Transfiguração do Senhor, Festa
Antífona de entrada
Vernáculo:
Meu coração vos disse: Busquei a vossa face, é vossa face, Senhor, que eu procuro. Não desvieis de mim o vosso rosto! (Cf. MR: Sl 26, 8-9) Sl. O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? (Cf. LH: Sl 26, 1a)
Coleta
Ó Deus, na gloriosa Transfiguração de vosso Filho Unigênito, confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias e mostrastes de modo admirável a plenitude da nossa adoção de filhos; concedei a nós, vossos servos e servas, que, ouvindo a voz do vosso próprio Filho amado, mereçamos ter parte em sua herança. Ele, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Quando esta festa é celebrada no domingo, diz-se o Creio.
Primeira Leitura — Dn 7, 9-10. 13-14
Leitura da Profecia de Daniel
9Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos.
13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Ou:
Primeira Leitura — 2Pd 1, 16-19
Leitura da Segunda Carta de São Pedro
Caríssimos, 16não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. 17Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer”. 18Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo. 19E assim se nos tornou ainda mais firme a palavra da profecia, que fazeis bem em ter diante dos olhos, como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 96(97), 1-2. 5-6. 9 (R. 1a. 9a)
℟. Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
— Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, que se apoia na justiça e no direito. ℟.
— As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória. ℟.
— Porque vós sois o Altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses. ℟.
℣. Eis meu Filho muito amado, nele está meu bem-querer, escutai-o, todos vós! (Mt 17, 5c) ℟.
Evangelho — Lc 9, 28b-36
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 28bJesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. 29Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante.
30Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. 31Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. 33E quando estes homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
Pedro não sabia o que estava dizendo. 34Ele estava ainda falando, quando apareceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Os discípulos ficaram com medo ao entrarem dentro da nuvem. 35Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”36Enquanto a voz ressoava, Jesus encontrou-se sozinho. Os discípulos ficaram calados e naqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Gloria et honore coronasti eum: et constituisti eum super opera manuum tuarum, Domine. (Ps. 8, 6. 7)
Vernáculo:
Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes. (Cf. LH: Sl 8, 6. 7)
Sobre as Oferendas
Senhor, santificai os dons que apresentamos na gloriosa Transfiguração do vosso Filho Unigênito e purificai-nos das manchas do pecado com o esplendor de sua luz. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dentre os mortos. (Cf. Bíblia CNBB: Mt 17, 9)
Depois da Comunhão
Senhor, nós vos pedimos: o alimento celeste que recebemos nos transforme na imagem de Cristo, cujo esplendor quisestes revelar na sua gloriosa Transfiguração. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 06/08/2025
O que nos revela a Transfiguração de Cristo?
Manifestam-se na Transfiguração do Senhor dois milagres: a visão da luz de sua glória, a redundar em seu corpo, e a visão de sua insondável humildade, pela qual Ele quis ocultar sua própria grandeza, a fim de nos salvar por sua carne.
Ao celebrarmos a Transfiguração do Senhor, celebramos o mistério da Encarnação. Jesus, como diz a Carta de São Paulo aos filipenses, no capítulo 2, “embora fosse Deus”, igual a Deus em tudo, “não se apegou a esta majestade divina, mas esvaziou a si mesmo e assumiu a forma de servo”, ou seja, a nossa forma miserável de sermos humanos.O que acontece é que, se Deus se une à nossa humanidade, o efeito imediato desta realidade chama-se glória. Isto é uma coisa evidente: se Deus tomou para si uma humanidade em união hipostática, o que é espantoso não é que Jesus resplandeça e mostre toda a sua glória no Monte Tabor (como nós celebramos hoje); o espantoso é que Ele não se apresente assim desde o começo! Por quê? Porque, é evidente, Deus se uniu a uma natureza humana, a um corpo e a uma alma, o que é razão de grande glória.Ora, vamos entender isso. Se você pega um pedaço de ferro enferrujado e une-o ao fogo ardente e abrasador, é evidente que o ferro derrete e fica parecendo fogo. Não é isso? Existe a transformação do ferro: o ferro, ao invés de assumir a natureza de ferro, parece assumir a natureza de fogo. Então, assim é Deus: se uma humanidade se uniu a Deus, ela passa a ser gloriosa! Mas por amor a nós, Jesus quis que isto fosse contido, e Ele, apesar desta união divina, profunda, misteriosa e insondável, pudesse viver uma vida de servo, uma vida como a nossa; por amor a nós, viver uma vida como a nossa: sentir fome, sentir sede, ficar cansado, precisar dormir. Jesus é a encarnação do Deus de amor que, para nos levar ao estado de glória que Ele manifesta no Tabor, assume o estado de miséria de Adão na sua natureza decaída, rebaixada pelo pecado. Jesus é igual a nós em tudo, exceto no pecado.O que quer dizer “igual a nós em tudo”? Quer dizer o seguinte: igual a nós em tudo, inclusive em certas misérias que decorreram do pecado, ou seja, a nossa situação de dor, nossa situação de fragilidade. Deus tinha outro projeto para Adão. Deus pensou que o homem, embora sendo uma criatura mortal, pudesse viver alguns dons acima de sua natureza, para além da sua natureza (os chamados dons preternaturais): por exemplo, não morrer, não sentir dor, não ter de se cansar com o suor do seu rosto. Com o pecado, Adão perdeu todas essas coisas, como relata o livro do Gênesis.Pois bem, Jesus assume a nossa humanidade nesta fragilidade e vem até nós; mas para que os seus Apóstolos Pedro, Tiago e João não fiquem escandalizados quando o virem desfigurado no Getsêmani, desfigurado na cruz, Ele se mostra aqui transfigurado, mostra a verdade, a verdade, como Ele diz claramente no evangelho de São João: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente”. Ou seja: Deus permitiu que Jesus vivesse toda aquela miséria, toda a dor da crucifixão; Deus quis isso livremente por amor a nós.Há quem pense que isso diminuiu a humanidade de Cristo e torna essa humanidade menos “autêntica”. Porém, basta pensarmos qual forma de amor é maior: quando você sofre uma coisa que é inevitável (por exemplo, uma dor de dente em que nada se pode fazer), ou quando você sofre de modo voluntário e livre, dizendo: “Eu não precisava estar sofrendo isso, mas por amor a você, estou vivendo isso”. Assim percebemos que cada pequeno gesto de fragilidade humana de Nosso Senhor Jesus Cristo se torna um gesto livre e salvífico, de amor grandioso! A Transfiguração ilumina o restante da vida de Cristo e nos mostra: Ele podia não ter sofrido, mas por nós homens e para a nossa salvação desceu dos Céus.
Deus abençoe você!
Santo do dia 06/08/2025
Transfiguração do Senhor (Festa)
Data: 06 de Agosto
A liturgia de hoje comemora a festa da Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dos Evangelistas é São Mateus que refere por minúcias esse fato admirável da vida de Nosso Senhor.
Os Santos Padres ocupam-se muito do mistério da Transfiguração de Nosso Senhor, principalmente São Crisóstomo, que escreveu coisas admiráveis sobre o mesmo assunto. O que se segue, são pensamentos daquele Santo Padre, como os propôs aos ouvintes, explicando o evangelho do dia de hoje.
Nosso Senhor, tendo falado muitas vezes da sua Paixão e Morte, profetizara aos Apóstolos perseguição e morte cruel; tendo-lhes dado mandamentos positivos e severos, quis mostrar-lhes a magnificência e glória com que voltará no fim do mundo, provar e revelar-lhes, já nesta vida sua majestade, para animá-los e confortá-los nas tristezas presentes e futuras.
São Mateus (17, 1-13) escreve, contando o fato da Transfiguração: "Seis dias depois, (isto é, depois da predição de sua Paixão e Morte) Jesus tomou a Pedro, Tiago e a João". Um outro Evangelista (Lc 9, 28) diz: "Oito dias depois". Não há contradição entre os dois, porque este conta o dia em que Jesus cursou perante os Apóstolos e o dia em que subiu o monte Tabor, quando São Mateus conta apenas os dias que estão entre estes dois fatos. Reparamos também a modéstia de São Mateus, que menciona os Apóstolos que mais do que ele, foram honrados por Nosso Senhor. Nesse ponto, segue o exemplo de São João, que minuciosamente refere os elogios com que Jesus distinguiu a Pedro.
Jesus tomou os chefes dos Apóstolos e levou-os a um monte, a sós. E transfigurou-se diante deles. Resplandeceu-se-lhe o rosto como o sol, e os vestidos tornaram-se brancos como a neve. Por que motivo Nosso Senhor levou só estes três Apóstolos? Porque ocuparam um lugar saliente entre os demais. Pedro salientava-se pelo amor a Jesus; João era o mais querido de Nosso Senhor e Tiago por causa da resposta que juntamente com o irmão dera ao Divino Mestre: "Nós beberemos o cálice". E não só por causa desta resposta, como também em virtude das suas obras, que provaram a verdade daquela asserção. Era tão odiado pelos judeus, que Herodes, para ser-lhes agradável, o mandou matar. Por que razão, disse Nosso Senhor aos Apóstolos: "Em verdade vos digo: alguns de vós aqui presentes não verão a morte, enquanto não tiverem visto o Filho do Homem em sua glória?" (Mt 16, 28). Com certeza para lhes estimular a curiosidade de ver aquela visão, da qual lhes falava e enchê-los do desejo de ver o Mestre rodeado da glória divina.
"Eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com Ele". Por que apareceram essas figuras do Antigo testamento? Há diversas razões que explicam esta circunstância. A primeira é esta: Porque entre o povo dizia-se que Jesus era Elias, Jeremias ou um dos profetas do Antigo testamento, ficar-lhes-ia patente a grande diferença que existia entre o servo do Senhor, e que bem merecido fora o elogio que coube a São Pedro, por ter chamado Filho de Deus a Nosso Senhor. Segunda razão: Repetidas vezes inimigos de Nosso Senhor o acusavam de blasfêmias, da pretensão de dizer-se Filho de Deus (Jo 9, 33). Estas acusações eram frequentes e como proviessem de inveja, quis Nosso Senhor mostrar que não transgredira a lei e nenhuma blasfêmia proferira, dizendo-se Filho de Deus. Para este fim, Jesus fez aparecer dois profetas de maior destaque. De Moisés era a lei, e não era admissível que justamente Moisés distinguisse com sua presença o transgressor da mesma que era Jesus Cristo, na opinião dos judeus. Elias, o grande zelador da honra de Deus, por seu turno, nunca teria honrado com sua presença a Jesus Cristo se este de fato não fosse o filho de Deus. Um terceiro motivo seria este: Aparece um profeta que morreu e um outro que não sofreu a morte. Esta circunstância devia fazer compreender aos discípulos, que seu Mestre é o Senhor da vida e da morte, e seu reino é no céu e na terra. Um quarto motivo, o próprio Evangelista menciona: Para mostrar a glória da cruz e para animar os pobres Apóstolos, na triste previsão de sofrimentos. Os dois profetas falaram da glória, que na cruz seria manifesta, em Jerusalém; (Lc 9, 31), isto é, da sua Paixão e Morte.
Se Nosso Senhor levou consigo estes três Apóstolos, foi também porque deles havia de exigir uma virtude mais apurada que dos outros. "Quem quer seguir-me, tome a sua cruz e siga-me". Os dois profetas do Antigo Testamento eram homens que, pela lei de Deus e pelo bem do povo, estavam sempre prontos a deixar a vida. Ambos, Elias e Moisés, usaram da máxima franqueza na presença de tiranos, este diante do Faraó, aquele diante de Achab; ambos se empenharam em favor de homens rudes e ingratos; ambos foram quais vítimas de malícia daqueles, a que mais benefícios dispensaram; ambos trabalharam para exterminar a idolatria entre o povo. Tanto um como o outro desprezavam a riqueza. Moisés e Elias eram pobres e viviam num tempo em que os grandes servidores de Deus não possuíam o dom de fazer grandes milagres. É verdade que Moisés dividiu as águas do mar; Pedro, porém, andou sobre as ondas, expulsou maus espíritos, curou muitos doentes e transformou a face da terra. É verdade que Elias ressuscitou um morto; os Apóstolos, porém, chamaram muitos mortos à vida, no tempo em que ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Jesus Cristo faz aparecer estes dois profetas, para apresentá-los aos discípulos, como modelos de firmeza e constância; como Moisés devem ser mansos e humildes; iguais a Elias, deviam ser zelosos e incansáveis; como ambos, prudentes e circunspectos. Elias passou fome durante três anos, por amor ao povo. Moisés disse a Deus: "Perdoai-lhes os pecados e exonerai-me ou se assim não quiserdes, extingui meu nome do vosso livro". Tudo isso Jesus faz lembrar aos Apóstolos mostrando-lhes, em misteriosa visão, a glória de Elias e Moisés.
Propondo-lhes Elias e Moisés como modelos, a imitação dos mesmos ainda não é o ideal, que Jesus Cristo quer ver nos Apóstolos. Quando estes disseram: "Senhor, se assim quiserdes, chamaremos fogo do céu, que destrua esta cidade", talvez assim falaram lembrando-se de Elias, que de tal forma procedeu. Jesus, porém, respondeu-lhes: "Não sabeis de que espírito sois". (Lc 9, 55). Queria assim ensinar-lhes que é melhor sofrer uma injustiça, quando se perceberam graças maiores. Não quer isto dizer que Elias não fosse santo e perfeito. Elias vivera num outro tempo, em que a humanidade, atrasada ainda na cultura, carecia de meios educativos mais fortes. O campo de ação dos Apóstolos não devia ser o Egito, a terra de Moisés, mas o mundo inteiro; não era ao Faraó que haviam de contradizer, mas aceitar a luta do demônio, o tirano da maldade, vencê-lo e desarmá-lo.
E não o conseguiram dividindo as águas do mar. A tarefa era, armando-se do ramo de Jessé, dividir as águas furiosas do oceano da impiedade. Reparemos bem as quantas coisas não amedrontaram os Apóstolos: a morte, privações e mil martírios não menos os intimidaram, que aos Judeus e o Mar Vermelho e as hostes de Faraó; mas Jesus, seu Mestre, levou-os a tal grau de perfeição que não hesitaram em aceitar tudo. Para torná-los capazes de uma missão tão difícil, apresentou-lhes os dois grandes heróis do Antigo Testamento.
"Senhor, bom é estarmos aqui", disse São Pedro a Jesus. Ouvindo as referências à Paixão e Morte do querido Mestre, o coração encheu-se de temor; mas desta vez, faltando-lhe a coragem de dizer: "Longe de ti estas coisas", formulou os receios nas palavras já mencionadas. O monte onde se achavam, bem longe de Jerusalém, já era a seu ver uma garantia; fazendo ainda três tendas para lá morar, dispensava perfeitamente a viagem a Jerusalém e removido o perigo do Mestre cair nas mãos dos inimigos. "Bom é estarmos aqui", com Elias, que chamou fogo sobre a montanha; com Moisés, que falou com Deus no cimo do monte - ninguém sabe que aqui estamos. Quem não descobre nestas palavras a profunda e sincera amizade de São Pedro ao Mestre? Os Evangelistas, referindo-se às palavras de São Pedro, dizem: "Não sabia o que falava, pois tão atônito de medo se achava" (Mc 9, 5 e Lc 9, 33).
Falando ainda, eis que uma nuvem os envolveu. Não era noite, era dia claro. A luz, o esplendor assombrava-os e atônitos caíram de rosto por terra. Qual foi a atitude de Cristo? Nem ele, nem Elias, nem Moisés, disseram coisa alguma. Mas da nuvem saiu a voz daquele que é a Verdade. Por que da nuvem? Porque Deus sempre fala da nuvem. "Rodeado está de nuvens e trevas" (Sl 96, 2). "O Filho do Homem vem entre as nuvens" (Dn 7, 13). Saindo a voz da nuvem, não lhes restava dúvida que era a voz de Deus.
E eis que uma uma voz do meio da nuvem disse: "Este é meu Filho muito amado, em quem me agradei; ouví-o". No monte Sinai, Deus publicou ameaças contra o povo. Aqui se via uma nuvem branca e lúcida. Pedro tinha falado em três tendas. Deus, porém, mostrou uma única tenda, não feita por mão de homem; daí a circunstância da aparição de uma luz claríssima e a audição de uma voz. Para não deixar dúvida sobre a pessoa em questão, Elias e Moisés desapareceram e a voz disse: "Este é meu filho muito amado". Se é Ele o amado, o medo de Pedro é infundado. Embora já devesse estar convencido da divindade do Mestre, embora não tivesse dúvida da sua futura ressurreição, Pedro ainda é vacilante em sua fé. Ouvindo agora a voz confirmante do Eterno Pai, deviam desaparecer-lhe os temores e as dúvidas. Se Ele é o Filho muito amado, o Pai não o abandonará. É seu amado, não só por ser seu filho, mas também por Lhe ser igual. "Nele achei meu agrado", quer dizer, pois: Ele é meu agrado, minha alegria, porque, como Filho, é igual ao Pai, é regido pela mesma vontade, é um com ele eternamente. Ouví-o.
Referência:
LEHMANN, Padre João Batista. Na Luz Perpétua. 2. ed. Juiz de Fora: Typ. do "Lar Catholico", 1935. 550 p. Volume II. Adaptações: Equipe Pocket Terço.