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Imitação de Cristo
Tomás de KempisLivro III - Da consolação interior
Capítulo 32 - Da abnegação de si mesmo e abdicação de toda cobiça
1. Jesus: Filho, não podes gozar perfeita liberdade, enquanto não renunciares inteiramente a ti mesmo. Em escravidão vivem todos os ricos e egoístas, os cobiçosos, curiosos, que gostam de vaguear, buscando sempre as delícias dos sentidos e não as de Jesus Cristo, mas só imaginam o que não pode permanecer e só disso cogitam. Pois tudo que não vem de Deus perecerá. Conserva em teu coração esta breve e profunda sentença: Deixa tudo, e tudo acharás; renuncia à cobiça, e terás sossego. Pondera isto, e, quando o praticares, tudo entenderás.
2. A alma: Senhor, isto não é obra de um dia, nem brincadeira de criança, antes nesta breve palavra se compendia toda a perfeição religiosa.
3. Jesus: Filho, não deves recear, nem logo desanimar, ouvindo falar do caminho dos perfeitos, mas antes esforça-te por um estado mais perfeito, ou pelo menos almeja-o ardentemente. Oxalá fosses assim e tivesses chegado a tanto, que não te amasses a ti mesmo, mas estivesses inteiramente resignado à minha vontade e à daquele que te dei por diretor. Muito me agradarias, então, e toda a tua vida passaria em paz e alegria. Ainda tens que desprender-te de muitas coisas, e se não mas entregares inteiramente, não alcançarás o que me pedes. “Aconselho-te que me compres o ouro acrisolado, para te tornares rico” (Ap 3,18), isto é, a sabedoria celestial, que pisa aos pés todas as coisas terrenas. Despreza a sabedoria terrena, todo o humano contentamento e a própria complacência.
4. Eu disse que deves buscar, em lugar das coisas nobres e preciosas, aquilo que, aos olhos do mundo, é vil e desprezível. Porque mui vil e desprezível, até quase esquecida, parece a verdadeira e celestial sabedoria, que não se tem em grande conta, nem trata de se engrandecer na terra. Muitos a louvam com a boca, mas afastam-se dela na vida; contudo é esta a pérola preciosa, conhecida de poucos.
Reflexões
Teótimo, nosso livre-arbítrio jamais é tão livre como quando é escravo da vontade de Deus, como jamais é tão escravo como quando serve à nossa própria vontade; jamais ele tem tanta vida como quando morre para si mesmo, e jamais tem tanta morte como quando vive para si mesmo.
Nós temos a liberdade de fazer o bem e o mal. Mas escolher o mal não é usar, mas abusar desta liberdade. Renunciemos a esta deplorável liberdade e sujeitemos para sempre nosso livre-arbítrio à decisão do amor celeste; tornemo-nos escravos do amor, que faz os servos mais felizes do que os reis. Se nossa alma jamais quis usar sua liberdade contra nossas resoluções de servir a Deus eternamente e sem reserva, então sacrificamos por amor a Deus este livre-arbítrio e o fazemos morrer a si mesmo, a fim de que ele viva para Deus. Quem quiser guardá-lo pelo amor-próprio neste mundo, o perderá pelo amor eterno no outro, e quem o perder pelo amor de Deus neste mundo, o conservará pelo mesmo amor no outro. Quem lhe der a liberdade neste mundo, o fará escravo e servo no outro, e quem o sujeitar à cruz neste mundo, o terá livre no outro, onde, estando abismado no gozo da divina bondade, encontrará sua liberdade convertida no amor e o amor em liberdade, mas liberdade de doçura infinita; sem esforço nem pena, e sem nenhuma relutância, amaremos imutavelmente para sempre o Criador e Salvador de nossas almas (Amour de Dieu, 1, XII, cap. X, II, 469).
Oração
Pai Eterno..., eu vos amo e bendigo infinitamente, suplicando-vos que me perdoeis todas as minhas loucuras, e me deis a graça de detestar a louca sabedoria do mundo e amar de todo o meu coração vossa sabedoria infinita, de tal modo que doravante eu não ame nem deguste em vós senão o que é vosso (Opusc., III, 126).
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