Sete Obras de Misericórdia Corporais Doutrina da Igreja
«De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé?», desafiava Tiago as primeiras comunidades cristãs. Desde o início que a Igreja apresenta uma lista de 14 obras para o cristão colocar em prática a sua fé. Este mês apresentamos as sete obras corporais. Caso para dizer: Mãos às obras!
1. DAR DE COMER A QUEM TEM FOME
O povo bíblico sempre deu grande atenção aos pobres, mas será a partir de Cristo que tal atenção se torna central e a obra primordial. De tal modo é essencial que Bento XVI escreveu na Encíclica Caritas in veritate: «Os direitos à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos, a começar pelo direito primário à vida.» (N.º 27) Trata-se do inviolável direito à vida. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística informam que em Portugal cerca de 25,6% das pessoas estão em risco de pobreza, um quarto da população do nosso país. Quem está à nossa volta que necessita de ajuda alimentar? Apoio as instituições que promovem este auxílio?
2. DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE
Jesus disse: «Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.» (Mt 10,42) Por um lado, a água é imprescindível à vida, como diz o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si: «O acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos.» (N.º 30) Por outro lado, também é o consolo e o novo alento daqueles que estão cansados, daqueles que trabalham. Quem amparamos e consolamos ao nosso redor? Somos capazes de dar um simples copo de água a todo aquele que nos pede?
3. VESTIR OS NUS
O padre e teólogo Pie Ninot recorda o gesto de São Martinho de Tours, que ofereceu metade da sua capa ao mendigo que se cruzou no seu caminho. «Na noite seguinte,» conta o autor, «Cristo apareceu-lhe vestido com a metade da capa dada para lhe agradecer o seu gesto.» É significativo como esta história antiga representa as palavras de Jesus: «Cada vez que o fizeste a um destes pequeninos, foi a Mim que o fizeste.» (Mt 25,40) São diversas as instituições que recolhem, tratam e redistribuem roupa em segunda mão. As lojas sociais vendem roupa a preços simbólicos. No inverno, são proveitosas campanhas de recolha de cobertores. Quais são as necessidades da população que vive no território da sua comunidade?
4. DAR POUSADA AOS PEREGRINOS
Na maior parte da sua História, os israelitas foram um povo estrangeiro, peregrino, de tal modo que a hospitalidade é muito valorizada. Na parábola do bom samaritano, Jesus ironiza com os seus ao apresentar um samaritano, um estrangeiro, como exemplo de quem acolhe, cuida e de quem oferece um teto para aquele que está em necessidade. O problema dos refugiados é uma realidade premente e que necessita da ajuda de todos. Além disso, é sempre necessário auxiliar as instituições que diariamente combatem os problemas da vida dos sem-abrigo. Também destacamos aqui as instituições que acolhem os órfãos. Como poderemos contribuir mais e melhor para auxiliar a resolução possível destes problemas?
5. ASSISTIR OS ENFERMOS
A doença faz parte da condição humana, de tal modo que mais cedo ou mais tarde cada um de nós se depara com ela. Nesses momentos é muito importante o apoio e o auxílio daqueles que nos são próximos. Na obra acima referida, P. Ninot cita Luciano Manicardi, monge italiano, afirmando que «o enfermo tem uma sacramentalidade crística que o converte em sacramento de Cristo», ou seja, assim como um sacramento cada doente é um outro Cristo. Não vêm de novo à nossa mente as palavras de Jesus: «A Mim o fizeste»? Mais, a visita aos doentes deve atender também a família deste, acolhendo-a e apoiando-a. Atendemos todos os doentes da nossa comunidade e as suas famílias?
6. VISITAR OS PRESOS
Quando Jesus é crucificado, São Lucas refere outros dois malfeitores, sem mencionar que um é bom e outro mau, como tradicionalmente interpretamos. Facto é que um deles (não sabemos se o da esquerda ou da direita) se considera culpado, e todavia, nesse mesmo dia, ele estará com Jesus no Paraíso. Ao visitar a prisão de Palmasola, Bolívia, o Papa disse que «quando Jesus entra na sua vida, uma pessoa não fica detida no seu passado, mas começa a olhar o presente de outra forma, com outra esperança». A visita aos presos deve ter presente não só o preso mas a sua família, cuja punição também atinge. Conheço as condições das prisões mais próximas de mim? Apoio as instituições que assistem os presos?
7. ENTERRAR OS MORTOS
Esta é a única obra de misericórdia que Jesus não menciona nos evangelhos. Porém, era uma prática comum no judaísmo, assim como na transversalidade das culturas e religiões. Defendem os sociólogos que os rituais religiosos mais ancestrais da humanidade são os ritos fúnebres, pois é nesses momentos que este mundo toca o outro, que a vida toca a morte. Sepultar não é apenas consolação dos vivos, mas homenagem aos mortos, um último gesto por aquele que partiu e que não se destruiu. Como decorrem os ritos fúnebres na minha comunidade? Auxiliamos os nossos irmãos a atravessar a dor e o luto?