Evangelização

Como anunciar o Evangelho na era da inteligência artificial

por Thiago Zanetti em 24/09/2025 • Você e mais 231 pessoas leram este artigo Comentar


Compartilhar:




Tempo de leitura: 6 minutos

A missão de evangelizar, confiada por Cristo à sua Igreja, permanece a mesma: anunciar o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). No entanto, os meios para cumprir essa missão mudam conforme os tempos. Hoje, estamos imersos em uma cultura digital marcada por algoritmos, inteligência artificial e conectividade constante. Nesse novo contexto, a pergunta que se impõe é: como a Igreja pode evangelizar de forma eficaz na era da inteligência artificial?

Este artigo oferece uma reflexão sobre os desafios e oportunidades da evangelização com inteligência artificial, trazendo orientações à luz da fé católica e dos documentos do Magistério.

A revolução da IA e o impacto na comunicação humana

Vivemos em uma sociedade moldada por dados e algoritmos. Plataformas como Google, YouTube, Instagram, TikTok e ChatGPT utilizam inteligência artificial para organizar, recomendar e gerar conteúdos com base em padrões de comportamento. Isso tem transformado profundamente a maneira como as pessoas acessam informações, formam opiniões e tomam decisões.

A evangelização, por sua vez, também é comunicação. E, nesse novo ambiente, quem não compreende os algoritmos e a dinâmica das redes, corre o risco de falar para ninguém. A missão da Igreja precisa, portanto, aprender a navegar nesses territórios digitais, sem perder a essência da mensagem nem se render à lógica do mundo.

O que a Igreja tem dito sobre IA e evangelização?

A Santa Sé tem demonstrado crescente interesse pelo tema da inteligência artificial. O Papa Francisco, em várias ocasiões, destacou a importância de um uso ético, humanizado e a serviço do bem comum.

Em seu discurso no G7 sobre Inteligência Artificial (14 de junho de 2024), o Papa afirmou:

“Diante dos prodígios das máquinas, que parecem saber escolher de maneira independente, devemos ter bem claro que ao ser humano deve sempre permanecer a decisão. Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança, se tirássemos das pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre sua vida, condenando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana.” (Papa Francisco, Discurso ao G7, 14/06/2024)

Além disso, o Vaticano tem promovido encontros e declarações conjuntas com líderes tecnológicos, como a “Rome Call for AI Ethics”, reafirmando que a dignidade humana deve estar acima dos interesses mercadológicos.

Desafios da evangelização com inteligência artificial

A IA, quando mal utilizada, pode gerar problemas sérios:

  • Bolhas ideológicas e polarização, ao alimentar os usuários apenas com conteúdos que confirmam suas crenças.
  • Desinformação religiosa, com a proliferação de conteúdos distorcidos ou falsos sobre fé e moral.
  • Superficialidade espiritual, ao transformar conteúdos sagrados em fragmentos virais ou entretenimento.

Diante disso, a evangelização precisa de discernimento. Não basta “estar na internet” ou “usar IA”. É preciso formar missionários digitais conscientes, que saibam equilibrar estratégia e espiritualidade, tecnologia e teologia, alcance e profundidade.

Oportunidades para a missão: como usar a IA para evangelizar melhor?

Apesar dos desafios, a inteligência artificial pode ser uma grande aliada da Igreja, se utilizada com sabedoria. Eis algumas possibilidades concretas:

1. Criação de conteúdo evangelizador com apoio da IA

Ferramentas como o ChatGPT podem ajudar padres, catequistas e leigos a:

  • Criar roteiros de vídeos, podcasts e homilias.
  • Produzir textos explicativos sobre doutrina, liturgia e vida dos santos.
  • Gerar ideias para evangelização nas redes sociais.

Importante: o conteúdo gerado por IA deve sempre passar por revisão humana e eclesial para evitar erros doutrinários.

2. Alcance inteligente com algoritmos

Ao entender o funcionamento dos algoritmos, evangelizadores podem:

  • Distribuir melhor seus conteúdos, alcançando pessoas que precisam ouvir a Palavra.
  • Usar palavras-chave estratégicas para aparecer em buscas relacionadas à fé.
  • Criar títulos atrativos, sem cair em exageros ou fake news.

3. Pastoral da escuta com inteligência artificial

Bots de conversa e aplicativos com IA podem auxiliar na escuta pastoral:

  • Respondendo dúvidas frequentes sobre a fé.
  • Indicando passagens bíblicas, documentos da Igreja e orações.
  • Encaminhando fiéis para grupos, missas ou direção espiritual.

Longe de substituir o pastor, essas ferramentas podem estender sua presença para além das barreiras físicas.

A missão continua: algoritmos não convertem, mas podem ajudar

É essencial lembrar: quem converte é o Espírito Santo, e não uma ferramenta. A inteligência artificial é apenas meio, não fim. Nenhuma tecnologia substitui a presença real da Igreja, a vida sacramental, o testemunho cristão e o anúncio direto do Evangelho.

O que a IA pode oferecer é alcance, agilidade, personalização e apoio logístico. Mas a fé nasce do encontro, da graça e da verdade — e isso permanece como mistério sobrenatural.

Evangelizar com sabedoria na era da IA

Evangelizar na era da inteligência artificial exige ousadia, criatividade e profundo enraizamento na fé. A Igreja está chamada a discernir os tempos (cf. Mt 16,3) e a usar com responsabilidade os novos meios para levar o Evangelho a todos, sem jamais reduzir sua mensagem ao ritmo das máquinas.

Nas palavras do Papa Francisco:

“(…) nenhuma inovação é neutra (…) O mesmo se aplica aos programas de inteligência artificial. Para que estes sejam instrumentos de construção do bem e de um amanhã melhor, devem estar sempre orientados ao bem de cada ser humano. Devem ter uma inspiração ética.” (Papa Francisco, Discurso ao G7, 14/06/2024)

Que saibamos, com humildade e sabedoria, usar os algoritmos como pontes e não como muros, e que cada post, cada vídeo, cada linha de código sirva para que Cristo seja conhecido, amado e seguido em todos os cantos — inclusive nos digitais.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




Compartilhar:



Voltar para artigos

Artigos relacionados: