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Imitação de Cristo
Tomás de KempisLivro III - Da consolação interior
Capítulo 36 - Contra os juízos dos homens
1. Jesus: Filho, põe tua confiança em Deus e não temas os juízos humanos, enquanto tua consciência te der testemunho da tua piedade e inocência. É bom e salutar sofrer desse modo, nem isso será penoso ao coração humilde, que confia mais em Deus que em si mesmo. Muitos falam com demasia, e por isso não se lhes deve dar muito crédito. Mas também não é possível satisfazer a todos. Ainda que Paulo se empenhasse por agradar a todos no Senhor, fazendo-se tudo para todos (1Cor 9,22), contudo, fez pouco caso de ser julgado no tribunal dos homens (1Cor 4,3).
2. Fez todo o possível para a edificação e salvação dos outros, quanto dele dependia; contudo não pôde evitar ser julgado e desprezado por alguns; por isso pôs tudo nas mãos de Deus, que tudo conhecia, e defendeu-se com paciência e humildade contra as línguas maldizentes dos que inventavam maldades e mentiras e as espalhavam a seu bel-prazer. Todavia, uma vez ou outra, dava resposta, para que seu silêncio não fosse causa de se escandalizarem os fracos.
3. Quem és tu, que temes um homem mortal? (Is 51, 12). Hoje existe e amanhã já não aparece. Teme a Deus, e não temerás as ameaças dos homens. Que mal te pode fazer um homem com palavras e afrontas? Mais se prejudica a si mesmo do que a ti, e, seja quem for, não poderá escapar ao juízo de Deus. Põe os olhos em Deus, e não contendas com palavras de queixa. Se agora pareces sucumbir e padecer injúria não merecida, não fiques contrariado nem diminuas a tua coroa com a impaciência, mas antes levanta os olhos ao céu, para mim, que poderoso sou, para te livrar de toda confusão e injúria e dar a cada um conforme suas obras.
Reflexões
Tu me dizes que ficas irritada com os maus juízos que se fazem de mim, que não fazes nada que valha e as pessoas acabam acreditando que sim; e me pedes uma receita. Ei-la, minha cara filha, tal como os santos me ensinaram: se o mundo nos despreza, devemos alegrar-nos, porque ele tem razão, pois somos desprezíveis; se ele nos estima, desprezemos sua estima e seu julgamento, porque ele é cego. Não procures averiguar tanto o que o mundo pensa, nem fiques preocupada, mas despreze seu mérito e seu desdém, e deixa-o dizer o que quiser, bem ou mal (54e lettre spirituel, XII, 85).
Diz-se que aqueles que tomaram o preservativo que se chama comumente a graça de São Paulo não incham de modo nenhum ao serem mordidos ou picados de cobra, contanto que a graça seja de aguardente fina: assim também, quando a humildade e a doçura são boas e verdadeiras, elas nos garantem contra a inchação e o ardor que as injúrias costumam provocar em nossos corações. Se mordidos ou picados pelos maldizentes e inimigos nos tornamos arrogantes, presunçosos e exasperados, é sinal de que nossa humildade e doçura não são verdadeiras e sinceras, mas artificiosas e aparentes (Introduction à la vie dévote, parte III, cap. VIII, I, 124).
Oração
Pai Eterno..., eu vos dou graças e vos bendigo infinitamente... pedindo-vos... perdão por minha vã soberba, amor-próprio, impaciência e hipocrisia, e ao mesmo tempo a graça de não fazer o mínimo caso dos vãos julgamentos dos outros e de vencer todo respeito humano para vos servir (Opusc., III, 126).
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