Devoções
A intercessão através da Paixão de Cristo
por Lorraine Martins • Você e mais 126 pessoas leram este artigo Comentar
Tempo de leitura: 8 minutos
A Passio Domini, também conhecida como Paixão de Cristo, é uma prática espiritual rica e profunda, focada na meditação dos sofrimentos de Jesus durante Sua Paixão. É uma prática inspirada na agonia de Cristo no Jardim do Getsêmani. Essa devoção busca consolar o Coração de Cristo, que sofreu não apenas fisicamente, mas também espiritualmente pelo abandono dos Seus. Cristo foi abandonado inclusive pelos Apóstolos que, incapazes de vigiar por uma hora, dormiram enquanto Ele carregava o peso dos pecados do mundo.
A oração que consola o Coração de Cristo
Como relembrou Karol Wojtyla, o Papa São João Paulo II, a exortação de Jesus — “Não pudestes vigiar comigo uma hora?” — ecoa até hoje como um convite para a Igreja e para cada cristão. É uma chamada para compensar a falta de companhia que Jesus experimentou no Getsêmani e preencher essa lacuna através da oração, sacrifício e presença fiel. Neste artigo, veremos como a prática da Passio Domini nos une ao sofrimento de Cristo e oferece um meio poderoso de intercessão, especialmente em favor dos sacerdotes e da Igreja.
A agonia de Cristo em sua Paixão e o apoio Angelical
Na noite antes da Sua crucificação, no início de sua Paixão, Jesus foi ao Jardim do Getsêmani para orar, levando consigo Pedro, Tiago e João. Em Sua angústia, sentiu o peso imenso dos pecados da humanidade. Embora tenha implorado aos Apóstolos que vigiassem com Ele, eles caíram no sono. A dor de Jesus não era apenas física, mas espiritual, devido à indiferença daqueles mais próximos de Si.
O Evangelho de São Lucas relata que, enquanto Jesus orava, Deus enviou um anjo do céu para fortalecê-Lo (Lc 22,43). Papa Pio XI, em sua encíclica Miserentissimus Redemptor, acrescenta que Cristo encontrou algum consolo, não só no auxílio angelical, mas também nas almas generosas que, através da oração e da reparação, O acompanham no Seu sofrimento. Este ato de consolo espiritual é um mistério profundo, mas verdadeiro. Através da oração, podemos hoje oferecer a Jesus o alívio que Ele busca, unindo-nos ao Seu sofrimento no Getsêmani.
O apelo da Igreja: acompanhando Jesus na Sua solidão
As palavras de Jesus aos Seus discípulos não foram apenas uma repreensão momentânea, mas um lembrete eterno para a Igreja. O Papa João Paulo II destacou que a Igreja, em todas as épocas, busca recuperar a “hora perdida” no Getsêmani. A hora em que os Apóstolos dormiram, enquanto Jesus sofria, tornou-se um símbolo de negligência espiritual. Muitos de nós, como discípulos, também podemos vivenciar essa falta de vigilância em nossa vida de fé.
Através da prática da Passio Domini, a Igreja oferece aos seus fiéis um meio de compensar essa falta. É uma oportunidade de estar com Cristo em Sua agonia, meditar em Sua Paixão e oferecer a Ele o consolo que os Apóstolos não puderam oferecer naquela noite. A Igreja considera esse momento de oração um dos meios mais eficazes de intercessão pelos outros. É especialmente importante para os sacerdotes e bispos, que enfrentam grandes desafios ao liderar a Igreja.
A Paixão de Cristo: no coração da espiritualidade Cristã
A meditação na Paixão de Cristo não é uma prática nova. Desde os primórdios da Igreja, os cristãos refletiram sobre o sacrifício de Jesus, entendendo que Suas dores físicas e espirituais foram um ato de amor redentor. Os Evangelhos dedicam grande atenção à Paixão, e muitos Santos ao longo da história viveram uma devoção especial a ela.
A Beata Ana Catarina Emmerich, por exemplo, descreveu as visões detalhadas dos sofrimentos de Cristo e como Sua mãe, Maria Santíssima, constantemente revivia esses momentos de dor. São Francisco de Assis, tão unido à Paixão, recebeu os estigmas, os sinais físicos da Paixão de Cristo em seu próprio corpo. Estes exemplos mostram que meditar na Paixão de Cristo não é apenas recordar um evento histórico, mas entrar em uma relação mais profunda com Jesus e compreender Seu amor por nós.
A oração da Passio Domini: um chamado à intercessão
A Passio Domini é uma prática que convida cada cristão a se unir espiritualmente a Jesus em Sua agonia no Jardim.
Recomenda-se praticar essa devoção especialmente nas quintas-feiras à noite, em memória da última noite de Cristo antes da crucificação. A oração consiste em meditar na dor de Jesus, seja lendo as Sagradas Escrituras, seja recitando o Santo Terço, especialmente os mistérios dolorosos.
Muitos santos, como Santa Faustina, São Padre Pio e Santo Afonso de Ligório, enriqueceram essa tradição ao compartilhar suas próprias meditações sobre os sofrimentos de Cristo. O Papa Pio XI, na Miserentissimus Redemptor, destacou que, assim como nossos pecados foram previstos por Jesus em Sua agonia, nossas reparações também foram previstas e oferecem consolo ao Seu Coração.
Os benefícios espirituais da Passio Domini
Rezar a Passio Domini traz inúmeros benefícios espirituais. Em primeiro lugar, ela nos une intimamente ao sofrimento de Cristo em sua Paixão, ajudando-nos a entender melhor o Seu sacrifício e a Sua misericórdia. Ela também nos leva a um profundo sentimento de gratidão, inspirando-nos a consolar o Coração de Jesus com nossa presença fiel.
Além disso, a Passio Domini nos ajuda a crescer nas virtudes da fidelidade, paciência e obediência, virtudes essas que Jesus demonstrou ao cumprir a vontade do Pai até o fim. O próprio Cristo, ao sofrer pelos pecadores, oferece-nos um exemplo supremo de amor e generosidade. Ao participar dessa devoção, também devemos imitar esse amor, especialmente ao interceder pelos outros, como sacerdotes e bispos, que precisam de nossas orações para sustentar sua missão pastoral.
A relevância da Passio Domini nos dias de hoje
Vivemos em tempos de grande necessidade espiritual. A cultura atual, com sua crescente secularização, apresenta desafios imensos aos valores cristãos e à missão da Igreja. A Passio Domini oferece um meio poderoso de intercessão, não apenas pelos nossos próprios pecados, mas também pelos pecados do mundo. Assim, busca a renovação espiritual da Igreja e de nossos líderes religiosos.
Como Jesus lamentou a indiferença dos Seus amigos no Getsêmani, assim também hoje Ele busca aqueles que se unirão a Ele em oração e sacrifício, para consolar o Seu Coração ferido pelos pecados da humanidade. A Passio Domini nos chama a responder a essa necessidade, oferecendo nossa companhia espiritual a Jesus.
Convite à Passio Domini
A Obra dos Santos Anjos, que promove a devoção à Passio Domini, convida todos os fiéis a participarem desta prática. Às quintas-feiras são especialmente dedicadas a essa devoção, mas, se não for possível participar toda semana, recomenda-se ao menos uma vez por mês. A Santa Missa e a adoração ao Santíssimo Sacramento são elementos centrais, já que são os maiores meios de intercessão e reparação que temos.
Seja na igreja, em uma capela ou em casa, todos são convidados a rezar a Passio Domini. Mesmo aqueles que não podem estar presentes fisicamente podem oferecer suas orações e sacrifícios, buscando consolar o Coração de Cristo e interceder pelas necessidades da Igreja e do mundo.
No dia da oração da Passio Domini, convidamos você a rezar o Angelus Domini, por meio de nosso aplicativo ou aqui em nosso site.
Em tempos de grande sofrimento e provação, a Passio Domini nos oferece uma via de união com Cristo e de intercessão pela Igreja. Ao participar desta devoção, nos aproximamos mais do Coração de Jesus, compreendendo Sua dor e oferecendo-Lhe consolo. Assim como o anjo que foi enviado para fortalecer Jesus no Getsêmani, também nós, com nossos sacrifícios e orações, podemos oferecer um consolo espiritual que fortalece o Coração de Nosso Senhor em sua Paixão.
– Lorraine Martins, psicóloga clínica
Compartilhar:
Voltar para artigos