Espírito Santo

Conclave e o papel da oração do fiéis

por Thiago Zanetti em 05/05/2025 • Você e mais 591 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 6 minutos

Um tempo de silêncio, esperança e fé

A morte de um Papa marca não apenas o fim de um pontificado, mas também o início de um período profundamente espiritual para a Igreja: a sede vacante. Nesses dias, os fiéis do mundo inteiro voltam seus olhos e corações para Roma, onde os cardeais se reúnem em Conclave para eleger o novo sucessor de Pedro. No centro desse processo, há uma certeza inabalável: é o Espírito Santo quem guia a Igreja.

Mas qual é o papel da oração dos fiéis nesse momento decisivo? Como nossa intercessão contribui para que os cardeais estejam abertos à ação divina?

O que é o Conclave?

O termo Conclave vem do latim cum clave, que significa “com chave”, indicando o isolamento dos cardeais eleitores até que escolham um novo Papa. Essa prática surgiu no século XIII e permanece até hoje, com cerimônias carregadas de simbolismo, tradição e espiritualidade.

A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por São João Paulo II em 1996 e ainda vigente com adaptações feitas pelos papas Bento XVI e Francisco, rege o funcionamento do Conclave. Mas por trás de todo o protocolo, o que realmente move o processo não é apenas a razão ou o voto humano, mas a ação do Espírito Santo, que conduz a Igreja em sua missão até o fim dos tempos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 768).

A promessa de Jesus: “Enviarei o Espírito da Verdade”

Cristo prometeu aos apóstolos que não os deixaria órfãos, mas enviaria o Espírito Santo para conduzi-los à verdade plena (cf. Jo 16,13). Essa promessa continua a se cumprir em cada tempo da história da Igreja, especialmente em momentos como o Conclave, quando a barca de Pedro precisa de um novo timoneiro.

Como afirma o Concílio Vaticano II:

“A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos” (Lumen Gentium, 4).

Essa ação silenciosa, mas poderosa, do Espírito Santo é o coração do processo de escolha do Papa. E a oração do povo de Deus é o canal pelo qual essa ação se intensificia.

O papel da oração: o que a Igreja ensina?

A Igreja sempre ensinou que a oração tem eficácia real e concreta. Quando os fiéis se unem em súplica, especialmente em tempos decisivos, o céu se move. O Papa Leão XIII disse:

“A oração justamente alcança a sua eficácia máxima em impetrar o auxílio do Céu, quando é elevada publicamente, com perseverança e concórdia, por muitos fiéis que formem um só coro de suplicantes”.

Durante o Conclave, o papel da oração é:

  1. Preparar espiritualmente os cardeais eleitores para que estejam abertos ao discernimento e não guiados por critérios meramente humanos;
  2. Invocar a assistência do Espírito Santo, que, como vento impetuoso em Pentecostes, sopra onde quer (cf. Jo 3,8);
  3. Unir o Corpo Místico de Cristo em torno de sua cabeça visível, o Papa;
  4. Sustentar a Igreja inteira em esperança, mesmo diante de um tempo de incerteza e expectativas.

O Papa Bento XVI escreveu:

“É precisamente esta nossa debilidade que se torna, através do Espírito Santo, verdadeira oração, contacto autêntico com Deus. O Espírito Santo é o intérprete que nos faz compreender, a nós mesmos e a Deus, o que queremos dizer”. (Audiência Geral, 16/05/2012)

Como rezar pelo Conclave?

Não se trata apenas de uma formalidade ou de repetir fórmulas. Rezar pelo Conclave é um ato de fé viva na ação de Deus na história. Eis algumas formas práticas de intercessão:

  • Oferecer a Santa Missa em intenção do Conclave e dos cardeais eleitores;
  • Rezar o Terço ou o Rosário pedindo à Virgem Maria, Mãe da Igreja, que interceda pela eleição do novo Papa;
  • Clamar ao Espírito Santo com hinos tradicionais como o Veni Creator Spiritus;
  • Fazer jejum ou penitência, unindo sacrifícios ao pedido pela vontade de Deus.

O que está em jogo: mais que um nome, uma missão

A escolha de um novo Papa não é apenas a definição de um nome. É o discernimento de um homem que receberá sobre os ombros a missão de confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32), de ser sinal de unidade visível e guardião do depósito da fé (cf. CIC 882-884).

Em tempos de tantas crises, relativismos, paganismos e desafios culturais, a Igreja precisa de um Pastor segundo o Coração de Cristo. Um homem de oração, coragem, fidelidade e visão espiritual. Por isso, a oração dos fiéis é indispensável.

Quando o mundo espera… a Igreja reza

Diferente de uma eleição política, o Conclave é um evento eclesial e profundamente espiritual. O mundo pode aguardar ansiosamente por quem será o próximo Papa. A Igreja, porém, ajoelha-se em oração, confiando que Deus já sabe quem será seu escolhido.

O Papa Bento XVI na homilia da festa dos Santos Pedro e Paulo, afirmou que “as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja que Ele edificou sobre Pedro”.

A oração que move o Céu

Neste tempo de sede vacante e espera pelo novo Papa, cada fiel católico é chamado a ser intercessor. A oração da Igreja é mais poderosa que qualquer análise. Ela é o canal pelo qual o Espírito Santo age com liberdade, conduzindo os corações e fazendo florescer o discernimento.

Que neste Conclave, a oração dos pequenos, dos idosos, dos jovens, das famílias, de todos, suba como incenso diante de Deus. E que, sob a luz do Espírito Santo, os cardeais reconheçam, no silêncio da Capela Sistina, a voz de Deus dizendo: “Este é o meu escolhido”.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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