria vinte e cinco vezes diante de um deles.
Este é um favor extraordinário concedido aos membros da Confraria, pois nas igrejas estacionais de Roma podem-se obter indulgências plenárias, livrar almas do Purgatório e alcançar muitas outras grandes indulgências com pouquíssimo esforço, sem despesas e sem necessidade de sair de seus próprios países. E, mesmo que uma Confraria não tenha sido fundada na região onde os membros vivem, é possível obter as mesmas indulgências visitando cinco altares de qualquer igreja. Essa concessão foi dada por Leão X.
A Sagrada Congregação das Indulgências estabeleceu uma lista de dias específicos para aqueles que não se encontram em Roma, a fim de que possam adquirir as indulgências das Estações de Roma. O Santo Padre aprovou essa lista em 7 de março de 1678 e ordenou que ela fosse estritamente observada. Essas indulgências podem ser obtidas nos seguintes dias:
Em todos os domingos do Advento; nos dias de jejum prescritos pela Igreja, na noite de Natal; nas Missas da Noite de Natal; nas Missas da Madrugada; na Terceira Missa; na Festa de São Estevão; na de São João Evangelista; na Festa dos Santos Inocentes (28 de Dezembro), Na Circuncisão e
Epifania; Na Ascensão de Nosso SENHOR; na Vigília de Pentecostes.
Caro membro da Confraria, há várias outras indulgências que você pode obter. Se deseja conhecê-las melhor, consulte a lista completa das indulgências concedidas aos membros da Confraria do Rosário. Nela, você encontrará os nomes dos papas que as outorgaram, os anos em que foram concedidas e muitos outros detalhes que não pude incluir neste livreto.
 
Trigésima-Primeira Rosa - Blanche de Castille, e Alphonsus VIII
Blanche de Castela, rainha da França, encontrava-se profundamente aflita, pois já se passavam doze anos de casamento e ainda não tinha filhos. utilizando São Domingos a visitou, aconselhou-a a rezar o Rosário diariamente, pedindo a Deus a graça de se tornar mãe. Ela seguiu fielmente o seu conselho e, em 1213, deu à luz seu primogênito, Filipe, que, no entanto, faleceu ainda na infância.
O fervor da rainha não se abalou com esse desapontamento; ao contrário, ela recorreu ao auxílio de Nossa Senhora com ainda mais fervor. Distribuiu rosários a todos os membros da corte e por muitas cidades de seu reino, pedindo que se unissem a ela na súplica a Deus por uma bênção — desta vez, completa. Assim, em 1215, nasceu São Luís, o príncipe que se tornaria a glória da França e o modelo de todos os reis cristãos.
Afonso VIII, rei de Aragão e Castela, levava uma vida desordenada e, por isso, havia sido punido por Deus de várias formas, entre as quais se destaca uma derrota em batalha, que o obrigou a refugiar-se em uma cidade pertencente a um de seus aliados.
São Domingos encontrava-se nessa cidade no dia de Natal, pregando o Santo Rosário, como sempre fazia, e mostrando as maravilhosas graças que podiam ser obtidas por meio dele. Mencionou, entre outras coisas, que aqueles que rezassem o Rosário com devoção venceriam seus inimigos e recuperariam tudo o que haviam perdido na batalha.
O rei ouviu atentamente e mandou chamar São Domingos, perguntando-lhe se tudo o que ele havia pregado sobre o Rosário era verdade. São Domingos lhe assegurou que nada poderia ser mais verdadeiro, e que, se praticasse essa devoção e se unisse à Confraria, ele mesmo veria os frutos. O rei resolveu firmemente rezar o Rosário todos os dias e perseverou durante um ano. Exatamente no Natal seguinte, Nossa Senhora apareceu-lhe ao final de seu Rosário e disse: “Alphonsus, tu me serviste por um ano, rezando devotamente o meu Rosário a cada dia; por isso, vim recompensar-te: obtive de meu Filho o perdão de teus pecados. E te dou este Rosário — usa-o, e eu te prometo que nenhum de teus inimigos será capaz de ferir-te novamente.”
Nossa Senhora desapareceu, deixando o rei imensamente feliz e encorajado. Ele foi imediatamente procurar a rainha para contar-lhe sobre a dádiva recebida de Nossa Senhora e a promessa que Ela lhe fizera. Colocou o Rosário junto aos olhos dela — pois havia se tornado cega algum tempo antes — e sua visão foi instantaneamente restaurada.
Algum tempo depois, o rei reuniu tropas com a ajuda de seus aliados e iniciou o ataque contra seus inimigos. Forçou-os a retirar-se do território que lhe pertencia e a reparar os danos causados, pondo-os em fuga. Tornou-se, de fato, tão afortunado nas guerras que soldados vinham de todas as partes para lutar ao seu lado, pois parecia que, sempre que ele ia à batalha, a vitória era certa.
Isso não é de se surpreender, pois ele jamais ia à batalha sem antes rezar devotamente o Rosário de joelhos. Fez com que todos os membros de sua corte ingressassem na Confraria do Sacratíssimo Rosário e cuidou para que também seus oficiais e servos fossem devotos do Rosário.
 
Trigésima-Segunda Rosa - Dom Perez
São Domingos tinha um primo chamado Dom Pérez, ou Pedro, que levava uma vida profundamente imoral. Ao ouvir que seu primo pregava sobre as maravilhas do Rosário, e que muitas pessoas haviam se convertido e reformado suas vidas por meio dessa devoção, exclamou:
“Eu havia perdido a esperança de ser salvo, mas agora começo a recobrar a confiança. Preciso ouvir esse homem de Deus.” Certo dia, ele foi assistir aos sermões de São Domingos. Quando o santo o avistou, passou a pregar sobre o pecado com ainda mais zelo que antes e, do profundo de sua alma, suplicou a Deus Todo-Poderoso que iluminasse seu primo e lhe revelasse o estado deplorável em que se encontrava.
A princípio, Dom Pérez pareceu comovido, mas ainda não estava disposto a se converter. Voltou mais uma vez para ouvir São Domingos pregar e, ao perceber que o coração de seu primo permanecia tão endurecido quanto antes, o santo entendeu que apenas algo extraordinário poderia levá-lo à conversão. Então, com voz elevada, exclamou: “Ó Senhor Jesus Cristo, permiti que toda esta congregação veja o estado espiritual do homem que acaba de entrar em Vossa Casa!”
Então Don Perez se ajoelhou, rezou o Rosário completo, e sentiu a necessidade de se confessar, e assim o fez com profunda contrição. São Domingos lhe ordenou que rezasse o Rosário diariamente; ele prometeu assim o fazer e pôs seu nome na lista da Confraria do Rosário de seu próprio punho.
São Domingos pediu a todos que permanecessem em silêncio e, dirigindo-se ao seu primo, disse: “Homem infeliz que és, reconhece o estado deplorável em que te encontras e lança-te aos pés de Nossa Senhora. Toma este Rosário, reza-o com devoção e com sincero arrependimento por todos os teus pecados, e faz uma firme resolução de mudar de vida.”
Então Don Perez se ajoelhou, rezou o Rosário completo e sentiu a necessidade de se confessar e assim o fez com profunda contrição. São Domingos lhe ordenou que rezasse o Rosário diariamente; ele prometeu assim o fazer e pôs seu nome na lista da Confraria do Rosário de seu próprio punho.
Ao sair da igreja, seu semblante já não era de horror, mas resplandecia com o brilho de um anjo. A partir de então, perseverou na devoção ao Santo Rosário, levou uma vida cristã exemplar e teve uma morte santa.
 
Trigésima-Terceira Rosa - Uma Possessão Diabólica
Quando São Domingos pregava o Rosário nas proximidades de Carcassona, trouxeram à sua presença um albigense que estava possuído pelo demônio. São Domingos realizou o exorcismo diante de uma grande multidão — estima-se que mais de doze mil pessoas haviam vindo ouvi-lo pregar. Os demônios que possuíam aquele infeliz foram obrigados, com grande constrangimento, a responder às perguntas de São Domingos. E disseram que:
1- "Havia quinze mil demônios no corpo daquele pobre homem, pois ele havia atacado os quinze mistérios do Rosário".
2- Eles continuaram a testemunhar que, quando São Domingos pregava o Rosário ele impunha medo e horror nas profundezas do inferno e que ele era o homem que eles mais odiavam em todo o Mundo, isto por causa das almas que ele arrancou dos demônios através da devoção ao Santo Rosário
3- Eles então revelaram várias outras coisas.
(1) Nota do Tradutor — Este incidente é mencionado por São Luís Maria Grignion de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, ao explicar que aqueles que amam a Nossa Senhora não se perdem. Cf. parágrafo 42.
São Domingos colocou seu Rosário em volta do pescoço do albigense e pediu aos demônios que revelassem quem, entre todos os santos do Céu, eles mais temiam — e quem, portanto, deveria ser mais amado e reverenciado pelos homens. Nesse momento, os demônios soltaram um gemido tão inexprimível que a maioria das pessoas caiu por terra, desmaiando de medo. Então, usando de astúcia para não responder diretamente, começaram a chorar e a prantear de forma tão lamentável que muitos da multidão, tocados por compaixão natural, também se puseram a chorar. Os demônios, falando pela boca do albigense, com voz dolorida, disseram: “Domingos! Domingos! Tem piedade de nós! Prometemos que nunca te faremos mal. Sempre tiveste compaixão dos pecadores e dos que estão na miséria — tem piedade de nós, pois estamos padecendo! Já sofremos tanto... por que te comprazes em aumentar nossas penas? Não te basta o tormento que já suportamos? Por que insistes em aumentá-lo? Tem piedade de nós! Tem piedade de nós!”
Mal havia terminado de orar, quando viu ao seu lado uma chama ardente sair dos ouvidos, narinas e boca do albigense. Todos tremeram de medo, mas o fogo não feriu ninguém. Então, os demônios disseram:
“Domingos, nós te imploramos, pela Paixão de Jesus Cristo, pelos méritos de Sua Santíssima Mãe e de todos os santos: deixa-nos sair deste corpo sem que tenhamos de dizer mais nada, pois os Anjos responderão à tua pergunta a qualquer momento. Além disso, não somos nós mentirosos? Por que haveriam, então, de acreditar em nós? Não nos atormentes mais — tem piedade de nós!”
“Pior para vocês, espíritos desgraçados e indignos de serem ouvidos”
São Domingos ajoelhou-se e orou a Nossa Senhora: “Ó digníssima Mãe da Sabedoria, rogo pelas pessoas aqui reunidas, que já aprenderam a rezar devotamente a Saudação Angélica. Suplico-vos: constrangei vossos inimigos a proclamar toda a verdade — e nada mais que a verdade — aqui e agora, diante desta multidão.”
São Domingos mal havia terminado a oração quando viu a Santíssima Virgem ao seu lado, rodeada por uma multidão de Anjos. Ela segurava um cajado de ouro e, com ele, tocou o homem possesso, dizendo: “Responde imediatamente ao meu servo Domingos.” (Convém lembrar que apenas São Domingos viu e ouviu Nossa Senhora; as pessoas ao redor nada perceberam.) Então, os demônios começaram a gritar:
“Ó vós, que sois nossa inimiga, nossa ruína e nossa destruição — por que descestes do Céu apenas para nos torturar tão cruelmente? Ó Advogada dos pecadores, vós que os arrancais das garras do inferno, vós que sois o caminho seguro para o Céu, devemos nós, para nossa própria desgraça, dizer toda a verdade e confessar diante de todos quem é a causa de nossa vergonha e de nossa ruína? Ai de nós, príncipes das trevas! Então, escutem bem, cristãos: a Mãe de Jesus Cristo é onipotente em sua intercessão, e ela pode salvar seus servos da condenação eterna. Ela é o Sol que dissipa as trevas da nossa astúcia e sutileza. É ela quem revela nossos planos ocultos, desfaz nossas armadilhas e torna inúteis e ineficazes as nossas tentações.”
Somos obrigados a confessar — embora com relutância — que nenhuma alma que realmente perseverou em seu serviço foi condenada conosco. Um simples suspiro que ela oferece à Santíssima Trindade é mais precioso do que todas as orações, desejos e aspirações de todos os santos juntos.
Nós a tememos mais do que a todos os santos do Céu reunidos, e não temos qualquer êxito contra os seus fiéis servos. Muitos cristãos que a invocam na hora da morte — e que, segundo nossos critérios ordinários, estariam destinados à condenação — são salvos por sua intercessão.
Oh, se ao menos essa Maria — assim a chamaram em sua fúria — não tivesse se oposto aos nossos desígnios e esforços, já teríamos conquistado a Igreja e a teríamos destruído há muito tempo! Teríamos feito com que todas as Ordens da Igreja caíssem no erro e na desordem.
Agora que somos forçados a falar, também confessamos isto: nenhum dos que perseveram na recitação do Rosário será condenado, pois ela obtém para seus servos a graça da verdadeira contrição por seus pecados; e, por meio dele, alcançam o perdão e a misericórdia de Deus.
Então, São Domingos fez com que todos rezassem o Rosário bem devagar e com grande devoção. Algo maravilhoso aconteceu: a cada Ave Maria que ele e o povo recitavam, um grande grupo de demônios saía do corpo do infeliz, em forma de brasas acesas.
Quando todos os demônios foram expulsos e o herege se viu completamente livre deles, Nossa Senhora — que ainda permanecia invisível — concedeu sua bênção ao povo reunido, e todos se encheram de alegria.
Muitos hereges se converteram por causa desse milagre e ingressaram na Confraria do Santíssimo Rosário.
 
Trigésima-Quarta Rosa - Simon de Montfort, Alano de Lanvallay e Otéro
É quase inacreditável o número de vitórias que o Conde Simão de Montfort obteve contra os albigenses, sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário. Essas vitórias foram tão extraordinárias que o mundo ainda não viu nada semelhante. Certa vez, ele venceu dez mil hereges com uma tropa de apenas quinhentos homens; em outra ocasião, derrotou três mil com apenas trinta combatentes. Por fim, com oitocentos cavaleiros e mil soldados de infantaria, expulsou o exército do Rei de Aragão, que contava com cem mil homens, perdendo de seu lado apenas um cavaleiro e oito soldados!
Nossa Senhora também protegeu Alano de Lanvallay, um nobre bretão, de grandes perigos. Ele também lutava pela fé contra os albigenses. Certa vez, quando se viu cercado por todos os lados pelos inimigos, Nossa Senhora fez cair cento e cinquenta rochas sobre eles, libertando-o de suas mãos. Em outra ocasião, quando seu navio estava prestes a afundar, a Santíssima Mãe fez surgir cento e cinquenta pequenas colinas sobre as águas, pelas quais ele conseguiu chegar com segurança à Bretanha.
Em ação de graças a Nossa Senhora por todos os milagres que ela realizou em seu favor, em resposta à recitação diária do Rosário, ele ergueu um mosteiro em Dinan para os religiosos de São Domingos. Posteriormente, tornou-se religioso e morreu santamente em Orléans.
Otero era outro soldado bretão, de Vaucouleurs, que costumava pôr em fuga grupos inteiros de hereges ou ladrões sem qualquer ajuda, apenas usando seu Rosário no braço ou preso ao punho da espada. Certa vez, após combatê-los e vencê-los, seus inimigos admitiram que tinham visto sua espada brilhar e, em outra ocasião, perceberam que havia um escudo em seu braço, com imagens de Nosso Senhor, Nossa Senhora e dos santos. Esse escudo o tornava invisível e lhe dava forças para atacar com mais eficácia.
Em outra ocasião, ele venceu vinte mil hereges com apenas dez companhias, sem perder um único soldado. Isso impressionou tanto o general do exército derrotado que este, posteriormente, veio pessoalmente ao encontro de Otero, renunciou à heresia e declarou publicamente que o havia visto coberto por espadas de fogo durante o combate.
 
Trigésima-Quinta Rosa - Cardeal Pierre
O Bem-aventurado Alano relata que um certo Cardeal Pedro, cuja igreja titular era Santa Maria além do Tibre, era bom amigo de São Domingos e aprendeu com ele uma grande devoção ao Santíssimo Rosário. Gostou tanto dessa devoção que nunca cessava de louvá-la e recomendava a todos que a abraçassem.
Eventualmente, ele foi enviado como legado à Terra Santa com os cristãos que lutavam contra os sarracenos. Conseguiu convencer o exército cristão do poder do Rosário, de modo que todos começaram a recitá-lo, pedindo o auxílio dos Céus para uma batalha na qual sabiam estar em desvantagem numérica. Isso resultou em uma vitória: três mil cristãos triunfaram sobre o exército inimigo, que contava com cem mil soldados. Como vimos, os demônios temem e se sentem oprimidos pelo Rosário. São Bernardo afirma que a Saudação Angélica os põe em fuga e faz tremer o inferno.
O Bem-aventurado Alano afirma ter visto várias pessoas serem libertadas de Satanás após abraçarem a devoção ao Rosário — isto é, rezando-o e meditando-o diariamente — mesmo tendo, anteriormente, vendido seu corpo e alma ao demônio, por meio da renúncia aos votos batismais e à aliança com Nosso Senhor Jesus Cristo.
 
Trigésima-Sexta Rosa - Liberta de satanás
Em 1578, uma mulher em Antuérpia vendeu-se ao diabo e assinou um contrato com seu próprio sangue. Pouco tempo depois, arrependeu-se profundamente e desejou reparar esse terrível erro. Procurou, então, um confessor sábio e piedoso, que a aconselhou a procurar o padre Henrique, da Ordem dos Dominicanos, diretor da Confraria do Rosário naquela cidade, para confessar-se e solicitar sua inscrição na Confraria.
Ela foi ao seu encontro, mas, em vez de encontrar o padre Henrique, deparou-se com o demônio disfarçado de sacerdote dominicano. Este a repreendeu impiedosamente e disse-lhe que jamais deveria esperar receber, enquanto vivesse, o perdão de Deus Todo-Poderoso, e que não havia qualquer maneira de anular o contrato firmado com ele. Aquelas palavras causaram-lhe profunda tristeza; ainda assim, ela não perdeu a esperança na misericórdia de Deus e voltou a procurar o verdadeiro padre Henrique. Contudo, pela segunda vez, encontrou novamente o demônio disfarçado, que a repreendeu mais uma vez. Na terceira tentativa, pela Providência Divina, encontrou finalmente o padre Henrique em pessoa, o sacerdote que de fato procurava.
Um dia, enquanto o padre Henrique celebrava a Missa por ela, Nossa Senhora obrigou Satanás a devolver o contrato que ela havia assinado. Assim, foi libertada do poder do demônio pela autoridade de Maria, por meio da devoção ao Santíssimo Rosário.
 
Trigésima-Sétima Rosa - A Reforma de um Mosteiro
Um nobre, que tinha muitas filhas, colocou uma delas em um mosteiro completamente negligente, onde as freiras eram vaidosas e se ocupavam apenas com os prazeres mundanos. O confessor das religiosas, por outro lado, era um padre zeloso, com grande amor pelo Santo Rosário. Com o intuito de guiar essa freira a uma vida melhor, ordenou-lhe que recitasse o Rosário diariamente, em honra à Santíssima Virgem, meditando, ao mesmo tempo, sobre a vida, a Paixão e a glória de Jesus.
Ela assumiu com alegria o compromisso de rezar o Rosário e, pouco a pouco, passou a detestar os hábitos caprichosos de suas irmãs de religião. Desenvolveu um amor pelo silêncio e pela oração, apesar de ter sido rejeitada e ridicularizada pelas demais, que a chamavam de fanática.
Naqueles dias, um santo pregador chegou em visita ao mosteiro e, enquanto meditava, teve uma estranha visão: Viu uma freira em sua cela, embevecida em oração, ajoelhada diante de uma Senhora de indescritível beleza, cercada por Anjos. Estes empunhavam flechas em chamas, com as quais repeliam uma multidão de demônios que tentavam entrar. Os espíritos malignos, então, fugiram para as celas das outras freiras, assumindo a forma de animais imundos.
Por meio dessa visão, o sacerdote tomou consciência do lamentável estado em que se encontrava o mosteiro e ficou tão abalado que quase morreu de pesar. Imediatamente, reuniu as religiosas mais jovens e exortou-as a perseverarem.
Refletindo logo sobre a excelência do Rosário, o sacerdote decidiu tentar reformar as irmãs por meio dessa devoção. Adquiriu vários rosários de rara beleza e os distribuiu entre as freiras, suplicando que rezassem o Rosário todos os dias. E mais: pediu-lhes que prometessem fazê-lo com fidelidade, assegurando que, se assim o fizessem, ele não tentaria forçá-las a mudar seu estilo de vida. Por mais estranho que pareça, de maneira admirável, as freiras aceitaram o acordo com alegria, receberam os rosários com entusiasmo e prometeram rezá-los.
Pouco a pouco, as freiras começaram a abandonar suas ocupações vazias e mundanas, permitindo que o silêncio e o recolhimento invadissem suas vidas. Em menos de um ano, todas elas pediram que o mosteiro fosse reformado.
Assim, o Santo Rosário operou mais mudanças em seus corações do que o sacerdote teria conseguido por meio da exortação e da autoridade.
 
Trigésima-Oitava Rosa - A Devoção de um Bispo
Uma condessa espanhola, que havia aprendido sobre o Santo Rosário por meio de São Domingos, costumava recitá-lo fielmente, colhendo frutos maravilhosos para sua vida espiritual. Como seu único desejo era alcançar a perfeição, certa vez perguntou a um bispo — conhecido por ser um pregador íntegro — que lhe indicasse algumas práticas que a ajudassem a tornar-se perfeita.
O bispo respondeu que, antes de lhe dar qualquer conselho, precisava primeiro conhecer o estado de sua alma e também quais exercícios espirituais ela praticava. A condessa respondeu que seu principal exercício era o Santo Rosário, que ela recitava diariamente, meditando nos Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos, e que sua alma havia recebido grandes auxílios por esse meio.
O bispo ficou maravilhado ao ouvi-la explicar as lições inestimáveis contidas nos mistérios. Disse-lhe: “Sou doutor em Teologia há mais de vinte anos e já li muitos livros excelentes com diversas práticas devocionais, mas nunca encontrei uma tão valiosa quanto esta. Ela é a essência do cristianismo e uma devoção que só pode produzir bons frutos. Seguirei o seu exemplo e, a partir de agora, pregarei o Rosário.”
As pregações do bispo passaram a produzir grandes frutos, pois, em pouquíssimo tempo, sua diocese transformou-se para melhor. Houve um declínio notável na imoralidade, no mundanismo de todos os tipos e nos jogos de azar. Registraram-se vários casos marcantes: pessoas retornando à fé, pecadores reparando seus crimes e outros, de forma sincera, abandonando os vícios. O fervor religioso e a caridade cristã começaram a florescer visivelmente. Essas mudanças tornaram-se ainda mais significativas, pois o bispo havia tentado, sem sucesso, reformar sua diocese por muito tempo.
A fim de propagar melhor a devoção ao Santo Rosário, o bispo levava sempre consigo um belo Rosário e o mostrava à congregação enquanto pregava. Costumava dizer:
“Meus caros irmãos em Jesus Cristo, sou doutor em Teologia, em Direito Canônico e em Direito Civil. Mas digo-lhes, como seu bispo, que tenho mais orgulho em usar o Rosário de Nossa Senhora do que qualquer regalia episcopal ou beca acadêmica.”
 
Trigésima-Nona Rosa - A Paróquia Transformada
Um padre dinamarquês costumava contar com orgulho que obtivera o mesmo resultado ocorrido na diocese do bispo em sua própria paróquia. Frequentemente relatava esse fato com grande regozijo da alma, pois isso dava glória ao Deus Todo-Poderoso. Ele dizia:
“Preguei com toda a convicção de que fui capaz, abordando diversos aspectos de nossa santa fé e utilizando todos os argumentos plausíveis para levar as pessoas à conversão. No entanto, apesar de todo o meu esforço, continuavam tão indiferentes quanto antes. Foi então que resolvi pregar o Santo Rosário.”
Disse à minha congregação quão precioso é o Santo Rosário e ensinei-lhes a rezá-lo. Continuei a pregá-lo, e a devoção enraizou-se profundamente em minha paróquia. Seis meses depois, já me regozijava ao ver que aquelas pessoas haviam mudado para melhor. Como é verdadeiro que a oração que vem de Deus possui poder divino — o poder de tocar nossos corações, enchê-los de horror ao pecado e de amor às virtudes.”
Um dia, Nossa Senhora disse ao Bem-aventurado Alano: “Assim como o Deus Todo-Poderoso escolheu a Saudação Angélica para realizar a Encarnação de Sua Palavra e a Redenção da humanidade, da mesma forma, aqueles que desejarem promover reformas morais e fazer com que as pessoas renasçam em Jesus Cristo devem honrar-me e saudar-me com essa mesma saudação. Eu sou o canal pelo qual Deus veio aos homens; estou junto de meu Filho, Jesus Cristo, e é por meio de mim que os homens obtêm graça e virtude.”
Quanto a mim, que escrevo estas páginas, aprendi por experiência própria que o Rosário tem o poder de converter até mesmo o coração mais endurecido. Conheci pessoas que participaram de missões e ouviram sermões sobre as verdades mais aterrorizantes, sem se comoverem minimamente. No entanto, após começarem a rezar o Rosário diariamente, segundo meu conselho, acabaram por se converter e entregar-se completamente a Deus.
Quando volto a visitar as paróquias onde preguei missões, noto uma diferença tremenda. Naquelas em que as pessoas haviam abandonado o Rosário, geralmente retornaram ao modo de vida pecaminoso. Já nos lugares onde o Rosário era rezado fielmente, encontrei os fiéis perseverando na graça de Deus e progredindo, dia após dia, na virtude.
 
Quadragésima Rosa - Os Efeitos Admiráveis
O Bem-aventurado Alano de La Roche, o Padre João Dumont, o Padre Tomás, as crônicas de São Domingos e outros escritores que testemunharam essas coisas com seus próprios olhos relatam as conversões maravilhosas realizadas por meio do Santo Rosário. Grandes pecadores, homens e mulheres, converteram-se após vinte, trinta ou até quarenta anos de pecado e vícios indescritíveis, porque perseveraram na recitação do Santo Rosário. E eram pessoas que, anteriormente, se mostravam totalmente surdas a qualquer tipo de admoestação! Não tratarei aqui dessas conversões extraordinárias, pois não desejo alongar demais este livro. Também não mencionarei os casos que presenciei pessoalmente, por diversas razões que me levam a preferir não abordá-los. (1)
(1) N.T. – Eis um exemplo da humildade de São Luis! Parece mais que provável que o próprio obteve favores extraordinários e tenha testemunhado milagres, contudo ele parece relutar em falar do assunto.
Caro leitor, prometo-lhe que, se praticar esta devoção e ajudar a divulgá-la, aprenderá mais sobre o Rosário do que em qualquer livro espiritual. Além disso, terá a felicidade de ser recompensado por Nossa Senhora, conforme as promessas que ela mesma fez a São Domingos, ao Bem-aventurado Alano de La Roche e a todos os que praticam e promovem esta devoção tão querida a ela. O Santo Rosário ensina as virtudes de Jesus e Maria, conduz à oração mental e à imitação de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele nos orienta a buscar com frequência os Sacramentos, a lutar pelas virtudes cristãs e a praticar toda sorte de boas obras, além de proporcionar valiosas indulgências que podem ser obtidas por meio de sua recitação.
As pessoas geralmente desconhecem quão rico é o Rosário em indulgências. Isso ocorre porque muitos pregadores, ao falarem sobre o Rosário, raramente mencionam as indulgências, contentando-se em fazer sermões estilizados, que muitas vezes causam admiração, mas pouco ensinam.
Direi apenas isto: asseguro-lhes, com as palavras do Bem-aventurado Alano de La Roche, que o Santo Rosário é a raiz de um tesouro de inumeráveis bênçãos. Pois, por meio do Santo Rosário:
1- Os pecadores são perdoados;
2- As almas que têm sede são saciadas;
3- Aos acorrentados se rompem as correntes;
4- A alegria é devolvida aos que choram;
5- Os que são tentados encontrarão paz;
6- O pobre encontrará auxílio;
7- Os religiosos serão reformados;
8- Os ignorantes serão instruídos;
9- Os orgulhosos vencerão o orgulho;
10- As almas do Purgatório terão suas penas aliviadas pelos sufrágios.
Um dia Nossa Senhora disse ao Bem-aventurado Alano: “Quero que as pessoas que têm devoção ao meu Rosário obtenham a graça e a bênção de meu Filho durante a vida e na hora da morte. E, após a morte, desejo que sejam libertas de toda escravidão, para que sejam como verdadeiros reis, com coroas na cabeça, cetros nas mãos e gozando da glória eterna.” Amém. Assim seja.
PARTE II - Como rezar o Rosário

 
Quadragésima-Primeira Rosa - A pureza da Intenção
Não é tanto a duração de uma oração que agrada a Deus Todo-Poderoso e toca o Seu Coração, mas sim o fervor com que ela é rezada. Mais vale uma única Ave-Maria rezada com devoção e fé do que cento e cinquenta rezadas com distração. A maioria dos católicos reza o Rosário — todos os quinze mistérios, um Terço ou ao menos algumas dezenas. Então, por que tão poucos abandonam seus pecados e progridem na vida espiritual? Com certeza, é porque não rezam como se deve! É necessário refletir seriamente sobre a forma como oramos, se realmente desejamos agradar a Deus e nos tornarmos santos.
Para que o Rosário seja rezado com fruto, é necessário estar em estado de graça ou, ao menos, estar sinceramente decidido a abandonar o pecado mortal. Sabemos disso porque os teólogos nos ensinam que as boas obras e as orações tornam-se obras mortas quando praticadas em estado de pecado mortal. Elas não são agradáveis a Deus, nem podem nos ajudar a alcançar a vida eterna. É por isso que o livro do Eclesiástico afirma: “O louvor não tem beleza na boca do pecador” (Eclo 15,9). Louvores a Deus, a Ave-Maria e o Pai-Nosso não agradam a Deus quando são rezados por pecadores não arrependidos.
Nosso Senhor disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mc 7,6) É como se Ele dissesse:
“Aqueles que se inscrevem na Minha Confraria e rezam o Rosário todo tia (até mesmo as quinze dezenas), mas sem se arrependerem de seus
pecados, Me honram com os lábios apenas, mais seus corações estão longe de Mim.”
Eu disse que, para rezar o Rosário com proveito, devemos estar em estado de graça ou, pelo menos, com firme resolução de abandonar o pecado, especialmente os pecados mortais. Em primeiro lugar, é certo que Deus só ouve as orações daqueles que estão em estado de graça — e daí poderia se concluir erroneamente que as pessoas em pecado mortal não deveriam rezar. Esse ensino, porém, é incorreto e condenado pela Santa Mãe Igreja, pois é certo que os pecadores necessitam rezar muito mais do que os justos. Seria uma doutrina horrível afirmar que seria fútil ou inútil dizer a um pecador para rezar, mesmo que fosse apenas parte do Rosário, porque isso "nunca o ajudaria".
Em segundo lugar, porque, se os pecadores ingressam em uma confraria e rezam o Rosário — ou qualquer outra devoção — sem a clara intenção de abandonar o pecado, tornam-se falsos devotos. Esses devotos impenitentes, escondidos sob um manto, usando escapulário e com o Rosário na mão, clamam: “Ave, Maria! Boa Mãe! Santa Maria!...” E, ao mesmo tempo, por meio de seus pecados, crucificam novamente Nosso Senhor Jesus Cristo, dilacerando sua carne outra vez. É uma grande tragédia, pois até mesmo dentro das santíssimas confrarias de Nossa Senhora, algumas almas se precipitaram no fogo do Inferno.
Nós sinceramente aconselhamos a todos a rezar o Santíssimo Rosário: aos justos, a fim de que perseverem e cresçam na graça de DEUS; - aos pecadores, para que saiam dos seus pecados.
Mas não agrada, nem pode agradar a Deus, que se exorte um pecador a transformar o manto protetor da Santíssima Virgem em um manto de condenação, servindo-lhe apenas para ocultar seus crimes aos olhos do público. O Rosário — que é remédio para todos os nossos males — seria, então, convertido em veneno mortal e funesto. “A corrupção do melhor se torna o pior!”
O sábio Cardeal Hugo afirma: “É necessário ser puro como um Anjo para se aproximar da Santíssima Virgem e rezar a Saudação Angélica.”
Um dia, Nossa Senhora apareceu a um homem de vida imoral, dentro de um cesto cheio de frutos — mas o próprio cesto estava repleto de imundícies. O homem ficou horrorizado com o que viu, e Nossa Senhora lhe disse: “Tu me serves assim! Apresentas-me belíssimas rosas em um cesto imundo. Julgas tu mesmo que posso aceitar presentes dessa espécie?”
 
Quadragésima-Segunda Rosa - Com atenção
Para orar bem, não basta expressar nossos pedidos por meio da mais excelente de todas as orações — o Rosário —, mas é necessário rezar com plena concentração, pois Deus ouve mais a voz do coração do que a da boca. Tornar-se culpado de distrações voluntárias durante a oração demonstra grande falta de respeito e reverência, tornando a oração infrutífera e podendo nos tornar culpados de pecado.
Como podemos esperar que Deus nos ouça, se nós mesmos não prestamos atenção ao que estamos dizendo? Como esperar que Ele se agrade, se, estando na presença de Sua Santa Majestade, nos distraímos como crianças correndo atrás de borboletas? As pessoas que agem assim perdem o direito às bênçãos de Deus Todo-Poderoso, que podem se transformar em desgraças, pois estão rezando com falta de respeito. “Maldito aquele que faz a obra do Senhor com negligência!” (Jr 48,10)
Certamente, não se pode rezar o Rosário sem que haja algumas distrações involuntárias, pois é difícil rezar até mesmo uma Ave Maria sem que a imaginação nos perturbe um pouco — já que nossa mente raramente permanece em silêncio. No entanto, é possível rezar o Rosário sem dar atenção a essas distrações, devendo-se preveni-las de diversas maneiras, a fim de manter a imaginação sob controle.
Tendo isso em mente, coloque-se na presença de Deus e imagine que o Deus Todo-Poderoso e Sua Santíssima Mãe estão a observá-lo, e que seu Anjo da Guarda está à sua direita, recolhendo as Ave-Marias — se bem rezadas — para usá-las como rosas com as quais coroará Jesus e Maria. Mas lembre-se: à sua esquerda, esconde-se o demônio, espreitando, pronto para se apoderar de cada Ave-Maria que se desvie e vá em sua direção, a fim de anotá-la em seu livro da morte. Tenha certeza de que ele tomará para si cada Ave-Maria que não for rezada com atenção, devoção e reverência.
Acima de tudo, não se esqueça de oferecer cada dezena em honra de um dos mistérios e, enquanto estiver rezando, procure imaginar, em sua mente, Jesus e Maria em conexão com esse mistério.
Lê-se na vida do Bem-aventurado Hermann, padre premonstratense, que, quando rezava o Rosário com atenção e devoção, meditando nos mistérios, Nossa Senhora costumava aparecer-lhe resplandecente em majestade e de beleza surpreendente. Com o tempo, no entanto, seu fervor esfriou, e ele passou a rezar o Rosário de maneira apressada, sem a devida atenção. Então, um dia, Nossa Senhora apareceu-lhe novamente, mas, desta vez, com o semblante enrugado e triste. O Bem aventurado Hermann ficou surpreso com a mudança, e Nossa Senhora explicou: — É assim que pareço para ti, Hermann. É assim que tens me tratado na tua alma: como uma mulher desprezível e sem importância alguma. Por que não me saúdas mais com respeito e atenção, meditando nos meus mistérios e louvando os meus privilégios?
 
Quadragésima-Terceira Rosa - Lutando contra as Distrações
Quando o Rosário é bem rezado, ele dá a Jesus e Maria mais glória e é mais meritório para a alma do que qualquer outra oração. No entanto, é também a mais difícil de ser rezada com devoção e perseverança, especialmente por causa das distrações quase inevitáveis, decorrentes da constante repetição das mesmas palavras.
Quando se reza o Pequeno Ofício da Virgem, os Sete Salmos Penitenciais ou qualquer outra oração que não seja o Rosário, a variedade de palavras e expressões mantém nossa atenção, impedindo que a imaginação divague, o que facilita a oração. Por outro lado, devido à constante repetição do mesmo Pai-Nosso e da Ave-Maria, sempre na mesma forma e sem variação, é difícil rezar o Rosário sem se cansar, cochilar ou pensar em outras orações, que parecem mais refrescantes e menos monótonas. Isso demonstra que é necessária uma devoção ainda maior para perseverar na oração do Santo Rosário do que na recitação de qualquer outra oração, mesmo os Salmos de Davi.
Nossa imaginação, que dificilmente permanece quieta por um minuto, torna nossa tarefa ainda mais difícil; além disso, há o demônio, que nunca se cansa de tentar nos distrair e impedir que oremos. Não se pode imaginar o quanto o maligno se empenha para nos prejudicar quando estamos engajados na oração do Rosário contra ele.
Por sermos humanos, facilmente nos cansamos e ficamos desatentos; mas o demônio faz com que essas dificuldades se tornem ainda maiores quando estamos rezando o Rosário. Mesmo antes de começarmos, ele nos faz sentir tédio, distração ou cansaço. E, quando começamos a rezar, ele nos oprime de todos os lados. Após muitas dificuldades e distrações, ao terminarmos, ele nos sussurra: “O que você acabou de fazer é inútil. Não adianta rezar o Rosário. Você deveria estar fazendo outras coisas. Está apenas desperdiçando tempo ao rezar sem atenção; meia hora de meditação ou algum tipo de leitura espiritual lhe faria muito mais proveito. Amanhã, quando estiver se sentindo menos cansado, você rezará melhor. Deixe para terminar o Rosário amanhã.” Utilizando esse tipo de artifício, o demônio nos leva a abandonar o Rosário por completo ou a rezá-lo raramente, levando-nos a substituí-lo por outro tipo de devoção.
Caros membros da Confraria do Rosário, não deem ouvidos ao demônio, mas tenham bom ânimo. Mesmo que sua imaginação o perturbe durante o Rosário, distraindo sua mente com todos os tipos de pensamentos aleatórios, não se aflija, desde que esteja tentando afastá-los assim que surgem. Lembrem-se sempre de que o melhor Rosário é o que tem mais mérito — e há mais mérito em rezar quando é difícil do que quando é fácil. A oração é muito mais desafiadora quando, falando em termos naturais, a mente está dispersa e cheia de pequenas “formigas e moscas” que perturbam nossa imaginação contra a nossa vontade, raramente permitindo que desfrutemos da paz e da beleza do que estamos rezando.
Mesmo que você tenha que lutar contra as distrações durante todo o Rosário, esteja certo de perseverar bem, com as armas nas mãos — ou seja, não pare de rezar seu Rosário, mesmo que pareça difícil e você não sinta absolutamente nenhuma devoção sensível. Trata-se de uma batalha terrível, eu sei, mas é uma luta proveitosa para a alma fiel. Se você não usar as armas, ou seja, se desistir de rezar o Rosário, estará se rendendo, e então, tendo vencido, o demônio o deixará entregue ao abandono.
Entretanto, no Dia do Julgamento, ele zombará de você por causa da sua falta de fé e perseverança. “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito” (Lc 16,10). Aquele que luta fielmente contra as mais simples distrações ao rezar a mais humilde oração, também será fiel nas grandes obras. Podemos ter absoluta certeza disso, porque foi o ESPÍRITO SANTO quem nos afirmou.
Portanto, todos vocês, amorosos servos de Nosso Senhor JESUS CRISTO e da Santíssima Virgem, que já estão convictos de que devem rezar o Rosário diariamente, sejam perseverantes e animados. Não permitam que as "moscas" — como chamo as distrações com as quais vocês têm que lutar durante a oração — os façam abandonar covardemente a companhia de JESUS e Maria, em cuja santa presença nos encontramos sempre que rezamos o Rosário. A seguir, algumas sugestões para se livrar das distrações.
 
Quadragésima-Quarta Rosa - Um bom Método
Quando você pedir ao ESPÍRITO SANTO, que o ajude a rezar bem, ponha-se na presença de DEUS e ofereça as dezenas na maneira que logo lhe mostrarei.
Antes de começar uma dezena, faça uma pausa — conforme o tempo de que você dispõe — e contemple o mistério que será honrado. Lembre-se de sempre rogar a DEUS Todo-Poderoso, por meio desse mistério e da intercessão da Santíssima Mãe, que lhe conceda as virtudes que nele resplandecem ou alguma da qual você precise em particular.
Cuide-se para não cair nos defeitos mais comuns que se cometem ao rezar o Rosário:
- O primeiro perigo é o de não se pedir graça alguma, de modo que, ao se perguntar qual é a intenção do Rosário, não se saiba o que responder. Por isso, sempre que rezar o Rosário, tenha certeza de pedir uma graça especial. Suplique o auxílio de DEUS para crescer em alguma das principais virtudes cristãs ou para vencer os seus pecados.
- O segundo grande defeito que muitas pessoas cometem ao rezar o Rosário é querer apenas terminá-lo o quanto antes. Isso acontece porque muitos de nós enxergam o Rosário como um fardo — e ele realmente se torna mais pesado quando deixamos de rezá-lo, especialmente se pesa na consciência por termos prometido rezá-lo regularmente ou por precisarmos rezá-lo como penitência, mais ou menos contra a nossa vontade.
É realmente lamentável ver como a maioria das pessoas reza o Santo Rosário. Elas o fazem de forma extremamente apressada e murmurada, a ponto de as palavras não serem pronunciadas com clareza. Não se pode esperar que alguém — mesmo o mais humilde — considere uma saudação tão relaxada como um verdadeiro cumprimento. E, no entanto, esperamos que JESUS e Maria se sintam satisfeitos com isso! Não é de se espantar que as santíssimas orações de nossa santa religião pareçam não produzir frutos, e que, após rezarmos milhões de Rosários, continuemos os mesmos de antes! Caros confrades, imploro-lhes que diminuam o ritmo natural, que tende à pressa, e façam várias pausas ao rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Eu coloquei uma cruz em cada pausa, como você verá:
PAI Nosso, que estais no Céu, ┼ santificado seja o Vosso nome, ┼ venha o Vosso Reino, ┼ seja feita a Vossa vontade, ┼ assim na Terra como no céu. ┼ O pão nosso de cada dia nos dai hoje; ┼ e perdoai as nossas dividas, ┼ assim como nós perdoamos os nossos devedores; ┼ e não nos deixei cair em tentação, ┼ mas livrai-nos do mal. Amém.
Ave Maria, cheia de graça, ┼ o SENHOR é convosco, ┼ bendita sois vós entre as mulheres ┼ e bendito é o fruto do vosso ventre, JESUS. Santa Maria, Mãe de Deus, ┼ rogai por nós pecadores, ┼ agora e na hora de nossa morte. Amém
A princípio, você achará difícil utilizar essas pausas, por causa do mau hábito de rezar suas orações com pressa; mas uma dezena rezada com calma e concentração será melhor do que mil Rosários rezados com pressa, sem qualquer pausa ou reflexão.
O Bem-aventurado Alano de La Roche e outros escritores (incluindo São Roberto Belarmino) relatam o incidente de como um bom confessor aconselhou três de suas penitentes, que eram irmãs, a rezarem o Rosário completo durante um ano, sem faltar nem um dia. Isso, para que fossem feitas belas mantas de glória a Nossa Senhora pela oração de seus Rosários. Tratava-se de um segredo que o sacerdote havia recebido do Céu.
Então, as três irmãs rezaram fielmente o Rosário por um ano e, durante a Festa da Purificação, a Virgem Santíssima apareceu a elas à noite, quando se recolheram. Ela estava acompanhada de Santa Catarina de Sena e Santa Inês, e vestia belos mantos que brilhavam, nos quais estava escrito: “Ave Maria, cheia de graça”, em letras de ouro. A Santíssima Mãe aproximou-se da irmã mais velha e disse: “Eu te saúdo, minha filha, porque me saudaste frequentemente e de maneira bela. Quero te agradecer pelas belas mantas que me ofereceste.” As duas virgens santas que estavam com Nossa Senhora também lhe agradeceram e, em seguida, as três desapareceram.
Uma hora mais tarde, Nossa Senhora e as duas santas apareceram a elas novamente, mas, desta vez, estava vestida de verde, sem qualquer letra em ouro, e não resplandecia. Ela se dirigiu à segunda irmã e lhe agradeceu pelas mantas que ela confeccionou ao rezar seu Rosário. Como essa irmã havia visto Nossa Senhora aparecer para a irmã mais velha, muito mais bem vestida, perguntou-lhe qual era a razão da diferença. A Santíssima Mãe respondeu: “Tua irmã me fez roupas mais bonitas porque rezou seu Rosário melhor do que tu.”
Uma hora depois, ela apareceu à mais nova das irmãs vestindo farrapos sujos e roídos, e disse-lhe: “Minha filha, quero te agradecer pelas roupas que me fizeste.” A irmã mais nova, cheia de vergonha, disse: “Oh, minha Rainha, como pude ter vos vestido tão mal? Rogo que me perdoeis. Por favor, dai-me mais tempo para que eu possa vos fazer belas mantas, rezando melhor o Rosário.” Nossa Senhora e as duas santas desapareceram, deixando a jovem de coração partido. Ela confessou tudo ao seu confessor, que lhe pediu que rezasse o Rosário por mais um ano, e que o fizesse da maneira mais devota possível.
Ao fim do segundo ano, no mesmo dia da Purificação, Nossa Senhora, vestida com mantos magníficos e acompanhada de Santa Catarina e Santa Inês, todas usando coroas, apareceu a elas novamente naquela noite. E disse-lhes: “Minhas filhas, vim dizer-vos que finalmente recebereis o Céu, e tereis a alegria de lá estar amanhã.” E as três responderam: “Nossos corações estão prontos, amada Rainha; nossos corações estão prontos.” Então, a visão desapareceu. Na mesma noite, as três adoeceram, e o confessor veio ministrar-lhes os Últimos Sacramentos, sendo por elas agradecido pela santa prática que lhes havia ensinado. Após as Completas, Nossa Senhora apareceu com uma multidão de virgens e vestiram as três irmãs com túnicas brancas. Os anjos cantavam: “Vinde, esposas de JESUS CRISTO, recebei as coroas que vos foram preparadas para toda a eternidade.” E elas partiram desta vida.
Diversas verdades aprendidas deste incidente:
1- Como é importante ter bons diretores que aconselham boas práticas, especialmente a do Santíssimo Rosário.
2- Como é importante rezar o Rosário com atenção e devoção;
3- Como é boa a misericordiosa a Santíssima Mãe para aqueles que se arrependem de seu passado e então resolvem firmemente melhorar;
4- E, finalmente, como ela é generosa ao recompensar-nos na vida, na morte e eternidade, pelos pequenos serviços que nós rendemos a ela fielmente.
 
Quadragésima-Quinta Rosa - Rezam com reverência
É importante acrescentar que o Rosário deve ser rezado com reverência, ou seja, sempre que possível, deve-se rezá-lo de joelhos, com as mãos juntas e o rosário entre elas. No entanto, se a pessoa estiver doente, pode certamente rezá-lo na cama; e, se estiver em viagem, pode rezá-lo de pé. Caso uma enfermidade impeça que se reze de joelhos, é permitido rezá-lo sentado ou em pé. O Rosário pode até ser rezado durante o trabalho, se as tarefas diárias exigirem a permanência no local de trabalho, pois o trabalho manual não é, de forma alguma, obstáculo à oração vocal.
Certamente, por causa de suas limitações, nossa alma não consegue dedicar atenção total às coisas do espírito, como na oração, quando estamos concentrados em um trabalho manual. No entanto, quando não podemos agir de outra forma, esse tipo de oração ainda tem valor aos olhos de Nossa Senhora, e ela recompensará nossa boa vontade mais do que as ações externas.
Eu aconselho que você divida o Rosário em três partes e reze cada Terço, com seus respectivos mistérios, em momentos distintos do dia. Essa é uma maneira muito melhor do que rezar as quinze dezenas todas de uma vez.
Se você não tem tempo para rezar um Terço de uma só vez, reze-o pausadamente, uma dezena aqui, outra ali. Tenho certeza de que você conseguirá; e, dessa maneira, apesar do trabalho e de todas as obrigações da sua vida, você rezará o Rosário completo antes de se recolher.
São Francisco de Sales dá um bom exemplo de fidelidade nesse aspecto: certa noite, quando estava bastante exausto das visitas feitas durante o dia, lembrou-se, perto da meia-noite, de que ainda faltavam algumas dezenas a serem rezadas. Decidiu não se deitar enquanto não tivesse terminado todas, de joelhos, apesar das recomendações de seu secretário, que, ao ver seu cansaço, implorou-lhe que deixasse o restante das orações para serem rezadas na manhã seguinte.
Recomendo que você imite a fidelidade, a reverência e a devoção daquele santo religioso mencionado nas Crônicas de São Francisco, que sempre rezava seu Rosário com devoção e reverência antes do jantar. (Já relatei esse episódio anteriormente neste livro, na Sétima Rosa — Coroa de Rosas.)
 
Quadragésima-Sexta Rosa - Reza em Grupo
Há várias formas de rezar o Santo Rosário, mas a que dá maior glória a Deus Todo-Poderoso, que mais beneficia nossas almas e que o diabo mais teme do que qualquer outra, é rezar ou cantar o Rosário publicamente, em dois grupos.
Deus Todo-Poderoso se compraz quando as pessoas se reúnem em oração; os anjos e os bem-aventurados unem-se para louvá-Lo incessantemente. Os justos na Terra, em várias comunidades, se reúnem em oração comunitária, de dia e de noite. Nosso Senhor Jesus Cristo recomenda expressamente a oração em grupo aos Seus apóstolos e discípulos, e prometeu que, sempre que dois ou três estiverem reunidos em Seu nome, Ele estará no meio deles (Mt 18,20).
Como é maravilhoso ter Jesus Cristo em nosso meio! E a única coisa que precisamos fazer para que Ele esteja conosco é rezar o Rosário em grupo. Eis por que os primeiros cristãos geralmente se reuniam para orar, apesar das perseguições do Império Romano e do fato de que tais reuniões fossem proibidas. Eles preferiam se reunir correndo risco de morte a perder os encontros nos quais Jesus estava presente.
Este método de oração é dos mais saudáveis à alma:
1- Normalmente nossas mentes ficam mais atentas quando em oração pública do que quando oramos em particular;
2 – Quando oramos em grupo, a oração de cada um pertence a todos, e todas se unem formando uma oração ainda maior. Assim, se alguém não estiver orando bem, outra pessoa, na mesma reunião, que ore com mais fervor, compensará pela deficiência do outro. Dessa forma, os fortes sustentam os fracos, os fervorosos inspiram os mornos, os ricos enriquecem os pobres, e os pecadores são contados juntamente com os justos. Como se pode vender o joio? Misturando-o facilmente com quatro ou cinco barris de trigo da melhor qualidade.
3 – Quem reza o Rosário sozinho obtém o mérito de um único Rosário; mas, se o reza junto com outras trinta pessoas, obtém o mérito de trinta Rosários. Essa é a lei da oração pública. Quão frutuosa e vantajosa ela é!
4 – Urbano VIII, que se alegrou muito ao ver como a devoção ao Santo Rosário havia se espalhado em Roma e como estava sendo rezado em dois grupos ou coros — especialmente no Convento de Santa Maria sopra Minerva — concedeu cem dias a mais de indulgência, toties quoties, sempre que o Rosário fosse rezado em dois coros. Assim está registrado em seu breviário Ad perpetuam rei memoriam, escrito no ano de 1626. Sempre que o Rosário é rezado em dois grupos, concede-se uma indulgência parcial.
5 – A oração pública é muito mais poderosa do que a oração individual para apaziguar a ira de Deus e obter Sua misericórdia. A Santa Madre Igreja, guiada pelo Espírito Santo, sempre intercedeu com orações públicas em tempos de tragédias e sofrimentos coletivos.
Em sua bula sobre o Rosário, o Papa Gregório XIII afirma claramente que se pode crer — com pia fé — que as orações públicas e as procissões dos membros da Confraria do Santo Rosário foram grandemente responsáveis pela grande vitória sobre a marinha turca em Lepanto, que Deus concedeu aos cristãos no primeiro domingo de outubro de 1571.
Quando o rei Luís, o Justo, de feliz memória, sitiou La Rochelle, onde os hereges revolucionários haviam estabelecido suas fortalezas, escreveu à sua mãe pedindo que se realizassem orações públicas para se obter um desfecho vitorioso. A rainha-mãe decidiu que o Rosário fosse rezado publicamente em Paris, na igreja dominicana do bairro de Santo Honório, e isso foi feito pelo arcebispo de Paris. As orações tiveram início em 20 de maio de 1628.
Tanto a rainha-mãe quanto a rainha participaram da reza do Rosário, junto com o duque de Orleães, o cardeal de La Rochefoucauld e o cardeal de Bérulle, bem como outros prelados. A corte compareceu em massa, assim como grande parte da população em geral. O arcebispo leu em voz alta as meditações sobre os mistérios e, em seguida, iniciou os Pai-Nossos e as Ave-Marias de cada dezena, enquanto a congregação de religiosos e leigos respondia. Ao fim do Rosário, a estátua da Santíssima Virgem foi solenemente carregada em procissão, enquanto se rezava a Ladainha de Nossa Senhora.
Essa devoção foi mantida com admirável fervor durante todos os sábados, resultando em uma bênção manifesta dos Céus: no mesmo ano, no dia de Todos os Santos, o rei venceu os ingleses na ilha de Ré e retornou triunfantemente a La Rochelle. Isso demonstra o grande poder da oração pública.
Finalmente, quando as pessoas rezam o Rosário em conjunto, ele se torna muito mais terrível ao demônio do que quando rezado em particular, pois, na oração pública, trata-se de um verdadeiro exército que o ataca. O inimigo geralmente consegue vencer a oração de quem reza sozinho; mas, se essa oração se une às de outros cristãos, o demônio encontrará muito mais dificuldade para alcançar seu propósito. É fácil quebrar um único galho; porém, se muitos forem reunidos em um feixe, não poderão ser quebrados. “A união faz a força.” Os soldados se agrupam em exércitos para vencer os inimigos; os maus espíritos se unem para tentar fazer-nos perder nossas almas. Então, por que os cristãos não uniriam suas forças para ter Jesus Cristo presente enquanto oram, apaziguar a ira de Deus Todo-Poderoso, alcançar Sua graça e misericórdia sobre nós, e frustrar e vencer Satanás e seus anjos com mais eficácia?
Caros confrades do Rosário, quer você viva na cidade ou no campo, perto de uma igreja paroquial ou de uma capela, vá até lá ao menos ao entardecer (com a aprovação do sacerdote paroquial) e reze o Rosário junto com aqueles que também desejam fazê-lo em dois coros. Se não for possível rezá-lo na igreja ou na capela, que seja rezado em sua casa ou na de outra pessoa. Essa é uma santa devoção que Deus Todo-Poderoso, em Sua misericórdia, tem estabelecido nos lugares onde tenho pregado missões, para conservar e aumentar os bens alcançados por esse meio e impedir o pecado.
Antes de o Rosário ser estabelecido, em tais povos e aldeias só se viam bailes de libertinagem, devassidão, lascívia, blasfêmias, brigas e contendas em abundância. Não se ouvia outra coisa senão músicas mundanas e conversas de duplo sentido. Mas agora, nada mais se escuta senão hinos e o cântico do Pai-Nosso e da Ave-Maria. As únicas aglomerações que agora se veem são de vinte, trinta ou até mais de cem pessoas que, em determinada hora, cantam louvores a Deus, como fazem os religiosos. Há lugares onde o Rosário é rezado em conjunto, um Terço de cada vez, em três momentos especiais do dia. Ah, que bênção dos Céus!
Da mesma forma que há pessoas más em toda parte, não pense que, onde você mora, estará livre delas. Sempre haverá aqueles que evitarão ir à igreja por causa do Rosário e zombarão dele. Com seu mau exemplo e linguagem profana, provavelmente farão de tudo para desencorajá-lo de rezá-lo. Mas não desista. Esses infelizes serão separados de Deus e do Céu por toda a eternidade, pois seu lugar será o Inferno. Já aqui na Terra, serão separados da companhia de Cristo, nosso Senhor, e de Seus servos e fiéis.
 
Quadragésima-Sétima Rosa - As Disposições Próprias
Almas predestinadas, que pertencem a Deus, separem-se daqueles que se condenam por suas vidas ímpias, preguiça e falta de devoção, e rezem sempre, sem demora, o seu Rosário — com fé, humildade, confiança e perseverança.
Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou a seguir Seu exemplo e a orar sempre, por causa de nossa infinita necessidade de oração, da escuridão de nossas mentes, de nossa ignorância e fraqueza, e da força e da quantidade de nossos inimigos. Qualquer pessoa que leve a sério o mandamento de Nosso Senhor certamente não estará satisfeita em rezar o Rosário uma vez por ano (como fazem os Membros Perpétuos) ou uma vez por semana (como fazem os Membros Ordinários), mas o rezará todos os dias (como um Membro do Rosário Diário) e nunca deixará de rezá-lo, mesmo que a única obrigação seja salvar a própria alma.
1 – “Devemos orar sempre e não cessar de o fazer.” (Lc 18,1) Estas são palavras eternas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos crer nelas e perseverar em sua prática, se não quisermos ser condenados. Você pode interpretá-las como quiser, contanto que não as entenda à maneira do mundo, nem as observe de forma meramente mundana.
Nosso Senhor nos deu uma explicação verdadeira de Suas palavras por meio do exemplo que nos deixou: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais vós também.” (Jo 13,15) E: “Passou toda a noite em oração a Deus.” (Lc 6,12) Como se Seus dias não fossem longos o bastante, Ele costumava passar a noite em oração.
Muitas e muitas vezes, Ele disse aos Seus apóstolos: “Vigiai e orai”; pois a carne é fraca, e as tentações estão por toda parte, ao seu redor, constantemente. Se você não estiver em dia com suas orações, cairá... E como alguns deles, evidentemente, pensaram que essas palavras de Nosso Senhor eram apenas um conselho, enganaram-se redondamente. Por isso, caíram em tentação e no pecado, mesmo estando na companhia de Jesus.
Caros membros da Confraria do Rosário, se vocês desejam viver uma vida de modismos, pertencendo ao mundo — isto é, se não se importam em cair, de vez em quando, em pecado mortal e depois se confessar; se desejam evitar apenas os pecados considerados desprezíveis pelo mundo, enquanto cometem os chamados “pecados respeitáveis” — então, para vocês, não será necessário fazer muitas orações e Rosários. Para esse estilo de vida, basta fazer muito pouco que ainda pareça “respeitável”: uma pequena oração à noite, outra pela manhã, um Rosário de vez em quando (talvez como penitência), algumas dezenas de Ave-Marias rezadas de forma ocasional e sem concentração, quando tiverem vontade — e isso já será considerado suficiente. Se fizerem menos, poderão ser chamados de libertinos ou devassos; se fizerem mais, serão vistos como excêntricos ou fanáticos. Mas, se vocês querem viver uma vida cristã verdadeira, realmente desejam salvar suas almas, seguir o exemplo dos santos e jamais cair em pecado mortal; se querem destruir as armadilhas de Satanás e se desviar de suas flechas inflamadas, então é preciso orar como Nosso Senhor ensinou e ordenou.
Se vocês realmente tiverem esse desejo em seus corações, então precisarão rezar seu Rosário — ou uma devoção equivalente — todos os dias. Eu disse “pelo menos” porque, muito provavelmente, tudo o que conseguirão alcançar com o Rosário será evitar o pecado mortal e vencer a tentação. Isso se deve ao fato de vocês estarem expostos às fortes correntes da iniquidade do mundo, que com frequência arrastam até mesmo almas fortes. Vocês se encontram no centro de uma escuridão profunda e pegajosa, que costuma cegar até mesmo as almas iluminadas. Estão cercados por espíritos malignos, muito mais experientes, que sabem ter pouco tempo para agir — e, por isso, são ainda mais astutos e habilidosos para levá-los à tentação.
Serão realmente maravilhosas as graças alcançadas por meio do Rosário, se vocês conseguirem libertar-se das garras do mundo, do demônio e da carne, evitar o pecado mortal e alcançar o Paraíso. Se preferirem não acreditar em minhas palavras, ao menos aprendam por sua própria experiência. Gostaria de lhes perguntar: quando tinham o hábito de rezar apenas o que as pessoas do mundo costumam rezar, eram capazes de evitar faltas e pecados graves — aqueles que trazem dor, mas que, em sua cegueira, não lhes pareciam nada demais? Agora, finalmente, vocês devem despertar. E, se desejam viver e morrer sem pecado — ao menos sem pecados mortais — rezem incessantemente. Rezem o Rosário todos os dias, como faziam os irmãos nos primórdios da Irmandade.
Quando Nossa Senhora deu o Santo Rosário a São Domingos, ordenou que ele o rezasse todos os dias e que conseguisse outros para rezá-lo diariamente. São Domingos nunca permitiu que alguém ingressasse na Confraria sem estar plenamente decidido a rezá-lo todos os dias. Se hoje em dia se permite que as pessoas sejam Membros Ordinários por rezarem o Rosário apenas uma vez por semana, é porque o fervor se apagou e a caridade diminuiu. Atualmente, admite-se até mesmo quem é pobre em oração. “Mas, no princípio, não foi assim.” (Mt 19,8)
Três coisas devem ser reiteradas aqui:
– A primeira observação é que, quando alguém deseja ingressar na Confraria do Rosário Diário e assim participar das orações e méritos de seus membros, não basta estar inscrito no Rosário Ordinário, nem simplesmente tomar a resolução de rezá-lo diariamente. Para que tenha valor, é necessário dar seu nome àqueles que estão autorizados a fazer a inscrição. É recomendável, também, fazer uma confissão e receber a Santa Comunhão com essa intenção. Isso porque os Membros Ordinários do Rosário não estão incluídos automaticamente no Rosário Quotidiano, embora este esteja incluído naquele.
– O segundo ponto que quero ressaltar é que não se trata de pecado — nem mesmo venial — deixar de rezar o Rosário todos os dias, uma vez por semana ou mesmo uma vez por ano.
– O terceiro ponto é que, se for por motivo de doença, ou por um trabalho realizado em obediência a um superior legítimo, ou ainda por atender a uma necessidade real — ou mesmo por esquecimento involuntário —, e isso o tiver impedido de rezar o Rosário, você não perderá os méritos nem a participação devida provenientes das orações dos demais membros da Confraria. Portanto, não é absolutamente necessário rezar dois Rosários no dia seguinte para compensar aquele que foi perdido, desde que não haja culpa própria. Se, no entanto, você estiver doente e ainda for capaz de rezar parte do Rosário, deverá rezar essa parte.
“Bem-aventurados os que gozam sempre da vossa presença.” (1Rs 10,8) “Bem-aventurados, Senhor, os que moram em vossa casa: eles vos louvam sem cessar.” (Sl 83,5) Oh, querido Senhor Jesus, benditos são os irmãos e irmãs da Confraria do Rosário Diário que estão em Vossa presença todos os dias: em Vossa pequena casa em Nazaré, ao pé de Vossa Cruz no Calvário e em volta de Vosso trono no Céu, para meditar e contemplar os Vossos Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos. Como são felizes na Terra, por causa das graças maravilhosas que Vós lhes comunicais, e como serão abençoados no Céu, onde Vos amarão e adorarão de maneira especial, para sempre e eternamente!
2 – O Rosário deve ser rezado com fé, pois o Santíssimo Senhor disse: “Crede que recebereis, e assim vos será concedido.” (Mc 11,24) Se você crer que receberá aquilo que pediu das mãos de Deus Todo-Poderoso, Ele lhe concederá seus pedidos. Ele lhe dirá: “Seja-te feito conforme creste.” (Mt 8,13) “Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, mas peça com fé, sem nada hesitar.” (Tg 1,5-6) Portanto, se alguém necessita de sabedoria, que a peça a Deus com fé, sem hesitação; por meio do Rosário, aquilo que você pedir lhe será dado.
3 – Em terceiro lugar, devemos rezar com humildade, como o publicano, que estava ajoelhado no chão com ambos os joelhos — e não apenas com um, como fazem, orgulhosamente, as pessoas mundanas, apoiando-o no banco à sua frente. Ele se encontrava no fundo da igreja, e não no santuário, como o fariseu; seus olhos se voltavam para o chão, pois não ousava olhar para os céus. Não estava com a cabeça erguida em sinal de orgulho, nem olhava ao redor, como fazia o fariseu. Batia no peito, confessando seus pecados e suplicando perdão: “Meu Deus, tem piedade de mim, pecador.” (Lc 18,13) Ao contrário do fariseu, que se vangloriava de suas obras e desprezava os demais. Evite a oração orgulhosa do fariseu, que voltou para casa com o coração mais endurecido e cheio de culpas. Imite, sim, a humildade do publicano, cuja oração lhe obteve a remissão dos pecados.
Você deve ter muito cuidado para não fazer nada fora do comum. Não procure, nem mesmo deseje, conhecer coisas extraordinárias — visões, revelações ou graças miraculosas — que Deus Todo-Poderoso, por vezes, comunicava a alguns santos enquanto rezavam o Rosário. “Só a fé é suficiente”: somente a fé nos basta agora, pois os Santos Evangelhos, bem como todas as devoções e práticas piedosas, já estão firmemente estabelecidos.
Mesmo que sua fé esteja fraca, que você se sinta entediado ou tomado por um desalento interior, nunca abandone — nem por um instante — o seu Rosário, pois isso seria sinal de orgulho e infidelidade. Ao contrário, como verdadeiro campeão de Jesus e Maria, você deve rezar os Pai-Nossos e as Ave-Marias em meio à aridez espiritual, sem ver, ouvir ou sentir qualquer consolação, concentrando-se, o máximo possível, nos mistérios. Você não deve rezar como uma criança que só come seu pão com doces ou geleias, mas deve rezar com mais lentidão e atenção, especialmente quando estiver achando mais difícil fazê-lo. Proceda assim para imitar Nosso Senhor com maior perfeição em Sua agonia no Horto: “E, posto em agonia, orava mais intensamente.” (Lc 22,43) Que o que foi dito sobre Nosso Senhor — “orava mais intensamente” — possa também ser dito de você.
4 – Ore com total confiança — confiança fundamentada na infinita bondade e generosidade de Deus e nas promessas de Jesus Cristo. Deus é a fonte de água viva que corre incessantemente no coração daqueles que oram. O Pai Eterno deseja apenas conceder as águas vivas de Sua graça e misericórdia a nós. Ele nos convida: “Todos vós que tendes sede, vinde às águas...” (Is 55,1) Em outras palavras: “Venham e bebam de Minha fonte por meio da oração.” E, quando não O invocamos em oração, Ele dolorosamente declara que O abandonamos: “Abandonaram-Me a mim, que sou fonte de água viva.” (Jr 2,13)
Fazemos Nosso Senhor feliz quando Lhe pedimos graças. Mas, quando não pedimos, Ele nos dirige uma doce repreensão: “Até agora nada pedistes... Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” (Jo 16,24; Mt 7,7)
Além disso, para nos animar a pedir-Lhe com maior confiança, Jesus chega a empenhar Sua palavra, afirmando que o Pai Eterno nos concederá aquilo que Lhe pedirmos em Seu nome.
 
Quadragésima-Oitava Rosa - Perseverança
Como quinto ponto, devo destacar a perseverança na oração. Só receberá, encontrará e entrará aquele que perseverar em pedir, buscar e bater. Não basta pedir a Deus certas graças por um mês, um ano ou mesmo vinte anos; não podemos nos cansar de pedir. Devemos ser constantes na súplica até o momento de nossa morte. E mesmo nessa oração que demonstra nossa confiança em Deus, devemos unir o pensamento da morte ao da perseverança, e dizer: “Ainda que Ele me matasse, n’Ele esperarei.” (Jó 13,15) E confiarei n’Ele para me dar tudo de que necessito.
Os ricos e proeminentes do mundo demonstram sua generosidade percebendo o que as pessoas necessitam e concedendo-lhes o que precisam, muitas vezes antes mesmo que peçam. Por outro lado, a generosidade divina se manifesta de forma diferente: Deus nos faz buscar e pedir, por um longo período, a graça que Ele deseja nos conceder. Em geral, quanto mais preciosa for a graça, mais tempo Ele levará para concedê-la. Há três razões para isso:
1- A fim de poder aumentá-la;
2- A fim de que quem a recebe a aprecie mais;
3 – Para que aquele que a recebe tenha grande cuidado para não perdê-la, pois as pessoas tendem a não valorizar aquilo que é obtido com facilidade e pouco esforço.
Perseverem, pois, queridos confrades do Rosário, em pedir a Deus Todo-Poderoso por todas as suas necessidades — tanto espirituais quanto corporais — por meio do Santíssimo Rosário. A maioria de vocês deve pedir à Divina Sabedoria, que é um tesouro infinito: “(a sabedoria) é um tesouro infinito.” (Sb 7,14) E não há dúvida alguma de que, mais cedo ou mais tarde, vocês a receberão, contanto que não deixem de pedi-la nem desanimem no meio do caminho. “Porque te resta um longo caminho.” (1Rs 19,7) Isso significa que ainda há muito a percorrer: muitas tempestades pela frente, dificuldades a superar e conquistas a alcançar, antes de terem ajuntado tesouros suficientes para a eternidade — bastantes Pai-Nossos e Ave-Marias com os quais vocês conquistarão sua entrada no Céu e alcançarão a bela coroa que está reservada a cada membro fiel.
“Guarda... para que ninguém tome a tua coroa.” (Ap 3,11) Cuide para que sua coroa não seja tirada por alguém mais fiel do que você na oração do Santo Rosário. É a sua coroa — Deus a escolheu para você, e você já conquistou metade dela por meio dos Rosários que rezou com devoção. No entanto, alguém pode ultrapassá-lo nessa corrida: alguém que se preparou melhor e foi mais fiel pode conquistar a coroa que deveria ser sua, pagando-a com Rosários bem rezados e boas obras. Tudo isso pode acontecer se você parar nessa bela corrida que vinha percorrendo tão bem: “Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?” (Gl 5,7) Quem o impediu de alcançar a coroa do Rosário? Os inimigos do Santo Rosário — e eles são muitos!
Creia em mim: “O Reino dos Céus é conquistado à força.” (Mt 11,12) Essas coroas não são destinadas às almas tímidas, que temem os insultos e ameaças do mundo, nem aos preguiçosos e indolentes que rezam o Rosário com descuido e pressa, apenas para terminá-lo. O mesmo vale para aqueles que o rezam de vez em quando, quando se sentem inclinados a isso. Essas coroas não são para os covardes que se desanimam e rendem suas armas assim que veem o inferno se levantar contra seus Rosários.
Caro confrade, se você deseja servir a Jesus e Maria por meio do Rosário diariamente, deve estar preparado para as tentações: “Quando entrares no serviço de Deus... prepara tua alma para a tentação.” (Eclo 2,1) Não se iluda! Os hereges, os libertinos, as “pessoas de bem” segundo o mundo, os devotos apenas exteriormente e os falsos profetas — em sintonia com sua natureza corrompida e os poderes infernais — travarão guerra contra você, numa batalha para fazê-lo abandonar essa prática santa.
A fim de lhe dar mais armas contra os ataques dessas pessoas, vou lhe dizer algumas coisas que elas costumam dizer e pensar — isso para ajudá-lo a se precaver contra elas. Não me refiro aqui aos hereges e libertinos, mas às chamadas “pessoas de bem” segundo o mundo, e até mesmo a algumas pessoas piedosas (por mais estranho que isso pareça), que não apreciam essa prática.
– “Que quer dizer este charlatão?” (At 17,18). “Vamos, oprimamos o justo, porque nos é molesto.” (Sb 2,12) Ou seja: Por que ele está rezando tantos Rosários? O que é que ele vive rezando? Que preguiça! E que desperdício de tempo ficar contando aquelas contas o tempo todo. Seria muito melhor se estivesse trabalhando, em vez de se ocupar com essas bobagens. Eu sei do que estou falando...
– “O que você precisa fazer — e eu lhe aconselho — é rezar o Rosário, e uma fortuna cairá do céu no seu colo! O Rosário vai lhe dar tudo de que você precisa, sem que você mova um dedo!”
Mas não é verdade o que se costuma dizer: “Deus ajuda aqueles que se ajudam”? “Para que complicar a vida com tantas orações?”. “Uma oração curta penetra os céus”. “Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria são mais do que suficientes, se forem bem rezados.”
– “Deus nunca nos mandou rezar o Rosário. No entanto, o Santo Rosário é uma ótima devoção — quando se tem tempo para rezá-lo. Mas não pense, nem por um instante, que aqueles que rezam o Rosário têm mais certeza de ir para o Céu do que os que não o rezam. Basta observar os santos que nunca rezaram o Rosário! Além disso, há muita gente que quer fazer todos verem através de seus próprios olhos — pessoas que levam tudo ao extremo, pessoas escrupulosas que veem pecado em tudo, e que fazem declarações radicais sobre aqueles que não rezam o Rosário, dizendo que irão para o inferno.”
– “Ah, sim, o Rosário é muito bom para senhoras idosas que não sabem ler. Mas, com certeza, não seria melhor rezar o Ofício de Nossa Senhora ou os Salmos Penitenciais? E há algo mais belo do que os salmos ditados pelo próprio Espírito Santo? Você disse que iria rezar o Rosário todos os dias; ah, isso é fogo de palha — você sabe muito bem que isso não vai durar! Não seria melhor comprometer-se com menos e manter-se fiel nisso?”
– “O que é isso, meu amigo? Escute o que estou dizendo: reze suas orações de manhã e à noite, trabalhe duro e ofereça tudo a Deus — Ele não quer mais do que isso. É claro que, se você não tivesse que trabalhar para viver, eu não lhe diria nada; poderia rezar quantos Rosários quisesse. Mas, por enquanto, reze-os aos domingos e nos dias santos, quando há bastante tempo livre — já que você precisa mesmo rezá-los.”
– “Como? O que você está fazendo com essas contas enormes? Você parece mais uma senhora idosa do que um homem! Vi um tercinho com apenas uma dezena, e é tão bom quanto um de quinze dezenas. O que você está fazendo, colocando-o na cintura? Fanático, é o que você é! Se quer ser tão extremista, então use-o no pescoço, como fazem os espanhóis! Eles carregam um enorme Rosário numa mão e um punhal na outra.”
– “Por favor, deixe essas devoções exteriores; a verdadeira devoção é a do coração... etc., etc.”
Igualmente, não serão poucas as pessoas astutas e instruídas que poderão tentar dissuadi-lo de rezar o Rosário. Elas prefeririam aconselhá-lo a rezar os Sete Salmos Penitenciais ou alguma outra oração, dizendo: “Se um bom confessor lhe ordenar que reze um Rosário diariamente por penitência, durante uma quinzena ou um mês, basta procurar outro confessor e mudar sua penitência para outras orações, jejuns ou Missas pelas Almas do Purgatório.”
Se você consultar certas pessoas do mundo que se apresentam como guias espirituais — mas que nunca tentaram rezar o Rosário — elas não apenas tentarão dissuadi-lo, como também indicarão outras devoções, como a de aprender contemplação, como se o Santo Rosário e a contemplação fossem incompatíveis, e como se todos os santos devotos do Rosário não tivessem alcançado as alturas da sublime contemplação.
Seus inimigos mais próximos irão atacá-lo cruelmente, porque você está muito perto deles. Refiro-me aos poderes de sua alma e aos seus sentidos corporais — isto é, distrações da mente, cansaço e indecisão da vontade, secura de coração, exaustão e doenças do corpo. Tudo isso, junto com o diabo, irá dizer-lhe: “Pare de rezar seu Rosário! É isso que está causando essa dor de cabeça. Desista! Não há obrigação de rezá-lo sob pena de pecado. Se você precisa rezá-lo, reze apenas uma parte. Essas dificuldades que você está enfrentando são um sinal de que Deus Todo-Poderoso não quer que você o reze. Você pode terminá-lo amanhã, quando estiver se sentindo melhor... etc., etc.”
Finalmente, caro irmão, o Rosário Diário tem tantos inimigos que uma das maiores graças que Deus nos concede é a perseverança até a morte.
Persevere em rezá-lo e, se você for fiel, acabará por obter a maravilhosa coroa que o espera no Céu: “Sê fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida.” (Ap 2,10)
 
Quadragésima-Nona Rosa - As Indulgências
Está na hora de tratarmos um pouco das indulgências concedidas aos membros da Confraria do Rosário, para que você possa aproveitá-las ao máximo.
A indulgência é a remissão total ou parcial da pena temporal devida pelos pecados atuais, mediante a aplicação das satisfações superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos santos, contidas no Tesouro da Igreja.
Uma indulgência plenária é a remissão total da pena devida pelo pecado. Já uma indulgência parcial de, por exemplo, cem ou mil anos, representa a remissão de penas que, segundo os antigos Cânones da Igreja, corresponderiam a esse período, caso fossem cumpridas por meio das penitências então prescritas.
Atualmente, esses cânones prescrevem exatamente sete, e às vezes dez ou quinze anos de penas (ou castigos) para apenas um pecado mortal. Assim, uma pessoa culpada de vinte pecados mortais provavelmente teria que cumprir uma pena de sete vezes vinte anos (140 anos), e assim por diante.
Os membros da Confraria que desejam adquirir indulgências devem:
1 – Estar verdadeiramente arrependido, confessar-se e comungar, conforme ensina a Bula das Indulgências.
2 – Devem estar inteiramente livres de qualquer afeição pelo pecado, mesmo venial, pois, se houver afeição pelo pecado, também permanecerá a culpa; e, havendo culpa, a pena não pode ser abolida.
3 – Devem realizar as orações e boas obras designadas pela Bula. E, conforme o que os Papas concederam, pode-se obter uma indulgência parcial (por exemplo, de cem anos) mesmo sem alcançar uma indulgência plenária, não sendo sempre necessário confessar-se e comungar para isso. Muitas indulgências parciais são concedidas à reza do Rosário (seja do Terço ou das quinze dezenas), às procissões, ao uso de rosários bentos, entre outros.
Esteja atento para não desperdiçar essas indulgências. Flammin e muitos outros escritores relatam o caso de uma jovem de distinta família, chamada Alexandra, que se converteu milagrosamente e ingressou na Confraria do Santíssimo Rosário por intermédio de São Domingos. Após sua morte, ela apareceu a ele, dizendo que havia sido condenada a sete anos de purgatório por causa de seus pecados e daqueles que fez outros cometerem com suas vaidades mundanas. Ela implorou que ele aliviasse suas penas por meio de orações e pediu aos membros da Confraria que também rezassem com esse propósito. São Domingos atendeu ao seu pedido e rezou por ela.
 
Quinquagésima Rosa - Vários Métodos
A fim de facilitar a recitação do Santo Rosário, seguem-se vários métodos que o auxiliarão a rezá-lo de maneira santa e proveitosa, juntamente com a meditação dos Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos de Jesus e Maria. Escolha o método que preferir e que mais o ajude; você também pode adaptá-lo às suas necessidades, como já fizeram várias pessoas santas.
Métodos de rezar O Santíssimo Rosário, Buscando para nossas almas, a graça dos Mistérios da Vida, Paixão e da Glória de JESUS E MARIA.
(N.T. – Este método varia um pouco daquele que é divulgado atualmente. O próprio São Luís o modificou ao longo de sua vida; contudo, ele é transcrito aqui conforme se encontra nos manuscritos originais da obra.)
Primeiro Método
Em nome do PAI e do FILHO e do ESPÍRITO SANTO. Amém.
Vinde, ESPÍRITO SANTO, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da Terra. Amém
Oremos: DEUS, que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do ESPÍRITO SANTO, fazei que apreciemos todas as coisas, segundo o mesmo ESPÍRITO e gozemos sempre de Sua consolação. Por CRISTO Senhor Nosso. Amém.
OFERECIMENTO DO ROSÁRIO: Uno-me a todos os santos que estão no Céu, a todos os justos que estão na Terra, a todas as almas fiéis que estão neste lugar. Uno-me a Vós, meu JESUS, para louvar dignamente vossa Santa Mãe, e louvar-Vos nela e por Ela. Renuncio a todas as distrações que me vierem durante este Rosário, que quero rezar com modéstia, atenção e devoção como se fosse o último da minha vida.
Nós Vos oferecemos, SANTÍSSIMA TRINDADE, este CREDO para honrar a todos os mistérios da nossa fé; este PAI Nosso e estas três Ave Marias para honrar a unidade de vossa essência e trindade de vossas pessoas. Pedimo-Vos uma fé vida, uma esperança firme e uma caridade ardente.
R/ Assim Seja
Creio em DEUS...; PAI Nosso... 3 Ave Maria... Glória ao PAI...;
N.T. – Acrescentou-se a seguinte oração, revelada às três crianças de Fátima por Nossa Senhora de Fátima em 1917, após o Glória ao PAI no final de cada dezena: Ó meu JESUS, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem.
Os Mistérios Gozosos
I - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta primeira dezena, para honrar a vossa Encarnação no seio da Virgem Maria; e Vos pedimos, por este mistério e por intercessão dela uma profunda humildade.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da Encarnação, descei às nossas almas. Assim seja
II - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta segunda dezena, para honrar a Visitação de Vossa Santíssima Mãe à sua prima Santa Isabel e a santificação de São João Batista; e Vos pedimos, por este mistério e por intercessão de Vossa Mãe Santíssima, a caridade perfeita para com o próximo.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da visitação, descei às nossas almas. Assim seja.
III - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta terceira dezena, para honrar o vosso Nascimento no estábulo de Belém; e vos pedimos por este mistério e por intercessão de Vossa Mãe Santíssima, o desapego dos bens terrenos e das riquezas e o amor à santa pobreza.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério do nascimento de JESUS, descei às nossas almas. Assim seja
IV - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quarta dezena, para honrar a vossa apresentação no Templo, e da purificação de Maria; e Vos pedimos por este mistério e por intercessão dela, uma grande pureza de corpo e alma.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da Purificação, descei às nossas almas. Assim seja.
V - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quinta dezena, para honrar vosso reencontro por Maria, e Vos pedimos por este mistério e por intercessão dela a verdadeira sabedoria.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério do reencontro de JESUS, descei às nossas almas. Assim seja.
Os Mistérios Dolorosos:
VI - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta primeira (6ª) dezena para honrar a vossa agonia mortal no Jardim das Oliveiras; e Vos pedimos, por este mistério e por intercessão de Vossa Mãe Santíssima, a contrição dos nossos pecados.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças ao mistério da agonia de JESUS, descei às nossas almas. Assim seja.
VII - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta segunda (ou 7ª) dezena para honrar a vossa sangrenta flagelação; e Vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a perfeita mortificação dos sentidos.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças ao mistério da flagelação de JESUS, descei à minha alma e fazei-a verdadeiramente mortificada. Assim seja.
VIII - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta terceira (ou 8ª) dezena para honrar a vossa coroação de espinhos; e Vos pedimos por este mistério e por intercessão de Vossa Mãe Santíssima, o desprendimento do mundo.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da coroação de espinhos, descei às nossas almas. Assim seja.
IX - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quarta (ou 9ª) dezena para honrar o carregamento da cruz, e Vos pedimos, por este mistério e por intercessão de Vossa Mãe Santíssima, a paciência em todas as nossas cruzes.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério do carregamento da cruz, descei às nossas almas. Assim seja.
X - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quinta (ou 10ª) dezena para honrar a vossa crucifixão e morte ignominiosa sobre o Calvário; e Vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe, a conversão dos pecadores, a perseverança dos justos e o alívio das almas do Purgatório.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da crucifixão de JESUS, descei às nossas almas. Assim seja.
Mistérios Gloriosos
XI - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta primeira (ou 11ª) dezena para honrar a vossa ressureição gloriosa; e Vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de Vossa Mãe Santíssima, o amor de DEUS e o fervor no vosso serviço.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da Ressureição, descei às nossas almas. Assim seja.
XII - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta segunda (ou 12º) dezena para honrar a vossa triunfante Ascensão ao Céu; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de Vossa Mãe Santíssima, uma firme esperança e ardente desejo do Céu.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da Ascensão, descei às nossas almas. Assim seja.
XIII - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta terceira (ou 13ª) dezena para honrar o mistério de Pentecostes; e Vos pedimos por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a descida do ESPÍRITO SANTO às nossas almas.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério de Pentecostes, descei às nossas almas. Assim seja.
XIV - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quarta (ou 24ª) dezena para honrar a Imaculada Conceição e a Assunção de Vossa Mãe Santíssima, em corpo e alma, ao Céu; e Vos pedimos, por estes dois mistérios e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, o dom da verdadeira devoção a ela.
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Graças do mistério da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria, descei às nossas almas. Assim seja.
XV - Nós Vos oferecemos, SENHOR JESUS, esta quinta (ou 15ª) dezena para honrar a coroação gloriosa de Vossa Mãe Santíssima no Céu; e Vos pedimos, por este mistério e por intercessão dela, a perseverança na graça e o aumentos das virtudes até o momento da morte e depois disto a coroa da glória que nos esta preparada. Pedimos a mesma graça por todos os justos e por todos nossos benfeitores... Assim Seja
PAI Nosso... 10 Ave Marias... Glória ao PAI...
Nós vos rogamos, amável Senhor Jesus, pelos quinze mistérios de Vossa vida, morte e paixão, por Vossa glória e pelos méritos de Vossa Santíssima Mãe: convertei os pecadores, ajudai os que estão morrendo, livrai as santas almas do purgatório e concedei a todos nós a Vossa graça, para que vivamos bem e morramos bem. E, por caridade, dai-nos a luz de Vossa glória, para que possamos ver a Vossa face e Vos amar por toda a eternidade. Amém. Assim seja.
Segundo Método
Modo abreviado de contemplar a vida, morte e glória de JESUE e Maria no Santíssimo Rosário, refrear nossa imaginação e diminuir as distrações.
Para que possamos assim fazer, é preciso acrescentar uma ou mais palavras em cada Ave Maria (dependendo da dezena) e isto ajudará a lembrar-nos qual mistério devemos contemplar. Esta palavra ou palavras deve ser acrescentada após a palavra “JESUS.” “e bendito é o fruto do vosso ventre...”
1º dezena “...JESUS Encarnado”; 2º dezena “...JESUS santificado”; 3º dezena “...JESUS nascido na pobreza”; 4º dezena “...JESUS sacrificado”; 5º dezena “...JESUS, Santo entre os santos”; 6º dezena “...JESUS em Sua Agonia”; 7º dezena “...JESUS flagelado”; 8º dezena “...JESUS coroado de espinhos”; 9º dezena “...JESUS carregando Sua Cruz”; 10º dezena “...JESUS crucificado”; 11º dezena “...JESUS ressuscitando da morte”; 12º dezena “...JESUS subindo ao Céu”; 13º dezena “...JESUS vos enchendo com o ESPÍRITO SANTO”; 14º dezena “...JESUS vos ascendendo ao Céu”; 15º dezena “...JESUS vos coroando no Céu”;
Ao fim dos Mistérios Gozosos, dizemos: “Graças dos Mistérios Gozosos, descei às nossas almas e fazei-as realmente santas”;
Ao fim dos Mistérios Dolorosos: “Graças dos Mistérios Dolorosos, descei às nossas almas e fazei-as realmente pacientes”;
Ao fim dos Mistérios Gloriosos: “Graças dos Mistérios Gloriosos, descei às nossa almas e fazei-as eternamente felizes. Amém.”
 
Principais Regras da Confraria do Santíssimo Rosário
Os membros devem;
1- Inscrever-se no livro da Confraria e, se possível, confessar-se, comungar e rezar o Santo Rosário no mesmo dia em que for realizada a inscrição.
2 – Levar consigo o Rosário bento.
3 – Rezar o Rosário (ou o Terço) todos os dias ou, ao menos, uma vez por semana.
4 – Sempre que possível, ir à Confissão e à Comunhão no primeiro domingo de cada mês e participar das procissões do Santo Rosário.
Lembrem-se que nenhuma das regras esta sujeita a punição, nem mesmo de pecado venial.
 
O Poder, Valor e Santidade do Rosário
Uma revelação da Virgem Santíssima ao Bem-aventurado Alano de La Roche:
Através do Rosário, pecadores endurecidos de ambos os sexos se converteram e passaram a levar uma vida santa, lamentando seus pecados passados com verdadeiras lágrimas de contrição. Até mesmo as crianças realizavam penitências impressionantes. A devoção ao meu Filho e a mim se espalhou de tal forma que parecia que os Anjos viviam na Terra. A fé triunfava, e muitos católicos desejavam derramar seu sangue por ela, lutando contra os hereges. Assim, pelos sermões do meu querido Domingos e pelo poder do Rosário, as terras dominadas pelos hereges retornaram ao seio da Igreja. As pessoas costumavam dar esmolas generosas; hospitais e escolas foram construídos. Vivia-se de forma moral e justa, e realizavam-se maravilhas para a glória de Deus. A santidade e a espiritualidade floresciam: o clero era exemplar, os príncipes, justos; as pessoas viviam em paz entre si, e a justiça e a equidade reinavam nas associações e nos lares.
Eis algo ainda mais impressionante: os trabalhadores não pegavam em suas ferramentas antes de rezarem o meu Saltério, e nunca dormiam sem antes o recitarem de joelhos. Se se lembrassem de que haviam se esquecido de me prestar homenagem, levantavam-se no meio da noite para me saudar com grande respeito e arrependimento.
O Rosário tornou-se tão difundido e tão bem conhecido que as pessoas que lhe eram devotadas eram prontamente reconhecidas como membros da Confraria. Se um homem vivia abertamente no pecado ou blasfemava, era comum dizer:
“Este homem não deve ser um irmão de São Domingos!”
Não posso deixar de mencionar os sinais e prodígios que manifestei em várias terras por meio do Santo Rosário: pus fim a pestes, a terríveis guerras e a crimes sangrentos. E, através do meu Rosário, as pessoas encontraram coragem para se livrar das tentações.
Quando você reza o Rosário, os Anjos se regozijam, a Santíssima Trindade Se deleita, meu Filho Se alegra e eu fico mais feliz do que se pode imaginar. Depois do Santo Sacrifício da Missa, não há nada na Igreja que eu ame mais do que o Rosário. (Bem-aventurado Alano)
São Domingos recomendava insistentemente que todos os irmãos e irmãs de sua Ordem honrassem meu Filho e a mim incessantemente, de uma maneira indescritivelmente bela, rezando o Santo Rosário.
Todos os dias, cada um deles rezava, ao menos, um Rosário completo. Se alguém não pudesse rezá-lo, parecia que seu dia havia sido desperdiçado.
Os irmãos de São Domingos tinham grande amor por essa santa devoção, que os impelia a fazer tudo com mais zelo, e costumavam correr para as igrejas ou para o coro, a fim de cantar o Ofício. Se algum deles não cumpria corretamente seus deveres, os outros diziam com convicção: “Irmão! Ou você não está rezando o Saltério de Maria, ou está rezando-o muito mal.”
A Saudação do Rosário é Digna da Rainha dos Céus:
“No Céu, os santos anjos saúdam a Santíssima Virgem com a Ave Maria, inaudivelmente, mas com sua inteligência angélica. Eles têm plena consciência de que, por meio dessa saudação, a reparação foi feita pelo pecado dos anjos caídos, Deus se fez homem e o mundo se renovou.” (Bem-aventurado Alano)
Uma noite, quando uma irmã da Confraria se recolhera, Nossa Senhora lhe apareceu e disse: “Minha filha, não tenha medo de mim. Sou sua Mãe amorosa, a quem você fielmente louva todos os dias. Seja firme e persevere; quero que saiba que a Saudação Angélica me dá tanta alegria que nenhum homem pode, de fato, explicar.” (Guillaume Pepin, in Rosario Áureo, Sermão 47)
Santa Gertrudes confirmou isso em uma de suas visões. Em suas Revelações, Livro IV, Capítulo II, encontramos o seguinte incidente:
Era manhã da festa da Anunciação, e a Ave Maria seria cantada no mosteiro de Santa Gertrudes. Durante o cântico, ela teve uma visão na qual três rios saíam do Pai, do Filho e do Espírito Santo, fluindo suavemente para dentro do Coração Virginal de Maria. Assim que chegavam ao seu Coração, retornavam à fonte de onde vieram.
A partir disso, Santa Gertrudes aprendeu que a Santíssima Trindade permitiu que Nossa Senhora fosse a mais poderosa depois de Deus Pai, a mais sábia depois de Deus Filho e a mais amorosa depois de Deus Espírito Santo. Ela também entendeu que, a cada vez que os fiéis rezam a Saudação Angélica, três misteriosos rios envolvem Nossa Senhora com uma corrente poderosa, em redemoinhos, e seguem rapidamente para o seu Coração. Após banhá-la completamente em alegria, esses rios fluem de volta à nascente, que é Deus Todo-Poderoso. Os santos e os anjos compartilham dessa abundância de alegria, assim como os fiéis na Terra que rezam essa oração, pois a Saudação Angélica é fonte de todo o bem para os filhos de Deus.
Eis o que Nossa Senhora disse a Santa Gertrudes: “Nunca homem algum compôs algo mais bonito que a Ave Maria. Nenhuma saudação poderia ser mais apreciada por meu Coração do que as belas e dignas palavras que o próprio DEUS PAI dirigiu a mim.”
Um dia Nossa Senhora disse à Santa Mechtilde: “Todas as Saudações Angélicas que você tem me dado estão impressas em luz viva no meu manto” (Então ela segurou uma parte de seu manto). “Quando esta parte de meu manto estiver cheia de Ave Marias, eu virei buscar você, e a levarei ao Reino de meu Amadíssimo FILHO.”
Dionísio, o Cartusiano, ao falar de uma visão de Nossa Senhora a uma de suas confidentes, disse: “Deveríamos saudar a Santíssima Virgem com nossos corações, nossos lábios, e nossos atos, a fim de que ela não nos diga: “Estas pessoas honram-me com os lábios, mas seus corações estão longe de mim.”
Ricardo de Saint Laurent anota as razoes porquê é bom rezar a Ave Maria ao princípio de um sermão
1 – A Igreja Militante deve seguir o exemplo de São Gabriel, que se dirigiu a Maria com grande respeito, saudando-a com a Ave Maria antes de lhe dizer as sublimes palavras: “Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz...” Assim também a Igreja saúda a Santíssima Virgem antes de anunciar o Evangelho.
2 – A congregação colherá mais frutos de um sermão que for precedido pela Ave Maria. O sacerdote que prega o sermão desempenha papel semelhante ao do Anjo; mas, para que a congregação faça com que Cristo nasça em suas almas (por meio da fé), deve primeiramente obter a graça da Virgem Santíssima, que O deu à luz em primeiro lugar. Com ela, tornar-se-ão também mães do Filho de Deus, pois sem Maria não poderão gerar Jesus em suas almas.
3- Os evangelhos mostram o Poder da Ave Maria; as pessoas adquirirão auxílio de Nossa Senhora através desta oração.
4- Rezá-la é uma grande segurança e uma maneira de se evitar as perigosas caídas: Maria, nossa Iluminadora, dá luz aos pregadores.
5- Os fiéis, seguindo o exemplo de Nossa Senhora, ouvem mais atentamente e ficam mais aptos a lembrar as palavras de DEUS.
6 – O demônio, inimigo da raça humana e da pregação de Deus, é expulso pela Ave Maria. Isso é necessário porque, segundo as palavras de Nosso Senhor, há o perigo de ele vir para retirar do coração das pessoas a palavra de Deus, “para que, crendo, possam ser salvos.”
Clemente Louson disse, em seu primeiro sermão sobre o Santíssimo Rosário: “Após São Domingos ter subido ao Céu, a devoção ao Rosário foi diminuindo até quase desaparecer, quando uma terrível peste se espalhou por várias partes do país. Os infelizes pediram conselho a um eremita que vivia santamente no deserto com grande austeridade. Eles lhe rogaram que intercedesse por eles diante de Deus Todo-Poderoso. Então, o eremita rezou à Mãe de Deus e lhe implorou, como Advogada dos pecadores, que viesse em auxílio deles.”
Nossa Senhora então apareceu e disse: “Esta pessoas pararam de me cantar louvores. Eis a razão porque têm sido visitados com tal repreensão. Se eles retornarem à antiga devoção do Santíssimo Rosário, poderão sentir o prazer da minha proteção. E farei com que sejam salvos se somente estiverem cantando o Rosário, pois amo este tipo de cântico.”
Então as pessoas fizeram o que Maria lhes pediu e lhe fizeram rosários, com os quais começaram a rezar de todo coração e alma.
 
As Indulgências
Uma indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados (pela Confissão sacramental), com a retirada da culpa. As indulgências são concedidas por Deus por meio da Igreja Católica, que, como ministra da Redenção, dispensa e aplica o tesouro das satisfações adquiridas por Cristo e pelos santos.
Apesar de a culpa do pecado e a punição eterna terem sido remidas pela absolvição sacramental, a pena a ser sofrida, antes ou depois da morte, ainda é necessária para satisfazer a justiça de Deus, mesmo por pecados já perdoados. Por causa dos nossos pecados cometidos durante a vida na Terra, sofreremos, em determinada medida, um "tempo" no Purgatório. A indulgência cancela ou diminui essa pena temporal.
Para se obter uma indulgência, é necessário estar batizado, não estar excomungado e estar em estado de graça ao menos até o fim do exercício prescrito. Além disso, deve-se ter, no mínimo, a intenção geral de lucrar as indulgências. Se, no início do dia, temos a intenção de obter todas as indulgências possíveis, não é preciso repetir essa intenção a cada exercício indulgenciado. Uma indulgência pode ser aplicada a si mesmo ou oferecida às almas do Purgatório, mas não pode ser aplicada a outras pessoas vivas.
Uma indulgência plenária remite toda a pena devida pelos pecados e permite a entrada imediata no Céu após a morte.
 
As Novas Normas
Para se ganhar uma indulgência plenária, é necessário realizar o exercício ou a devoção a que ela está vinculada e cumprir três condições: Confissão sacramental, Comunhão eucarística e oração pelas intenções do Papa. (A recitação de um Pai Nosso e uma Ave-Maria é suficiente, embora seja recomendável rezar mais do que isso). É também indispensável que não haja nenhum apego ao pecado, nem mesmo venial. Se essa última
disposição não for plenamente alcançada, ou se as três condições não forem integralmente cumpridas, a indulgência concedida será apenas parcial.
As três condições podem ser cumpridas alguns dias antes ou depois da realização do exercício indulgenciado; no entanto, é necessário que a Comunhão seja recebida e que a oração pelas intenções do Papa seja feita no mesmo dia em que se realiza o exercício.
Uma única Confissão sacramental é suficiente para lucrar várias indulgências plenárias. No entanto, é necessário comungar e rezar pelas intenções do Papa para cada indulgência plenária obtida em um mesmo dia. A Confissão deve ser feita, no mínimo, a cada duas semanas.
Só se pode lucrar uma indulgência plenária por dia, exceto em caso de iminência de morte. Nessa situação, mesmo que a pessoa já tenha obtido uma indulgência plenária no dia, poderá lucrar outra indulgência plenária especificamente para o momento da morte.
Uma indulgência parcial remite parte da pena temporal devida por um pecado e é concedida com a designação de um número específico de “dias” ou “anos”. O fiel que, ao menos com o coração contrito, realiza uma ação ou reza uma oração indulgenciada parcialmente obtém, além da remissão da pena temporal correspondente, uma remissão equivalente concedida pela intervenção da Igreja. A quantidade da remissão depende do fervor da pessoa, da grandeza de seu sacrifício e da perfeição com que o ato é realizado. Várias indulgências parciais podem ser lucradas no mesmo dia, salvo se houver indicação contrária.
 
Indulgências relativas ao Rosário
Concede-se indulgência plenária a quem recitar cinco dezenas do Rosário em uma igreja, oratório público, em grupo familiar, comunidade religiosa ou associação. Em qualquer outra circunstância, concede-se indulgência parcial. As cinco dezenas devem ser recitadas consecutivamente. A recitação vocal deve ser acompanhada de piedosa meditação nos mistérios. Na recitação pública, os mistérios devem ser anunciados conforme o costume da região; na recitação individual, basta que a recitação vocal seja acompanhada de meditação nos mistérios.