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O Abandono à Providência Divina
Pe. Jean Pierre de CaussadeLivro Terceiro: Da assistência paternal com que Deus envolve as almas que se abandonam inteiramente a ele
CAPÍTULO XI - A alma que se abandona a Deus sabe vê-lo mesmo no soberbo que luta contra a divina ação. Todas as criaturas, quer sejam boas quer sejam más, lho manifestam
A ordem de Deus é toda a prática da alma simples, que sabe reconhecê-lo e reverenciá-lo, nas arbitrariedades e caprichos com que o soberbo pretende tirar-lhe a paz. O soberbo despreza uma alma, que nele e em todas as suas ações não vê senão a Deus. Muitas vezes o soberbo pensa que a modéstia dessa alma é um sinal de assentimento, quando é apenas temor amoroso de Deus e da vontade divina que lhe é presente no soberbo.
Não, pobre insensato, a alma simples não tem medo de ti. Pelo contrário, tu despertas nela um sentimento de compaixão; é a Deus que ela responde, quando tu pensas que fala para ti; é com Deus que ela trata, e a ti não te olha senão como a um dos seus escravos, ou antes como a uma sombra sob a qual Deus se oculta. E por isso quanto mais alto é o tom em que falas, mais baixo ela te responde; e quando julgas tê-la apanhado de surpresa, afinal é ela que te surpreende a ti. As tuas atenções e as tuas violências não as considera senão como favores da Providência. O soberbo é um enigma que a alma simples, iluminada pela fé, resolve com a maior clareza.
Este hábito de encontrar a Deus em tudo o que vai sucedendo a cada momento em nós e ao redor de nós, é a verdadeira ciência das coisas; é uma revelação contínua da verdade; é uma comunicação com Deus, renovada incessantemente; é o gozo do Esposo, não às escondidas, às ocultas, na cela e na vinha, mas a descoberto e em público, sem temor de criatura alguma. É um fundo de paz, de amor e de alegria em Deus, vivendo e operando sempre o mais perfeito, em tudo o que se apresenta. É o paraíso eterno, que em verdade não é presentemente senão conhecido e saboreado em coisas informes e envolvidas de trevas; mas o Espírito de Deus, que nesta vida vai dispondo todos os elementos desse paraíso por meio desta continuada e fecunda presença da sua ação, dirá no dia da morte: Faça-se a luz - Fiat lux: e então veremos claramente os tesouros encerrados nesse abismo de paz e de contentamento de Deus, que os olhos da fé sabiam descobrir de contínuo, em cada ação e em cada sofrimento.
Quando Deus se dá assim, as coisas mais comuns tornam-se extraordinárias, apesar de não o parecerem. É que este caminho é já, por si mesmo, extraordinário; e por conseguinte não precisa ser adornado de maravilhas que lhe não são próprias. É um milagre, uma revelação, um gozo continuado, com pequenas interrupções; mas em si mesmo, o seu caráter é não ter nada de sensível nem de maravilhoso, mas tornar maravilhosas todas as coisas comuns e sensíveis.
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