São Vicente de Paulo, Presbítero, Memória
Antífona de entrada
Vernáculo:
O justo florescerá como a palmeira; crescerá como o cedro do Líbano, plantado na casa do Senhor, nos átrios de nosso Deus. (Cf. MR: Sl 91, 13-14) Sl. Como é bom agradecermos ao Senhor, e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo! (Cf. LH: Sl 91, 2)
Coleta
Ó Deus, que, para o socorro dos pobres e formação do clero, enriquecestes o presbítero São Vicente de Paulo com as virtudes apostólicas, fazei-nos, animados pelo mesmo espírito, amar o que ele amou e praticar o que ensinou. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Zc 2, 5-9. 14-15a
Leitura da Profecia de Zacarias
5Levantei os olhos e eis que vi um homem com um cordel de medir na mão. 6Perguntei-lhe: “Aonde vais?” Respondeu-me: “Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e o seu comprimento”.
7Eis que apareceu o anjo que falava em mim, enquanto lhe vinha ao encontro um outro anjo, 8que lhe disse: “Corre a falar com esse moço, dizendo: A população de Jerusalém precisa ficar sem muralha, em vista da multidão de homens e animais que vivem no seu interior. 9Eu serei para ela, diz o Senhor, muralha de fogo ao seu redor, e mostrarei minha glória no meio dela. 14Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15aMuitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti”.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Jr 31, 10. 11-12ab. 13 (R. 10d)
℟. O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.
— Ouvi, nações, a palavra do Senhor e anunciai-a nas ilhas mais distantes: “Quem dispersou Israel, vai congregá-lo, e o guardará qual pastor a seu rebanho!” ℟.
— Pois, na verdade, o Senhor remiu Jacó e o libertou do poder do prepotente. Voltarão para o monte de Sião, entre brados e cantos de alegria afluirão para as bênçãos do Senhor: ℟.
— Então a virgem dançará alegremente, também o jovem e o velho exultarão; mudarei em alegria o seu luto, serei consolo e conforto após a guerra. ℟.
℣. Jesus Cristo Salvador destruiu o mal e a morte; fez brilhar pelo Evangelho a luz e a vida imperecíveis. (Cf. 2Tm 1, 10) ℟.
Evangelho — Lc 9, 43b-45
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 43btodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
In virtute tua Domine, laetabitur iustus, et super salutare tuum exsultabit vehementer: desiderium animae eius tribuisti ei. (Ps. 20, 2. 3)
Vernáculo:
Ó Senhor, em vossa força o rei se alegra; quanto exulta de alegria em vosso auxílio! O que sonhou seu coração, lhe concedestes; não recusastes os pedidos de seus lábios. (Cf. LH: Sl 20, 2. 3)
Sobre as Oferendas
O Deus, concedestes a São Vicente de Paulo a graça de imitar em sua vida o que celebrava nestes divinos mistérios; concedei-nos, pela força deste sacrifício, ser uma oferenda agradável aos vossos olhos. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Em verdade vos digo, vós, que deixastes tudo e me seguistes, recebereis cem vezes mais e tereis como herança a vida eterna. (Cf. MR: Mt. 19, 28. 29)
Depois da Comunhão
Senhor, refeitos pelos sacramentos celestes, nós vos pedimos humildemente que o exemplo e a proteção de São Vicente de Paulo nos ajudem a imitar o vosso Filho na evangelização dos pobres. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 27/09/2025
Cristãos desentendidos…
Naquele tempo, todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: “Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”.
O Evangelho de hoje é o segundo anúncio da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus, uma vez que os Apóstolos fizeram a sua profissão de fé através de Pedro, começa a ensinar-lhes que irá morrer em Jerusalém. Aqui nós estamos diante do segundo anúncio. Existe algo de especial neste anúncio segundo a versão de São Lucas. É o seguinte.Em primeiríssimo lugar, algumas coisas bem típicas do grego que dificilmente as traduções conseguiriam nos dizer, mas vamos tentar expressar. Jesus disse aos seus discípulos: “Prestai bem atenção às palavras que eu vou dizer”. O original grego é difícil de transmitir em português, mas a nova tradução da CNBB está um pouquinho melhor. Ela diz assim: “Gravai nos ouvidos esta palavra”. Ao pé da letra, o grego diz: “Recebei dentro dos ouvidos essa palavra”. Por quê? Porque o anúncio da Paixão, de alguma forma, chegou até os discípulos, mas não entrou, e por que não entrou? Porque muitas vezes nós só queremos compreender as coisas agradáveis.A maior parte das pessoas, quando a verdade lhes dói, prefere acreditar numa versão diferente da realidade, ou seja, numa mentira, naquilo que chamam hoje em dia de “pós-verdade” ou, na melhor hipótese, preferem esquecer o que ouviram. Jesus, aqui, como Mestre, sabe muito bem que os seus discípulos não estão ouvindo de verdade, então usa essa palavra “plástica” para dizer “colocar dentro”, “fazer entrar” nos ouvidos, porque não está entrando. Ele diz: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens” . O Evangelho, logo em seguida, diz: “Os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia e o sentido lhes ficava escondido” (ao pé da letra, “velado”), “de modo que não podiam entender”. Esse “não podiam entender”, no grego original, é um hápax legómenon (palavra que aparece uma única vez nas Sagradas Escrituras). É o verbo αἴσθωνται, que significa “entender”, mas, na sua raiz, é um verbo que quer dizer “perceber com os sentidos”.É um pouco a forma como os portugueses se expressam em Portugal. Nós brasileiros dizemos: “Ah, não entendi”. Os portugueses não dizem isso. Os portugueses dizem: “Não percebi” (de perceber as coisas). O verbo “perceber”, originalmente, tem a ver com os sentidos externos e somente numa segunda versão é que ele significa “entender com a inteligência”. É exatamente o que esse verbo grego é. Ou seja: “eles não percebiam o que Jesus estava dizendo”. Por que eu estou gastando todo esse tempo com gramática, grego e raiz de palavras? Pelo seguinte: eles não percebiam porque a coisa bate e volta, ou seja, não chega a entrar. É exatamente o que Jesus está dizendo: “Cave um buraco aí no seu ouvido e ouça! Você não está percebendo. A notícia não está nem sequer conseguindo entrar, porque vocês estão anestesiados”. A coisa está velada, encoberta por um véu de dormência, porque a verdade dói, e a verdade dolorosa que Jesus está querendo transmitir, e que nós precisamos hoje aprender, fazendo um lugar dentro de nós para nos livrar desse véu de dormência, é esta: nós temos de perceber que não há salvação sem cruz. “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. Ele está verdadeiramente indo a Jerusalém para se entregar em sacrifício de amor. Nós queremos o Cristo, mas não o queremos crucificado… Nós gostaríamos de simplesmente celebrar Jesus, um Deus de amor que venceu com a ressurreição… Mas a verdade cristã é uma páscoa, é morte e ressurreição, e não haverá vitória e ressurreição se não houver a morte na cruz. É exatamente essa a doença dos cristãos atuais.Esse Evangelho é enormemente oportuno porque, hoje como dois mil anos atrás, Jesus diz: “Coloquem dentro dos ouvidos de vocês essa verdade” — a cruz de Cristo, a cruz salvadora de Cristo —, e eles não entendem a coisa, coberta por um véu, mas é o véu do nosso egoísmo, o véu do nosso medo. Eles tinham medo de perguntar, eles não queriam nem sequer tocar no assunto para dizer: “Eu não estou entendendo”; na verdade, porque não queriam perceber aquilo que dói. A verdade vos libertará, mas ela não é necessariamente agradável. Haverá salvação para nós, sim, pela cruz e ressurreição.
Deus abençoe você!
Santo do dia 27/09/2025
São Vicente de Paulo, Presbítero (Memória)
Local: Paris, França
Data: 27 de Setembro † 1660
São Vicente de Paulo, o santo "gigante da caridade", deve ser situado no tempo do pós-Concílio de Trento, participando decisivamente da Contrarreforma católica na França do século XVII. Neste século a França se elevava à categoria de primeira potência na Europa. Apesar de ter sido o século de Luís XIV, o Rei Sol, foi na realidade também o século das grandes misérias: crianças abandonadas, prostituição, pobreza e ruínas ocasionadas por revoluções e guerras, além de ignorância religiosa das populações rurais e do estado lamentável de boa parte do clero.
Neste triste quadro da situação social e religiosa da França, Deus suscitou um grande apóstolo, um dos santos mais extraordinariamente fecundos na Igreja. Vicente, nascido em 1581, era natural de Pouy, aldeia próxima a Dax. Seus pais eram proprietários de um pequeno sítio. O pai, observando com satisfação as excelentes qualidades de espírito do filho, atendendo ao desejo de Vicente, fez os maiores esforços para lhe favorecer os estudos eclesiásticos. Estudou com os franciscanos em Dax, tornando-se membro da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis. Foi ordenado sacerdote em 1600 com apenas 19 anos, esperando que o estado eclesiástico fosse ocasião para afirmação social.
Vicente trabalhou nos primeiros anos de sacerdócio na pequena paróquia de Clichy, nas vizinhanças de Paris. Em Paris, Vicente travou conhecimento com o santo sacerdote Pedro de Bérulle, mais tarde cardeal. Bérulle tinha grande estima por Vicente e o persuadiu a que fosse o tutor dos filhos de Filipe de Gondi, conde de Joigny. Madame de Gondi ficou encantada com Vicente e o escolheu como seu diretor espiritual e confessor.
Aos poucos, porém, no meio de tantas misérias, seu espirito foi se abrindo para sua futura vocação de apóstolo e organizador de grandiosas obras sociais. É difícil sintetizar em poucas linhas a múltipla operosidade de São Vicente. Podemos destacar quatro campos ou quatro frentes de ação apostólica.
A evangelização dos agricultores: Pastor sensível aos problemas pastorais, deu-se com empenho à pregação nos meios rurais, onde grassava lamentável ignorância religiosa. Com um grupo de colaboradores, instituiu a Congregação da Missão com a qual procurou dar resposta a tal necessidade de evangelização. A primeira residência destes padres no priorado de São Lázaro, em Paris, os fará conhecidos popularmente como lazaristas. Às vezes, são chamados também de vicentinos.
A reforma do clero: Obra de grande importância foi a criação de seminários para a formação do clero, que ele promoveu com outros eclesiásticos do tempo. Seus padres lazaristas, além das missões populares, tornaram-se beneméritos por sua obra de direção de seminários, que desenvolverão, também no Brasil, desde o século XIX.
O serviço aos pobres: Com Santa Luísa de Marillac, Vicente enfrentará o problema da miséria, fundando a Sociedade das Filhas da Caridade, conhecidas popularmente como irmãs vicentinas. Com ela a assistência aos pobres tornou-se organizada. A Congregação Vicentina dedica-se ao serviço dos abandonados, dos órfãos, dos velhos, dos inválidos, das moças em perigo, dos doentes. Talvez seja esta a instituição cristã dedicada à pura prática da caridade de maior extensão na geografia e no tempo. Até hoje as Irmãs de Caridade trabalham em leprosários, orfanatos, hospitais, manicômios, escolas e asilos, continuando a presença de São Vicente. O livre acesso de São Vicente aos palácios dos grandes foi-lhe de imensa ajuda no seu apostolado. Ele sabia tirar do rico para dar aos pobres, não pela força, mas pela persuasão.
Luta contra o jansenismo: Por fim, é preciso lembrar o empenho de São Vicente em opor um dique à triste corrente espiritual de seu século, o jansenismo, que com seu rigorismo e pessimismo resfriava a espiritualidade católica. Foi ele que convenceu muitos bispos franceses a apresentar ao Papa uma súmula das ideias corrosivas do jansenismo, condenadas depois pela Igreja.
São Vicente morreu no dia 27 de setembro de 1660. Seu nome continua vivo como padroeiro das obras de caridade. O grande apóstolo foi canonizado pela Igreja como um santo que levou a sério a mensagem cristã de que o amor a Deus e o amor ao próximo andam de mãos dadas.
As orações da Missa relacionam São Vicente, sobretudo, com a evangelização dos pobres. A Antífona da entrada canta: Repousa sobre mim o Espírito do Senhor; ele me ungiu para levar a boa-nova aos pobres, e curar os corações contritos (cf. Lc 4,18).
A Oração coleta comemora o socorro dos pobres e a formação do clero praticados por São Vicente, enriquecido pelas virtudes apostólicas.
A Oração sobre as oferendas recorda o espírito com que São Vicente celebrava os sagrados mistérios. Lembra, indiretamente, o trabalho de Vicente na renovação do Clero. Que os sacerdotes vivam de acordo com os mistérios que celebram.
A Oração depois da Comunhão recorda novamente a pregação do Evangelho aos pobres: Ó Deus, alimentados por esta Eucaristia, nós vos pedimos que, a exemplo de São Vicente e amparados por sua proteção, imitemos o vosso Filho na pregação do evangelho aos pobres.
Em conclusão, a força da mensagem evangélica de São Vicente de Paulo é imensa. Foi, realmente, uma testemunha do Cristo Senhor. Ele soube unir ação e oração, o amor a Deus e o amor ao próximo.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Vicente de Paulo, rogai por nós!