12º Domingo do Tempo Comum
Antífona de entrada
Vernáculo:
O Senhor é a força do seu povo, é a fortaleza de salvação do seu Ungido. Salvai vosso povo, Senhor, abençoai vossa herança e governai-a pelos séculos. (Cf. MR: Sl 27, 8. 9) Sl. A vós eu clamo, ó Senhor, ó meu rochedo, não fiqueis surdo à minha voz! Se não me ouvirdes, eu terei a triste sorte dos que descem ao sepulcro! (Cf. LH: Sl 27, 1)
Glória
Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso.
Nós vos louvamos,
nós vos bendizemos,
nós vos adoramos,
nós vos glorificamos,
nós vos damos graças
por vossa imensa glória.
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus,
Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo,
acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai,
tende piedade de nós.
Só Vós sois o Santo,
só vós, o Senhor,
só vós, o Altíssimo,
Jesus Cristo,
com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai.
Amém.
Coleta
Concedei-nos, Senhor, a graça de sempre temer e amar vosso santo nome, pois nunca cessais de conduzir os que firmais solidamente no vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Zc 12, 10-11; 13, 1
Leitura da Profecia de Zacarias
Assim diz o Senhor: 10“Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração; eles olharão para mim. Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor que se sente pela morte de um primogênito. 11Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém, como foi o de Adadremon, no campo de Magedo.
13, 1Naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação”.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 62(63), 2abcd. 2e-4. 5-6. 8-9 (R. 2ce)
℟. A minh’alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus!
— Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh’alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja. ℟.
— Como terra sedenta e sem água, venho, assim, contemplar-vos no templo, para ver vossa glória e poder. Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam. ℟.
— Quero, pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos! A minh’alma será saciada, como em grande banquete de festa; cantará a alegria em meus lábios, ao cantar para vós meu louvor! ℟.
— Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. ℟.
Segunda Leitura — Gl 3, 26-29
Leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas
Irmãos: 26Vós todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo. 27Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.
28O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo.
29Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
℣. Minhas ovelhas escutam minha voz, minha voz estão elas a escutar; eu conheço, então, minhas ovelhas, que me seguem, comigo a caminhar. (Jo 10, 27) ℟.
Evangelho — Lc 9, 18-24
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Certo dia, 18Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”
19Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.
20Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.
21Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. 22E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
23Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Creio
Creio em Deus Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Às palavras seguintes, até Virgem Maria, todos se inclinam.
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém.
Antífona do Ofertório
Perfice gressus meos in sémitis tuis, ut non moveántur vestígia mea: inclína aurem tuam, et exáudi verba mea: mirífica misericórdias tuas, qui salvos facis sperántes in te, Dómine. (Ps. 16, 5. 6. 7)
Vernáculo:
Os meus passos eu firmei na vossa estrada, e por isso os meus pés não vacilaram. Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, inclinai o vosso ouvido e escutai-me! Mostrai-me vosso amor maravilhoso, vós que salvais e libertais do inimigo quem procura a proteção junto de vós, Senhor. (Cf. LH: Sl 16, 5. 6. 7)
Sobre as Oferendas
Acolhei, Senhor, nós vos pedimos, este sacrifício de louvor e de reconciliação e fazei que, por ele purificados, vos ofereçamos o afeto de um coração que vos agrade. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Ou:
Eu sou o bom Pastor. Eu dou minha vida pelas ovelhas, diz o Senhor. (Jo 10, 11. 15)
Vernáculo:
Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga, diz o Senhor. (Cf. MR: Mt 16, 24)
Depois da Comunhão
Renovados pelo alimento do precioso Corpo e Sangue do vosso Filho, imploramos vossa misericórdia, Senhor: dai-nos receber um dia, resgatados para sempre, a salvação que celebramos fielmente. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 22/06/2025
Quem é Jesus para mim
Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. (Lc 9, 20)
Queridos irmãos e irmãs, celebramos o 12º Domingo do Tempo Comum. O Evangelho de São Lucas nos apresenta a pessoa e a missão de Nosso Senhor Jesus Cristo como a realidade mais bela que o homem já viu sobre a face da Terra. Hoje vamos falar sobre Jesus Cristo: Deus feito homem, a própria verdade, sabedoria, amor e misericórdia de Deus, mas encarnados.
Vamos pedir na Santa Missa deste domingo a graça de conhecer um pouco mais a Jesus Cristo, descobrir sua grandeza, amá-lo e segui-lo com toda nossa alma.
Dizem os Evangelhos que quando Jesus estava reunido com seus discípulos em certa ocasião, perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” (Mc 8,27), ao que os discípulos começaram a dizer o que eles ouviam nas ruas a respeito de Jesus: “uns dizem que és João Batista, outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas”. Então, São Pedro, tomando a palavra, disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”, ou seja, Pedro confessou que Jesus é Deus.
Nos dias de hoje, Nosso Senhor também pergunta a cada um de nós o mesmo que perguntou naquela ocasião aos discípulos. Então agora somos nós que temos que responder e não só com nossas próprias palavras, mas também com nossos corações, nossas vidas, nossas obras, ou seja, aquela pergunta aos discípulos se dirige a todos os homens de todos os tempos, e espera a resposta de cada um de nós. Trata-se de uma pergunta tão fundamental que sua resposta, podemos dizer, tem sabor de eternidade. Na nossa profissão de fé, recitamos: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor”. Contudo, meus caros irmãos, sabemos de fato quem é Jesus Cristo? O que sabemos d’Ele? Amamos Jesus Cristo realmente?
Vamos ver o que os textos da Bíblia dizem sobre Ele:
1. Em primeiro lugar, o que nos dizem os mesmos Apóstolos a respeito de Jesus:
O testemunho dos apóstolos é muito importante, porque foram eles que escutaram sua doutrina, estiveram ao seu lado, viram suas obras.
– São João Batista: “Ele é o filho de Deus” (Jo 1,34).– São Marcos: “Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).– São Bartolomeu: “Tu és o Filho de Deus; Tu és o Rei de Israel!" (Jo 1,45-49)”.– São João disse que Ele é o Verbo de Deus e ensina: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1); “É o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5,20).– São Tomé Apóstolo, caindo de joelhos, disse: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28).– Santa Marta: “Eu creio que Tu és o Messias, o Filho de Deus” (Jo 11,27).– São Paulo: “O grande Deus e Nosso Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2,13); e fala desse Cristo “que está por acima de todas as coisas, Deus bendito pelos séculos” (Rm 9,5).– São Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 16,16).
2. O que nos dizem os mesmos atos de Cristo?
Nós sabemos que uma pessoa se manifesta por seus atos. Pela maneira como se comportam os homens e mulheres, percebemos se são bons ou maus, educados, humildes, soberbos... Se lermos as coisas que fez Jesus nos Evangelhos, como será que o veremos?
1) Jesus se apresentou como um homem perfeito:– Jesus é um homem seguro de sua missão. Sabe para que veio e o cumpre: “Não sabíeis que Eu devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Neste tempo de dúvidas em que vivemos atualmente, Jesus é um grandioso exemplo.– Jesus é obediente a Deus Pai: “Não pretendo fazer minha vontade, mas Daquele que me enviou” (Jo 5,30).– Jesus é fiel à sua missão: vencendo obstáculos, cansaços, desânimos. Ele é um caminhante incansável, pregador incansável, benfeitor incansável... Foi enviado para nos salvar e fez isso à custa de seu sangue e dor.
2) Jesus se apresentou como um ideal de pureza:– Ele falou da nobreza do matrimônio, união que Ele estimava mais do que os seus contemporâneos.– Ele também concedeu um lugar muito importante à mulher em sua missão: aceita fazer o milagre que sua mãe lhe pede em Caná; aceita que muitas mulheres o ajudem quando saía a pregar pelas cidades, especialmente recebendo delas hospitalidade e serviço.– Defendeu-as muitas vezes, como a pecadora que lavou seus pés na casa de Simão, o fariseu (Lc 7); defendeu a adúltera que foi jogada a seus pés para que a condenasse; defendeu Maria de Betânia das murmurações de Judas.
3) Jesus se apresentou como um modelo de amor perfeito ao Pai. Constantemente, Ele recordou o valor absoluto de Deus:– Ensinou que os homens devem confiar na providência divina.– Que os homens devem dar todo seu coração a Deus: “Amarás ao Senhor Deus com todo teu coração” (Mc 12,29).– Buscou adoradores em espírito e em verdade (Jo 4,22).– Falou com amor profundo a Deus Pai: “Pai Nosso”, “Meu Pai”.
4) Jesus se apresentou como um homem muito valente:– Foi muito perseguido. Pilatos o desprezou, Herodes o quis matar (Lc 13,31), mas Ele nunca voltou atrás para desistir de sua missão.– Muitos tiveram inveja e ódio dele. Na última Ceia, Ele disse: “Aborrecem-me sem motivo”. Os fariseus o perseguiram; os saduceus, assim como alguns escribas e gente do povo, pediram a sua morte; foi conduzido a Pilatos e Herodes, sendo sentenciado à morte pelo conselho do Sinédrio e pelo poder romano.– Chocou-se contra a dureza dos corações incrédulos.
E mesmo assim nunca deixou de fazer o que tinha que fazer. Quando o interrogaram pouco antes de sua morte, disse: “Eu preguei publicamente, diante de todo o mundo; sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde estão os judeus, e nada falei em segredo...” (Jo 19,18).
Será que alguém vai estranhar se um centurião romano, soldado e acostumado a castigar e crucificar, exclame diante da cruz: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus”?
3. O que nos dizem os ensinamentos de Jesus?
O que Jesus ensina de si mesmo? Disse simplesmente que é Deus, e, mais claramente, que é o Filho de Deus, enviado ao mundo para salvar os homens:– Mt 11,27: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho”. Compara o conhecimento que Ele tem de Deus Pai com o que Deus Pai tem dele, um conhecimento infinito, próprio de Deus.– Jo 10,30: “O Pai e eu somos um”.– Jo 17,21: “... para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti”.
De diversas maneiras Jesus Cristo ensinou que ele é Deus.
4. Que nos dizem de Jesus seus milagres e profecias?
Jesus Cristo fez milagres e demonstrou que tem poder sobre as forças naturais (caminhou sobre o mar, acalmou a tempestade, multiplicou os pães), sobre as doenças (curou os cegos, leprosos e paralíticos), sobre a morte (ressuscitou a vários), sobre os demônios etc. Todos eles são uma prova infalível de sua divindade.
O mesmo que dizemos de seus milagres vale para suas profecias, que também são milagres, embora de outra ordem: suas profecias sobre Pedro (que iria morrer mártir), sobre Maria Madalena (perseguições à sua Igreja), sobre a destruição de Jerusalém, sobre sua Paixão e morte, sobre a permanência indestrutível de sua Santa Igreja.
Queridos irmãos e irmãs, por todas essas coisas, temos que estar bem seguros de que Nosso Senhor Jesus Cristo é o nosso verdadeiro Deus feito homem por nós.
Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus Encarnado que nos oferece em sua própria pessoa aquilo que os nossos corações buscam, segundo testemunharam seus discípulos, suas próprias palavras, suas obras milagrosas, seus frutos inegáveis, sua grandiosa personalidade. A cada um de nós, Nosso Senhor poderia repetir aquelas palavras gravadas em um crucifixo flamenco do ano 1632:
Eu sou a Luz, e não me olhais.Eu sou o Caminho, e não me seguis.Eu sou a Verdade, e não me credes.Eu sou a Vida, e não me buscais.Eu sou o Mestre, e não me escutais.Eu sou o Senhor, e não me obedeceis.Eu sou o vosso Deus, e não me rezais.Eu sou vosso melhor Amigo, e não me amais.Se fordes infelizes, não me culpeis.
Tratemos de conhecê-lo e amá-lo sempre mais e mais. Assim seja, amém.
Deus abençoe você!
Pe. Fábio Vanderlei, IVE
Assim como São Pedro, todos nós, ao conhecer Jesus, renunciamos a muitas coisas, pessoas e situações para poder segui-lo verdadeiramente. No entanto, depois que abraçamos a fé e já temos certa intimidade com Nosso Senhor, chega o momento em que Ele nos pede mais: pede que renunciemos a nós mesmos e abracemos a cruz que nos foi reservada.Ouça a homilia dominical do Padre Paulo Ricardo e perceba em que consiste a segunda conversão que Cristo nos pede no Evangelho de hoje.
Santo do dia 22/06/2025
São João Fischer e São Tomás More, Mártires (Memória Facultativa)
Local: Reino Unido
Data: 22 de Junho † 1535
João Fisher nasceu em Yorkshire em 1469. Em 1483, estava em Cambridge. Bacharel, foi professor de artes. Ordenado padre em 1494, aos vinte e cinco anos de idade, logo depois era censor da Universidade. Em 1504, elevou-se à chancelaria.
Em 1504, o rei nomeou-o bispo de Rochester, ao sul da desembocadura do Tâmisa. Contava, então, trinta e cinco anos. Evitando as honrarias, das quais fugia sempre e sempre, entrou a lutar, com grande diligência, contra os abusos da diocese. Procurava os pobres, consolava os doentes, provia-os de tudo aquilo que se lhes fazia necessário.
Fisher combateu denodadamente o protestantismo. A Reforma, de início, não fora um movimento político. Fora tão somente um movimento religioso. Do ponto de vista da doutrina, a Reforma pretendeu estabelecer uma relação mais direta entre o Criador e o pecador, diminuindo a eficácia dos sacramentos ao lado da misericórdia divina, fonte de salvação das almas.
Assim, diziam, aproximavam-se dos ensinamentos de Jesus Cristo, que era quanto pode haver de democrático, cabendo ao livre exame a supremacia pela subordinação dos dogmas à interpretação individual.
A questão das indulgências proporcionou a discórdia, levou à separação. Lutero, publicamente, na presença de doutores, estudantes e povo, queimou a bula que vinha condená-lo como herético e sedicioso.
O protesto de Lutero foi feito por meio de noventa e cinco teses, as famosas "Teses" que São João Fisher criticou com bravura e brilho. Depois que Henrique VIII, em 1522, ligou-se a Ana Bolena, dama de honra da esposa Catarina de Aragão, declarou-se a luta entre Fisher e o monarca. E em 1533, foi ele aprisionado pela primeira vez.
Quando o rei, procurando assegurar a sucessão do trono aos filhos de Ana Bolena, buscou o juramento de São João Fisher para uma fórmula que ia contra o papa (rejeição da jurisdição papal sobre a Igreja), o Santo, com indignação, recusou-se a atender o soberano, rebelando-se.
Preso de novo, desta vez foi enviado à fatídica Torre de Londres, tendo os bens confiscados e os livros e trabalhos dispersos. Quando lhe varejaram a casa, encontraram um móvel que tinha, fechado a chave, uma única gaveta. Aquilo era suspeito. Que conteria ela? Forçaram-na. Arrombada, escancarada, os três objetos que encerrava decepcionaram os violadores: dentro, severos, estavam, como que acusadores, duas disciplinas e um cilício.
Importantíssima figura daqueles tempos foi a de Tomás More, amigo do santo arcebispo, o humanista e chanceler que a igreja canonizou em 1935. E, sem dúvida, a personalidade mais interessante da turbulenta Inglaterra de Henrique VIII, naqueles tempos de São João Fisher.
Como Fisher, era de ótima têmpera. Até o fim da vida, defendeu sempre um bom entendimento com a Santa Sé, de preferência a um rompimento, que só serviria para reunir na pessoa do soberano o poder espiritual e o poder temporal. Demonstrou, pela vitalidade prodigiosa de seu ânimo, pelo ascetismo da sua doutrina, solicitada pelas exigências duma vida senhorial, pela sua natural propensão para a pobreza e para a humildade, que os exaltados combates que se travam entre os escrúpulos morais e o amor do próximo, são sempre pagos com o sacrifício da própria vida.
Por esta razão mesma, a individualidade de Tomás More - o homem - não pode deixar de suscitar o mais vivo interesse. É, sem dúvida, de todos os humanistas, o autor da "Utopia" aquele que melhor sentido da ironia possuiu, de tal modo que só ele compreendeu o vácuo da existência, tanto que chegou por momentos a pensar em se recolher à Cartuxa.
Impressionado com a aura de sabedoria de que Tomás More se achava revestido, Henrique VIII, logo após ter subido ao trono, quis tê-lo ao seu serviço.
More passou a preparar os discursos do rei, a exercer uma ação decisiva na vida intelectual do país; assinou o Tratado de Cambrai, a que se refere o seu epitáfio. Desejando sempre que Deus o guiasse nas emergências da vida, More rezava e meditava todos os dias.
Apreciado pelo talento, tanto como pela piedade, More foi, sucessivamente, encarregado de defender o rei numa polêmica com Lutero, e de procurar trazer à razão Tyndale, que aceitara a heresia. Durante anos, foi considerado homem de espírito angélico e de inigualável saber - conforme o atestam os tratados de retórico da época, que consignam esta frase.
Em 1529, Henrique VIII ofereceu a Tomás More o lugar de chanceler, procurando desta forma encontrar o apoio de alguém reputado pela piedade, para conseguir sancionar o repúdio de Catarina e casar com Ana Bolena.
More aceitou e pretendeu afastar a anulação, sabendo perfeitamente que era para isso que tinha sido chamado. Vendo que nada conseguia fazer, jubilou-se, a pretexto de estar doente.
Henrique VIII indignou-se, mas não exteriorizou as intenções. Convidou-o para assistir ao casamento com Ana Bolena. More recusou-se comparecer. Tomás Cromwell acusou-o publicamente. More solicitou audiência duma comissão de parlamentares, que lhe foi concedida, com a condição de aprovar a política do rei.
Em presença desta exigência, desistiu de ser ouvido. Em seguida, foi instado para votar a lei de sucessão, a favor de Isabel, filha de Ana Bolena. Recusou ainda. Dois dias depois, a 17 de abril de 1535, foi conduzido à Torre de Londres, de onde só saiu para a forca.
Vilipendiado, mal alimentado, tratado sem deferência ou consideração, More sofreu todos os tormentos possíveis. Escreveu, para se consolar, o "Diálogo do Reconforto nas Atribulações", e meditou na Paixão do Senhor. Embora instalado pelos amigos para se retratar, persistiu na decisão.
O cardeal João Fisher, que tomara igual atitude em relação ao divórcio de Henrique VIII, foi decapitado. More defendeu-se magistralmente dentro da lei, mas condenado a ser esquartejado, dirigiu-se aos carrascos nestes termos: - Tenho confiança absoluta, e pedirei a Deus, com fervor, o céu para vossas senhorias, porque, embora tenhais sido os obreiros da minha condenação, é certo que ainda poderemos encontrar-nos no céu, todos juntos...
Tomás More, foi decapitado em Londres, no dia 6 de julho de 1535, por ordem de Henrique VIII. Morreu como um justo, pronunciando estas palavras: - Morro leal a Deus e ao Rei! Mas, a Deus, antes de mais nada! Beatificado em 1886, foi inscrito no catálogo dos Santos em 1935.
São João Fisher, no ano em que foi executado Tomás More, também se foi para Deus. Era, como se viu, em 1535, e o papa Paulo III nomeou-o, pouco antes da morte, cardeal. Conta-se, então, que Henrique VIII, no paroxismo da fúria, gritou, apoplético, aos que lhe traziam a notícia: - Envia-lhe, então, o papa o chapéu? Eu arranjarei de modo que, ao chegar, ele o coloque sobre os ombros... porque não mais terá cabeça para acomodar chapéus!
Condenado à morte no dia 17 de junho, São João Fisher foi executado cinco dias mais tarde, isto é, a 22. Acordado às cinco da madrugada, gentilmente suplicou que o deixassem repousar um pouco mais. Contentaram-no, e o Santo profundamente, dormiu mais duas horas.
Quando acordou, vestiu-se, tomou o Novo Testamento e leu, com grande consolação, estas palavras de São João: Ora, a vida eterna é esta: "Que te conheçam a ti como um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Glorifiquei-te sobre a terra; acabei a obra que me deste a fazer. E agora, Pai, glorifica-me junto de ti mesmo, com aquela glória que tive em ti, antes que houvesse mundo". (Jo 17, 3-5)
Chegado que foi ao local do suplício, calma e dignamente dirigiu-se ao povo que se acotovelava para vê-lo, dizendo: - Aqui vim para morrer pela fé, pela fé da Igreja Católica e de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Estava abatidíssimo, muito magro, "um esqueleto". Decapitado, foi o corpo depois levado para o cemitério chamado de Todos os Santos, e a cabeça, fincada num alto poste esguio, por catorze dias ficou exposta na ponte de Londres.
São João Fisher foi canonizado junto com o amigo Tomás More, em 1935, graças ao zelo de Dom Henrique Quentin.
Referência:
ROHRBACHER, Padre. Vida dos santos: Volume XI. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Edição atualizada por Jannart Moutinho Ribeiro; sob a supervisão do Prof. A. Della Nina. Adaptações: Equipe Pocket Terço. Disponível em: obrascatolicas.com. Acesso em: 21 jun. 2021.
São João Fischer e São Tomás More, rogai por nós!