Evangelização

Sexo no matrimônio não serve apenas à procriação, mas também ao fim unitivo, diz “Una caro”

por Thiago Zanetti em 05/12/2025 • Você e mais 348 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 6 minutos

Quando se fala sobre o papel da sexualidade no casamento à luz da fé cristã, muitas vozes – até dentro da própria Igreja – tendem a destacar primariamente a dimensão procriativa: a transmissão da vida. A recente nota doutrinal Dicastério para a Doutrina da Fé, intitulada “Una caro (uma só carne). Elogio à monogamia”, publicada em 25 de novembro de 2025, retoma um ponto essencial que às vezes fica ofuscado: o ato conjugal não serve apenas à procriação, mas é também fundamentalmente unitivo, reforçando a união, a intimidade e a pertença recíproca entre os cônjuges.

O que diz Una caro (uma só carne) sobre a finalidade unitiva do sexo

No texto, o Dicastério afirma explicitamente que a “questão é intimamente ligada ao fim unitivo da sexualidade, que não se reduz a garantir a procriação, mas ajuda ao enriquecimento e ao fortalecimento da união única e exclusiva entre os cônjuges”. 

O documento não trata o casamento apenas como instituição reguladora da procriação. Ele atribui prioridade à “unidade” do matrimônio – ou seja, à união exclusiva e recíproca entre um homem e uma mulher, com consentimento livre, doação mútua, e “appartenenza reciproca” (pertencimento recíproco). 

Segundo Una caro (uma só carne), o sexo conjugal, vivido no contexto desse casamento monogâmico e comprometido, contribui para que os cônjuges se tornem “uma só carne” – expressão bíblica que aponta a união profunda, corporal e espiritual, de duas pessoas. 

O documento destaca que essa comunhão de vida inclui “caridade conjugal”, amizade conjugal, ajuda mútua, partilha da vida – ou seja, toda a dimensão relacional, afetiva, existencial. Não se trata de mera funcionalidade de gerar filhos, mas de viver uma vida em comum, com entrega, intimidade, comunhão de corpo e alma, consciência de pertencimento mútuo. 

Por que a Igreja reforça essa visão agora

De acordo com o texto da nota, vivemos num “contexto global de desenvolvimento do poder tecnológico” que estimula o indivíduo a se imaginar sem limites, e que tende a relativizar o valor de um amor exclusivo, reservado a uma única pessoa. 

Diante de crescentes tentativas de dissolução da monogamia tradicional – seja via poligamia, seja via poliamor – Una caro (uma só carne) propõe recuperar a “riqueza” da vocação matrimonial: um vínculo único, exclusivo, recíproco, onde a sexualidade não é vista como um direito isolado, ou como mero consumo, mas como expressão de dom, entrega e pertença. 

Ao reafirmar o valor do “pertencimento recíproco” e da “caridade conjugal”, a nota pretende oferecer às novas gerações – jovens, noivos e casais – um olhar renovado sobre a união conjugal, que vá além da funcionalidade de gerar filhos e abrace a comunhão total de vida: corporal, espiritual, existencial. 

Implicações práticas para os casais

  1. Sexo como comunicação de amor e intimidade profunda
    No matrimônio cristão, o ato sexual não deve ser visto apenas como meio de gerar descendência. Ele é linguagem do corpo, expressão da união afetiva e espiritual entre marido e esposa – reforçando o sentimento de “nós”, de pertencimento mútuo, de doação total.

  2. Valorização da fidelidade e da exclusividade conjugal
    A “unidade” conjugal, conforme descrita no documento, exige que a intimidade sexual pertença exclusivamente ao casal. Esse contexto de exclusividade é condição para que o ato conjugal expresse dignamente a totalidade da doação e do pertencimento.

  3. Relação sexual como parte da “caridade conjugal”
    Sexualidade e espiritualidade caminham juntas no casamento. A intimidade conjugal contribui para uma amizade profunda, uma comunhão existencial, uma ajuda mútua na vida cotidiana. A sexualidade, assim, não é vista como fim em si mesma, mas como expressão do amor conjugal, vivido em reciprocidade e entrega.

  4. Contra a mentalidade do sexo-consumo e relativização da união
    Em uma cultura marcada pelo individualismo e pelo consumo, seja de bens, seja de experiências, a nota alerta para o risco de tratar o sexo como um “direito” isolado, dissociado da doação integral e da unidade conjugal. A vocação matrimonial é apresentada como algo mais alto, mais amplo: uma união de vidas, de destinos, de corpo e alma.

Conclusão

A nota Una caro (uma só carne) reafirma com clareza aquilo que a tradição cristã sempre ensinou, mas que em muitas circunstâncias era menos enfatizado: a sexualidade no matrimônio não existe apenas para gerar filhos. O ato conjugal tem uma função unitiva, profunda e existencial.

Sexo no casamento cristão é expressão de um “pertencimento recíproco”, de uma comunhão de vida, de uma doação que une corpo, alma, sonhos, lutas, esperanças. É reafirmar a beleza de ser “uma só carne” – não apenas para gerar, mas para amar, pertencer, edificar juntos uma vida com sentido, com fidelidade, com entrega.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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