Liturgia
A Liturgia como encontro com o Céu na Terra
por Thiago Zanetti em 07/11/2025 • Você e mais 130 pessoas leram este artigo Comentar
Tempo de leitura: 6 minutos
Quando participamos da Santa Missa, muitas vezes não percebemos a grandeza do mistério que se desenrola diante de nós. O que os olhos veem é simples: um altar, um sacerdote, algumas orações. Mas a fé nos revela algo infinitamente maior: na Liturgia, o Céu toca a Terra. Cada celebração é um verdadeiro encontro entre o humano e o divino, entre o tempo e a eternidade.
Como ensina o Catecismo da Igreja Católica (n. 1090):
“Na Liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrino, caminhamos. Lá, Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro.”
Essa afirmação mostra que, quando a Igreja celebra, não o faz sozinha: o próprio Cristo celebra conosco.
1. A Liturgia: obra de Cristo e da Igreja
A palavra “Liturgia” vem do grego leitourgía, que significa “obra pública” ou “serviço em favor do povo”. No contexto cristão, ela é o serviço que Cristo presta ao Pai em favor da humanidade. O Catecismo (n. 1069) explica: “Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa redenção.”
Assim, a Liturgia não é invenção humana, mas participação na própria oração de Cristo. Por isso, a Missa é muito mais do que um símbolo ou lembrança: é a atualização sacramental do sacrifício redentor de Jesus. No altar, o mesmo Cristo que morreu e ressuscitou se oferece novamente ao Pai, de modo incruento, para a nossa salvação.
Como afirma o Concílio Vaticano II (Sacrosanctum Concilium, n. 7):
“[…] qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja”.
2. O Céu que desce à Terra
Durante a Liturgia, o tempo terreno se abre para a eternidade. O altar torna-se o trono de Deus, e o templo, um reflexo do Céu. A Missa é o lugar onde o que é visível se une ao invisível, e o que é humano se associa ao divino.
Na visão do Apocalipse (cf. Ap 4–5), São João descreve a Liturgia celeste: anjos, incensos, cânticos e o Cordeiro imolado no trono. A Liturgia da Igreja é a antecipação dessa realidade eterna. O Catecismo (n. 1090) reforça:
“Na liturgia terrena, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos.”
Isso significa que, cada vez que participamos da Missa, não estamos apenas num rito terreno, mas unidos aos santos e aos anjos em adoração ao Cordeiro. A Igreja visível e a Igreja celeste celebram juntas, num só louvor.
3. O altar: ponto de encontro entre o divino e o humano
O altar é o centro da Liturgia, o lugar onde se realiza o mistério da Eucaristia. Ele representa o próprio Cristo — ao mesmo tempo vítima e sacerdote. É ali que o Céu e a Terra se encontram de modo mais profundo.
Durante a Oração Eucarística, quando o sacerdote invoca o Espírito Santo e pronuncia as palavras da consagração, o pão e o vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Nesse instante, o invisível se faz presente, e o Eterno entra no tempo.
O Papa Bento XVI, em Sacramentum Caritatis (n. 8), escreveu:
“Na Eucaristia, revela-se o desígnio de amor que guia toda a história da salvação (Ef 1, 9-10; 3, 8-11). Nela, o Deus-Trindade (Deus Trinitas), que em Si mesmo é amor (1 Jo 4, 7-8), envolve-Se plenamente com a nossa condição humana”.
Essa é a beleza da Liturgia: ela nos insere no dinamismo do amor trinitário. O Pai recebe o sacrifício do Filho, e o Espírito Santo o torna presente e eficaz em nós.
4. A beleza litúrgica revela a glória de Deus
A Liturgia também é o lugar onde a beleza fala de Deus. O canto, as vestes, os gestos, o incenso e a luz não são meros adornos: são sinais que revelam a glória do Criador. O Papa Francisco, na exortação Desiderio Desideravi (n. 22), recorda que:
“A contínua redescoberta da beleza da Liturgia não é a procura de um esteticismo ritual que se compraz apenas no cuidado da formalidade exterior de um rito ou se satisfaz com uma escrupulosa observância rubrical”.
Por isso, a Igreja cuida com tanto zelo de cada detalhe litúrgico. Tudo tem um significado. O silêncio prepara o coração; o canto eleva a alma; a luz simboliza a presença de Cristo ressuscitado. A Liturgia fala uma linguagem simbólica que envolve o corpo e o espírito, conduzindo-nos à adoração.
Participar da Liturgia com fé é deixar-se tocar por essa beleza que salva, é entrar num espaço onde Deus se comunica não apenas por palavras, mas por sinais visíveis do seu amor invisível.
5. A participação ativa: viver o Céu aqui e agora
O Concílio Vaticano II insistiu na participação ativa dos fiéis na Liturgia — o que significa participar com o coração, com atenção, com fé e com vida. Estar na Missa não é assistir a algo, mas unir-se a Cristo em sua oferenda ao Pai.
O Papa São João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia (n. 11), afirma:
“O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é « fonte e centro de toda a vida cristã. Com efeito, « na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo.”
Quando compreendemos isso, a Liturgia deixa de ser rotina e se torna encontro. Cada Missa é um Pentecostes, um novo início, um toque de eternidade em nossa história.
6. Viver o que se celebra
O mistério celebrado deve transbordar na vida. A Liturgia não termina no “Ide em paz”, mas continua nas ações diárias. O que vivemos no altar precisa ser levado ao mundo. Assim, o cristão se torna extensão da Liturgia, testemunha viva do amor que adorou.
A Sacrosanctum Concilium (n. 10) declara:
“[…] a Liturgia é simultâneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força.”
Por isso, quem participa verdadeiramente da Liturgia é chamado a viver como reflexo do Céu na Terra.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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