32º Domingo do Tempo Comum
Antífona de entrada
Vernáculo:
Chegue à vossa presença, Senhor, a minha oração; inclinai vosso ouvido à minha prece. (Cf. MR: Sl 87, 3) Sl. A vós clamo, Senhor, sem cessar, todo o dia, e de noite se eleva até vós meu gemido. (Cf. LH: Sl 87, 2)
Glória
Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso.
Nós vos louvamos,
nós vos bendizemos,
nós vos adoramos,
nós vos glorificamos,
nós vos damos graças
por vossa imensa glória.
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus,
Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo,
acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai,
tende piedade de nós.
Só Vós sois o Santo,
só vós, o Senhor,
só vós, o Altíssimo,
Jesus Cristo,
com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai.
Amém.
Coleta
Deus de poder e misericórdia, dignai-vos afastar de nós toda adversidade, para que, sem impedimento do corpo e do espírito, nos dediquemos com plena disposição ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura (1Rs 17, 10-16)
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias, 10Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”. 11Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”. 12Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. 13Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho, e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. 14Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ʽA vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até ao dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terraʼ”. 15A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. 16A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial (Sl 145)
℟. Bendize, minh'alma, bendize ao Senhor!
— O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. ℟.
— O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor faz erguer-se o caído; o Senhor ama aquele que é justo. É o Senhor quem protege o estrangeiro. Quem ampara a viúva e o órfão mas confunde os caminhos dos maus. ℟.
— O Senhor reinará para sempre! Ó Sião, o teu Deus reinará para sempre e por todos os séculos! ℟.
Segunda Leitura (Hb 9, 24-28)
Leitura da Carta aos Hebreus
Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio. 26Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
℣. Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. (Mt 5, 3) ℟.
Evangelho (Mc 12, 38-44 ou mais breve 12, 41-44)
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Marcos
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 38Jesus dizia, no seu ensinamento, à multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. [41Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.]
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Creio
Creio em Deus Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Às palavras seguintes, até Virgem Maria, todos se inclinam.
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém.
Antífona do Ofertório
Gressus meos dírige Dómine secúndum elóquium tuum: ut non dominétur omnis iniustítia, Dómine. (Ps. 118, 133)
Vernáculo:
Conforme a vossa lei firmai meus passos, para que não domine em mim a iniquidade! (Cf. LH: Sl 118, 133)
Sobre as Oferendas
Senhor, olhai com benevolência para o sacrifício que apresentamos, a fim de que participemos com amor do mistério da paixão do vosso Filho. Que vive e reina pelos séculos dos séculos.
Antífona da Comunhão
Ou:
Os discípulos reconheceram o Senhor Jesus na fração do pão. (Cf. Lc 24, 35)
Vernáculo:
O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha. (Cf. MR: Sl 22, 1-2)
Depois da Comunhão
Fortalecidos por este alimento sagrado nós vos damos graças, Senhor, e imploramos vossa clemência para que, pelo dom do Espírito Santo, perdure a graça da santidade naqueles que receberam a força do alto. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 10/11/2024
Minha pequena oferta diária
“Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver.” (Mc 12, 43-44)
Queridos irmãos e irmãs, a Igreja celebra o 32º Domingo do Tempo Comum. O Evangelho de hoje é o de Marcos, no qual basicamente podemos distinguir dois ensinamentos: o cuidado que deve ser tomado com os doutores da Lei e a oferta generosa da pobre viúva.
A atitude dos doutores da lei
Com relação aos doutores da lei, Jesus ensinava: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação” (Mc 12,38-40).
Os doutores da lei eram as pessoas qualificadas para ensinar a religião. Jesus denunciou sua atitude cheia de orgulho; eram amantes do prestígio e reconhecimento dos outros; avarentos, pois iam as casas das viúvas para extorqui-las de suas posses.
É a corrupção da pessoa religiosa, a pior, já que a corrupção do que é melhor é a pior. Deles Jesus também afirmou: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está bem longe de mim” (Mc 7).
Meus irmãos, também nós devemos tomar cuidado com esta tentação dos doutores da lei. Nós somos pessoas de fé e religião, conhecemos o Evangelho de Nosso Senhor, que nos foi transmitido pela Igreja, mas ninguém se engane: conhecer a verdade é muito importante e necessário, mas não é garantia de que vamos vivê-la. Precisamos de muita humildade na nossa vida, especialmente na nossa vida de fé e de comunidade.
A Humildade é a virtude que nos dá o justo conhecimento da nossa pequenez e miséria, principalmente em relação à Deus. Notemos que se trata do justo conhecimento, ou seja, se trata da nossa realidade, da verdade sobre nós mesmos, por isso dizia a grande Santa Teresa de Jesus, que a humildade é caminhar na verdade, ou seja, reconhecer a verdade, e a verdade é que nós somos pequenos, aliás, não somos nada e devemos reconhecer essa verdade, do contrário, caminhamos na mentira.
A oferta da viúva e a fidelidade às pequenas coisas
O que nós precisamos é ter a humildade e a generosidade da viúva. Vejam como Deus está atento a nossa simplicidade: “Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada” (Mc 12,41-42).
Deus está atento as nossas pequenas e sinceras ofertas de todos os dias; aquilo que aos olhos do mundo não conta, não vale nada: o trabalho de casa, a caridade oculta, o trabalho cumprido com exatidão, os pequenos sacrifícios, o silêncio diante da dor. Muitas vezes isso é pouco para nós, mas é tudo o que podemos oferecer em um ato intenso de amor. Dizia a Madre Teresa de Calcutá: “A santidade não está em fazer grandes coisas, mas em fazer grandes as pequenas”.
O que você está ofertando a Deus? Você está fazendo suas orações diárias? Está sendo fiel às práticas religiosas tão importantes no caminho de santidade?
Para ilustrar a importância dessas pequenas ofertas em nossas vidas, vamos refletir um pouco mais sobre a importância dos pequenos atos de virtude.
Conta-se que na época da Guerra das Duas Rosas (no ano 1485) o Rei Ricardo Terceiro da Inglaterra teve que enfrentar o seu rival Henrique, numa batalha em que jogava a sorte do Reino. Ricardo esperou à manhã do dia do combate para enviar um servo para verificar se o seu cavalo estava pronto.
O cavalo do rei tinha as ferraduras frouxas, mas como o ferreiro estava ferrando todos os cavalos do exército há muitos dias, pôde ajustar as três primeiras ferraduras, porém, descobriu que lhe faltava um prego para ajustar a quarta.
O rei preferiu partir com seu cavalo tal como estava. A batalha foi muito dura, nos campos de Bosworth. O rei encontrava-se no coração da batalha. Quando o sol começava a descer, o rei avistou alguns dos seus soldados que batiam em retirada. Ele quis galopar para chamá-los de volta à luta. Mas, antes de ter andado metade do caminho, a ferradura mal presa soltou-se e cavalo e cavaleiro deram no chão. Quando o rei conseguiu levantar-se, o cavalo já saíra em disparada e os inimigos fechavam o cerco em torno dele. Ali perdeu o reino e a liberdade. Desde então, o povo inglês diz um provérbio:
Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura;
por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo;
por falta de um cavalo, perdeu-se uma batalha;
por falta de uma batalha, perdeu-se um reino!
E tudo por falta de um prego!
Irmãos, assim é a vida: uma sucessão de pequenas coisas que podem terminar num desastre ou podem levar a um resultado feliz.
Os mandamentos de Deus não são coisas enormes. São, porém, pequenas coisas. As coisas de todos os dias. As coisas que todo o mundo pode fazer. Mas são os pregos da santidade. Por um prego perdeu-se um reino!
Por um prego perdeu-se uma ferradura, e finalmente todo um reino. Muitas pessoas começam a se perder em suas vidas fazendo não enormes pecados ou pecados horríveis, mas afastando-se das coisas pequenas. Tal vez as coisas mais fáceis de fazer: ir a Missa, ter paciência com as pessoas de sua família, rezar todos os dias, afastar-se dos maus amigos e das ocasiões de pecar. Mas acabam totalmente afastados de Deus.
Perguntemos aos dependentes químicos, como começou a sua queda na droga, a sua ruína moral; perguntemos aos alcoólatras como começou a sua escravidão; perguntemos aos casais separados como começaram seus problemas. Sempre por coisas pequenas. Coisas que podiam ser facilmente evitadas, mas depois foram se tornado mais e mais difíceis.
Fazer bem as pequenas coisas tem cinco vantagens, segundo São José Allamano:
1. Fazendo bem as pequenas coisas, ganhamos muito mérito;
2. Elas são fáceis de cumprir, porque são pequenas;
3. Cumprindo-as formamos bons hábitos;
4. Elas nos dispõem para fazer grandes coisas;
5. Com elas somos fiéis à vontade de Deus, porque por enquanto Ele só quer isso de nós, e não heroísmo todos os dias.
São Marcelino Champagnat era um homem muito prático. Uma vez o Irmão Lorenzo, que era uma pessoa muito simples, veio dizer-lhe que em uma comunidade próxima à sua, os irmãos, apesar de que eram bons, não viviam felizes, tinham as suas confusões e brigas. Então lhe pediu remédio para evitar tais problemas.
Marcelino lhe respondeu com um longo discurso no qual lhe dizia que para viver contente em uma comunidade, e para viver a felicidade da amizade, não serviam as grandes teorias, mas pequenas virtudes, e lhe enumerou a seguinte lista de pequenas virtudes:
1. Saber perdoar e desculpar com alegria o que nós não gostamos nos que vivem junto a nós.
2. Dissimular e fazer como quem não vê aquilo que os outros fazem mal e que às vezes apontamos para jogar na cara quando estamos zangados.
3. Ter um grande coração para ajudar a quem sofre ou passa mal.
4. Estar sempre alegres e contagiar a todos com a nossa alegria.
5. Saber ceder nas ideias e opiniões e não se fechar nelas.
6. Estar sempre disposto a dar uma mão, a colaborar nas coisas que os irmãos nos pedem.
7. Ser educado e respeitoso, e prestar a todos a devida atenção.
8. Ter muita paciência. Saber deixar as ocupações próprias para escutar os outros para ajudá-los.
9. Ser de bom caráter e evitar os momentos de aborrecimento, de tristeza ou de mau humor, conservando sempre um estado de ânimo alegre.
10. E pensar mais nos outros que em nós mesmos.
Meus irmãos, a santidade e a felicidade sobrenatural se constroem com detalhes. Sejam fiéis no pouco e Deus lhe confiará mais. Assim seja, amém.
No Evangelho deste domingo, “diante do cofre de esmolas” do templo, Nosso Senhor observa o gesto de “uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada” e comenta que ela deu “mais do que todos os outros que ofereceram esmolas”. Contemplando com o olhar de Cristo o coração dessa pobre mulher, vemos que o verdadeiro sacrifício que Deus nos pede não depende apenas daquilo que estamos oferecendo, mas da nossa atitude interior de entregar-se totalmente a Ele. Ouça a homilia do Padre Paulo Ricardo para este domingo e perceba que precisamos entregar absolutamente tudo a Deus, inclusive o nosso nada.
Santo do dia 10/11/2024
São Leão Magno (Memória)
Local: Roma, Itália
Data: 10 de † 461
Pouco se sabe sobre sua vida anterior ao pontificado. Fazia parte do clero da Igreja de Roma, provavelmente como diácono junto ao papa Sisto III, em cujo nome desempenhou várias missões delicadas.
Por ocasião da morte de Sisto III ele ainda se achava na Gália quando recebeu a notícia de que tinha sido eleito para a cátedra de São Pedro. Imediatamente depois de sua ordenação episcopal em 29 de setembro de 440, ele começou a desdobrar suas capacidades excepcionais de pastor e de governante.
Os tempos eram então muito conturbados. O Império Romano ocidental esfacelava-se ante as avalanches de invasores do norte europeu. Também a Igreja vivia agitada por questões internas, sobretudo de cunho doutrinal. Num século sentiu-se sacudida por quatro grandes heresias: o arianismo, o pelagianismo, o nestorianismo e o monofisismo, que deixaram feridas profundas. O nome do papa Leão está intimamente ligado à luta contra o monofisismo, heresia propagada pelo monge Êutiques, que sustentava haver em Cristo não duas naturezas, mas uma só, a divina, que teria absorvido em si a natureza humana. Negava-se assim o caráter plenamente humano de Jesus Cristo. Estando a par destas agitações doutrinárias no Oriente, Leão I dirigiu ao arcebispo de Constantinopla a célebre Carta Dogmática a Flaviano. Depois de muitos impasses nas discussões sobre o assunto, no concílio ecumênico reunido em Calcedônia em 451, os Padres conciliares ouviram a exposição da doutrina católica segundo a Carta Dogmática, exclamando após a leitura: "Pedro falou pela boca de Leão".
Quanto à questão da doutrina católica, o papa Leão interveio em muitos outros casos, junto aos bispos, nas mais diversas regiões, tanto no Ocidente como no Oriente. Leão Magno elevou o papado, fazendo brilhar o primado de Pedro. Sua voz na função de Pedro foi ouvida em toda a Igreja.
Marcante ficou também na história da Itália a atitude de Leão Magno frente aos invasores bárbaros. Ao saber que Átila, chefe dos hunos, invadira o norte da Itália, destruindo tudo a ferro e fogo, em 452, o Papa saiu-lhe corajosamente ao encontro, conseguindo que os invasores não prosseguissem sua marcha até Roma e que voltassem para a Panônia (Hungria). Em 455, outro chefe vândalo, Genserico, à frente dos hunos, depois de devastar o norte da África, desembarcou na Itália e entrou em Roma. Desta vez, o Papa conseguiu apenas que se poupassem as vidas e não se incendiasse a cidade. Nestas emergências, o bispo de Roma praticamente já estava agindo como um senhor territorial, tentando salvar o que restava do antigo Império Romano Ocidental.
Grande foi a atuação do papa Leão como chefe espiritual da cristandade e de sua querida cidade de Roma. Pela oração, pelo exemplo e, sobretudo, por seus sábios escritos, concorreu para consolidar a disciplina eclesiástica, elevar os costumes do povo, conservar a ortodoxia da fé e aperfeiçoar o culto litúrgico, em todo o Ocidente. Célebres ficaram seus sermões ou homilias, proferidos nas solenidades do Ano litúrgico. Destes sermões se conservam 96 autênticos, junto com 143 cartas; são documentos preciosos para a história e o dogma. Seus sermões e suas cartas tiveram grande influência na elaboração dos textos litúrgicos dos diversos tempos e mistérios de Cristo celebrados durante o ano, particularmente sobre as orações e os prefácios dos mistérios da revelação do Verbo de Deus, o ciclo de Natal.
Mestre e mistagogo, centralizou sua missão no mistério de Cristo homem-Deus, professado na doutrina do Verbo encarnado, atualizado nas celebrações litúrgicas e testemunhado na vida: "cumprir nas obras o que é celebrado no sacramento". Naquela época, a função de pregar estava limitada aos bispos, e ele se aplicou a ela sistematicamente, instruindo os fiéis de Roma que ele pretendia transformar em modelo para outras igrejas. Nos seus sermões ou homilias encontramo-lo a enfatizar a prática da esmola e outros aspectos sociais da vida cristã e a expor os ensinamentos da Igreja Católica, especialmente os referentes à Encarnação. A seu nome se liga o fundo eucológico mais antigo do Missal romano. O primeiro Sacramentário da Igreja de Roma (livro do sacerdote presidente) foi, por séculos, atribuído a ele, o Sacramentário Leoniano, hoje, chamado Sacramentário Veronense.
O papa Leão faleceu no ano 461 e a posteridade brindou-o com o título de Magno, pois por muitas razões foi ele o mais insigne Papa anterior à queda do Império Romano Ocidental e o que por mais tempo dirigiu a Igreja Romana até aquele período.
A Oração coleta lembra a função de Leão Magno na defesa da Igreja fundada sobre a rocha inabalável dos Apóstolos. Que pelos méritos do papa São Leão ela permaneça firme na verdade e goze paz para sempre. A Oração sobre as oferendas realça a Igreja como o rebanho guiado por seus pastores. Que seus pastores sejam do agrado de Deus. A Oração depois da Comunhão também fala da Igreja de Deus. Que ela, conduzida pela mão poderosa de Deus, veja crescer a sua liberdade e conserve a integridade da fé. Portanto, a São Leão Magno se atribuem sobretudo a integridade da fé, a liberdade diante dos poderosos desta terra e o crescimento do rebanho na caridade.
As Antífonas do Benedictus e do Magnificat realçam a figura e a missão de Pedro, tornadas presentes no papa Leão. Num dos seus sermões natalinos o papa Leão comentava: Nosso Senhor, amados filhos, nasceu hoje como Salvador: alegremo-nos. Não pode haver tristeza quando nasce a vida... O Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que ele antes vencera. Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade, e, já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Pelo sacramento do Batismo te tornaste templo do Espírito Santo.
O Prefácio III do Natal do Senhor talvez possa resumir bem o que ensinou e viveu o papa Leão: Por ele (Jesus Cristo, Senhor nosso), realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova em plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade; ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Leão Magno, rogai por nós!